Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Novas questões sobre polêmica antiga

O tema de domingo [24/3/07] da coluna de Byron Calame, ombudsman do New York Times, foi mais uma vez o debate sobre o artigo polêmico publicado pelo diário em 2005 sobre Justin Berry, jovem, então com 18 anos, envolvido em pornografia online. O repórter Kurt Eichenwald teria descoberto Berry e o convencido a largar a indústria pornográfica, parar de usar drogas e se tornar um informante da polícia. Eichenwald, no entanto, teria se aproximado muito de sua fonte, o que levantou questões sobre ética jornalística.

Calame já havia tratado da relação do jornalista com sua fonte em coluna em 2006, na qual havia concluído que o repórter e os editores do NYTimes haviam tomado precauções extras para ter um equilíbrio adequado no caso. Mas o tema voltou ao debate recentemente porque o NYTimes reconheceu que Eichenwald teria ganhado a confiança do garoto pagando a ele US$ 2 mil em junho de 2005. Isto gerou um novo debate sobre ética em uma nota dos editores publicada no dia 6/3, na qual eles afirmaram que não sabiam que o repórter havia dado dinheiro a Berry.

Justificativas

Eichenwald, que em setembro de 2006 deixou o NYTimes e foi trabalhar na revista Portfolio, da Condé Nast, defendeu-se em um post no blog jornalístico Romenesko: ele teria enviado o dinheiro para o garoto não como jornalista, mas como cidadão, em um esforço para localizar e ajudar Berry – e teria pedido reembolso quando decidiu, no mês seguinte, que publicaria a história. ‘Eu deveria ter contado a meus editores. Mas a transação financeira escapou da minha mente quando a rotina de 18 horas de trabalho por dia, sete dias na semana, começou’, justificou.

O argumento de Eichenwald de não ter comunicado o fato a seus editores por considerar que estava agindo como um cidadão, e não como um repórter, não se justifica, afirma Calame. Segundo o ombudsman, jornalistas são livres para agir como cidadãos comuns, como doar dinheiro a instituições de caridade. Mas eles não podem fazer isto e escrever uma matéria sobre esta mesma instituição.

Apesar do debate sobre os limites éticos, três homens foram presos com a ajuda de Berry. Ironicamente, Eichenwald chegou a receber, em 2006, o prêmio Payne Award de ética em jornalismo, da Escola de Jornalismo e Comunicação da Universidade de Oregon, por ‘preservar a integridade editorial de uma matéria importante ao mesmo tempo em que ajudou a socorrer sua fonte’.

O papel dos editores

Como o repórter não faz mais parte da equipe do NYTimes, Calame focou sua coluna desta semana no debate sobre a performance dos editores ao lidar com todas as questões referentes ao caso. Segundo o ombudsman, como os editores foram enganados por Eichenwald, que não lhes informou sobre o pagamento, fica difícil responsabilizá-los pelo erro – ele deixa claro que o lapso ético está no fato do repórter não ter revelado a informação.

A verdade começou a vir à tona em janeiro do ano passado, quando o editor Lawrence Ingrassia questionou Eichenwald sobre um e-mail enviado pela mãe de Greg Mitchel, um dos ex-parceiros de Berry na rede de pornografia online. Ela argumentava que seu filho, que foi condenado a 150 anos de prisão, teria dito que Eichenwald lhe mandou milhares de dólares para que ele abrisse o negócio dos dois. Eichenwald negou que houvesse financiado a parceria de Mitchel e Berry e informou que os ‘milhares de dólares’ aos quais ela se referia se resumiam a um cheque de US$ 2 mil que ele havia enviado a Berry, e que teria sido devolvido posteriormente. Procurado por Calame, Ingrassia alegou não se lembrar do tal e-mail e disse que Eichenwald nunca lhe contou que teria feito favores ao jovem.

Os editores afirmam ter tomado conhecimento do cheque poucas semanas antes da mensagem, quando uma cópia do documento financeiro serviu como evidência em um julgamento sobre o caso em Michigan. De acordo com o advogado de Berry, Stephen M. Ryan, o jovem devolveu a quantia ao jornalista em setembro de 2005.