1.
A ANJ não quer o Diarinho
A inexplicável e insustentável posição da atual diretoria da Associação Nacional de Jornais, de negar ao Diarinho o direito de associar-se a seus semelhantes, demonstra apenas visão estreita, preconceito e, por incrível que pareça, amadorismo.
Enquanto tantos jornais, no Brasil e no mundo, vêm sistematicamente perdendo leitores e fontes de sustentação econômica, o Diarinho, administrado por uma empresa enxuta, cumpridora das leis, boa pagadora de impostos, emprega mais de uma centena de pessoas e ainda cresce, ano a ano, na preferência dos leitores e dos anunciantes.
Poucos jornais, em Santa Catarina e no Brasil, podem apresentar os números que o Diarinho apresenta e ainda orgulhar-se de informar com independência e coragem, falando a linguagem que o povo fala, dizendo o que é preciso ser dito da forma como deve ser dito.
Mas este jornal não é bom o suficiente para a Associação de Jornais presidida, coincidentemente, pelo presidente do Grupo RBS, Nelson Sirotsky. E o mais intrigante é que não se sabe, na verdade, por que a ANJ não aceitou a filiação do Diarinho. E na ausência de informação, surgem as conjeturas: por que a ANJ permitiria a filiação de um jornal popular justamente no estado onde a RBS está lançando um jornal popular? Por que a ANJ permitiria a filiação de um jornal líder de vendas em sua região, se a RBS está aplicando alguns milhões de dólares para neutralizar seus concorrentes?
Claro que estas hipóteses soam como teorias conspiratórias fantasiosas e é possível que uma instituição com a respeitabilidade da ANJ não permita que os negócios do seu presidente contaminem as posições da associação. Mas… será mesmo tão improvável esse zelo de algum funcionário da ANJ, que sugeriu a não-aceitação baseado nos interesses das empresas do presidente e num difuso preconceito que muitos ainda têm contra jornais populares e contra o Diarinho em especial?
Quem perde
A atitude demonstra que a Associação Nacional de Jornais teme abordagens inovadoras do negócio jornal, se assusta com o sucesso e se recusa a conviver com linguagens e técnicas plurais. A ANJ, finalmente, demonstrou ser uma entidade preconceituosa, mesquinha e amadora ao negar, sem maiores explicações ou cuidados, o pedido de filiação do Diarinho.
Porque a ANJ, como Associação Nacional dos Jornais, deveria ter enxergado que, por trás da linguagem solta e coloquial que tanto abespinha os diretores da ANJ, existe uma empresa moderna, que tem compromissos muito mais sérios e profundos com a ética e com a verdade da informação que alguns tantos que posam de gravata para as fotografias mas que não passam de sepulcros caiados, em quem o leitor, razão primeira e última da existência de um jornal, não pode confiar e, em geral, não confia.
Assim, não é o Diarinho que perde por não ter sido aceito na ANJ. É a ANJ que perde a oportunidade de conhecer melhor a experiência vitoriosa e ímpar do único jornal catarinense realmente independente que cresce continuamente e já incomoda muita gente.
2.
A RBS comprou o jornal A Notícia, o último grande diário catarinense de circulação estadual. Empresa aparentemente saudável, não foi vendida por causa de dificuldades ou porque estivesse procurando investidores. Recebeu uma oferta irrecusável que, até o momento, não tenho idéia de quanto seja. Na minha coluna no Diarinho, transcrita abaixo, registrei o fato.A Notícia
Uma nota curta, publicada ontem no site do Grupo RBS informava que tinha sido concluída a compra do jornal A Notícia, de Joinville. A partir de 21 de setembro a RBS assume a gestão do jornal, em mais um capítulo das implacáveis leis de mercado, que levam a uma concentração crescente da propriedade.
O futuro do jornal é uma incógnita, mas deve seguir o mesmo caminho do Jornal de Santa Catarina, adquirido pela RBS há alguns anos: transformar-se num veículo comunitário, local. Pela simples razão de que, se continuar com circulação estadual, fará concorrência ao Diário Catarinense, principal jornal do grupo no estado.
Embora seja preocupante pelo que pode representar de estreitamento das opções de informação e redução de postos de trabalho, a compra nada tem de surpreendente.
No dia em que (na década de 70) o governo federal, com apoio do então governador Antônio Carlos Konder Reis, decidiu entregar a concessão da TV Catarinense, de Florianópolis, para o grupo gaúcho, preterindo o concorrente catarinense (do jornal O Estado), definiu-se o futuro da mídia impressa catarinense.
Ter a afiliada da TV Globo no estado significava, mais naquela época do que agora, ter uma fonte inesgotável de recursos, o virtual monopólio do mercado publicitário da mídia eletrônica. E com esse apoio manter e fazer crescer jornais era muito mais fácil.
E para os jornais que não dispunham desse complemento, a vida foi ficando cada vez mais complicada. O jornal O Estado mergulhou numa crise sem fim. E mesmo assim José Matusalém Comelli, seu proprietário, nunca aceitou as propostas da RBS.
O jornal A Notícia conseguiu manter-se, até onde sei, como uma empresa rentável e bem administrada. Mesmo tendo sido frustradas algumas tentativas de conseguir uma concessão de TV em Joinville, o grupo de A Notícia ainda cresceu e fez o jornal crescer e modernizar-se. Mas era uma questão de tempo, porque Joinville é um pólo econômico importante demais para que a RBS se conformasse em ficar de fora.
******
Jornalista (deolhonacapital.blogspot.com)