Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nosso rádio precisa de democracia

Levando-se em conta que o rádio é uma concessão pública, é oportuno lembrar que a situação deste meio de comunicação na atualidade está muito aquém do sentido de uma comunicação democrática que leve os seus usuários a participarem ativamente de um processo comunicativo em que todos sejam artífices de uma nova ótica de comunicação e o povo seja ouvido, respeitado e, sobretudo, valorizado. O rádio precisa ser democrático, precisa aceitar críticas, precisa ter reciclagem e tem de ser aberto aos reclames da comunidade empregando em suas programações o reclame do povo e a voz das ruas. Que rádio faz isso? Por que a comunidade não tem espaço no rádio?

A situação antidemocrática do rádio na atualidade é reforçada pelo poder econômico, pois a prática de arrendamento inviabiliza a participação do radialista afinado com a necessidade de uma programação produzida afinada com o povo e que aceite as opiniões dos que são usuários deste meio. O rádio cearense, e quase todos os outros que estão presentes em todos os estados, não tem a cara do povo, pois vem sendo instrumentalizado pelo poder político e pelos grandes grupos religiosos que tomam conta das rádios e fazem ao seu bel-prazer sem ouvir o povo nem cumprir os verdadeiros propósitos da comunicação radiofônica.

Neste momento é oportuno lembrar que há, sim, grupos que lutam pela comunicação democrática. No entanto, sua pouca força faz com que sua voz seja desvalorizada, bloqueada e se transforme em objetos de zombarias e descrédito por quem faz a comunicação. Um exemplo disto é que, ao criarmos em Fortaleza, Ceará, a Associação de Ouvintes de Rádio, fomos objeto de censura prévia, críticas e ridicularização nos bastidores e nas comunicações do rádio. Claro que nossos propósitos eram claros no sentido de valorizar o rádio sério e cidadão. No entanto, sabemos que para muitos isso não é a necessidade do rádio hoje. Temos exemplos claros de que nosso rádio é antidemocrático, sim; há rádios em Fortaleza que gastam grande parte de sua programação ouvindo os ‘doutores’ e reservam minguados minutos para a participação do ouvinte. Tal situação não vem sendo vista por ninguém do meio rádio o que faz com que muitos acabem desligando seu radinho ou preferindo outras mídias que muitas vezes são bem mais democráticas.

Quem se habilita?

O rádio de hoje é pautado, infelizmente, pela lógica do lucro e fala no rádio quem tem mais, o que provoca uma comunicação deslocada dos que precisam ter conhecimento da realidade indo além dos interesses dos políticos e dos grupos religiosos de plantão. Qual rádio fala da crise da educação, da falta de segurança, da dominação do crack em nossos jovens? Infelizmente, essa atuação do rádio vem sendo negligenciada, o que faz com que a maioria das rádios cearenses tenha falta de sintonia com o interesse do povo. Claro que esse problema não é típico apenas do rádio cearense, pois este meio em todo país tem dominação política e econômica e pouca relação com os interesses populares. Como mudar isso? Talvez a organização dos usuários e o apoio dos órgãos que regem o setor comunicativo e o próprio setor patronal sejam vitais para a mudança e transformação do rádio, que terá crise em breve caso não tenhamos uma mudança firme e necessária para um boa comunicação para todos.

O rádio precisa de investimentos, apoio e firmeza de propósitos para crescer e precisa aceitar as críticas de quem luta pela sua melhoria para crescer. Não é correto se fechar às críticas, pois a maioria dos que promovem um pouco de crítica tem o objetivo de promover o crescimento deste meio, que sempre será um dos mais importantes e acessíveis para todo povo e tem provado sua participação em toda história de um povo e por tudo isso precisa de sensibilidade para crescer e provar sua serventia e diante de toda a sociedade. Precisamos mudar, precisamos crescer, precisamos de mais amor à causa do rádio. Quem se habilita?

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE