Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Novas táticas dos monopólios da informação

Os dirigentes norte-americanos dos conglomerados da mídia e seus aliados no Congresso invocam a diversidade de informação existente na internet para sustentar que as leis que regulamentam os meios de comunicação tradicionais (old media) se teriam tornado inúteis. ‘Como poderia qualquer tipo de conglomerado – argumentam –, inclusive os que detêm o jornal local, uma das quatro redes de televisão nacionais (NBC, CBS, ABC e Fox) [pertencentes, respectivamente, à General Electric, CBS, Disney e News Corporation (grupo de Rupert Murdoch)] e ainda oito emissoras locais, monopolizar o mercado da informação quando a internet oferece tantas opções aos consumidores?’, perguntam James Gattuso, pesquisador da Heritage Foundation (entidade de extrema-direita), chegou a defender que os tetos de concentração prejudicavam o público:

‘Muito além da questão de meios de comunicação potencialmente monopolistas, os consumidores enfrentam uma quantidade de opções sem precedentes e quase desconcertante. Para eles, a verdadeira ameaça nos dias de hoje reside nas restrições obsoletas e inúteis que põem em risco o progresso das tecnologias e os mercados da informação e, conseqüentemente, as vantagens que esse progresso lhes pode oferecer’ [James Gattuso, The Myth of Media Concentration: Why the FCC’s Ownership Rules are Unnecessary‘ ed. The Heritage Foundation Web Memo #284 (maio de 2003)].

Posição semelhante inspirou as concepções de prioridade do ex-presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC – Federal Communications Comission), Michael Powell, que explicou:

‘Contrariamente ao discurso que envolve a questão dos meios de comunicação, acho que existem tantos que nos encontramos submersos. Garanto que, com toda a tecnologia que recebemos, nenhuma notícia importante pode ocorrer no mundo sem que dela tomemos conhecimento em vinte minutos. Basta ir ao Google News para poder escolher qualquer das 4.000 fontes de informação existentes no mundo. Para mim, a perspectiva que isso oferece é fascinante’ [USC Annenberg’s Online Journalism Review].

É evidente que a proliferação de conteúdos transformou por completo o funcionamento dos meios de comunicação. Mas esse enunciado não é uma verdade incontestável, pois segundo o Centro para o Futuro Digital da Universidade da Califórnia do Sul, 21% da população norte-americana não utilizou a internet uma única vez em 2005 e 33% não dispõem de conexão em suas residências. E ainda, entre os que vivem melhor, menos da metade se aproveitam da banda larga que permite acessar facilmente arquivos de som e imagem.

Um mito da era digital

Não se trata apenas que as pessoas com um bom padrão de vida e de instrução tenham mais interesse em utilizar os recursos da internet. Elas também são mais aptas a acessar online as últimas notícias, documentos e serviços disponíveis. Considerando o tipo de conexão utilizado, as pessoas com ensino superior e renda mais alta encontram com maior facilidade a informação ou a diversão que procuram na internet, enquanto aquelas com menos instrução e menos ricas tendem a limitar sua navegação na internet aos sites comerciais e aos dos grandes meios de comunicação [As principais estatísticas sobre o tem encontram-se disponíveis aqui].

Portanto, a internet não é assim tão onipresente como proclamam os donos dos conglomerados que defendem uma concentração ainda maior da propriedade das emissoras e canais. No fundo, a internet não é tão confiável quanto pretendem seus defensores em matéria de tratamento do noticiário local. É verdade que a crise do furacão Katrina revelou a que ponto certas inovações, em matéria de novas tecnologias de comunicação, podiam contribuir para a ação da sociedade civil. E, mesmo em circunstâncias comuns, é incontável o número de novos sites que enriquecem a oferta de informações locais. No entanto, os discursos artificiais sobre o crescimento revolucionário de um jornalismo ao vivo, praticados por uma infinidade de blogueiros, ameaçam dissimular que as multinacionais da comunicação convergem na direção da internet para ali ampliar sua voz e seu poder. A idéia segundo a qual as novas tecnologias da informação teriam tornado obsoletos os riscos da concentração constitui o principal e mais perigoso mito da era digital.

Reportagens pouco audaciosas

Segundo o Relatório Sobre a Mídia de 2006 do Projeto de Excelência em Jornalismo (PEJ), ‘durante muito tempo, a internet foi caracterizada pelo número ilimitado de seus novos sites, de um extremo ao outro do espectro das opiniões políticas. Entretanto, os sites mais procurados são associados aos grupos de comunicação mais poderosos. Entre os 20 sites mais visitados em 2005, segundo o índice Nielsen/Net, 17 eram vinculados a grupos de informação tradicionais – ou seja, produziam basicamente seu conteúdo on line para publicações diárias –, emissoras e revistas’. Aliás, em dezembro de 2005, os números eram os seguintes (medidos em termos de visitas exclusivas): Yahoo News: 24,6 milhões; MSNBC: 22,9 milhões; CNN: 20,9 milhões; AOL: 14,7 milhões; Internet Broadcasting Systems (IBS, que retransmite pela internet os assuntos produzidos pelos principais canais de televisão): 12,9 milhões; Gannett: 11,5 milhões; New York Times: 10,9 milhões; jornais do grupo Tribune: 10,5 milhões; Knight Ridder digital: 9,9 milhões; e USA Today: 9,9 milhões [para os dados deste relatório, ver aqui].

É evidente que novos gigantes passaram a integrar a lista, tais como Yahoo!, AOL e IBS, assim como as grandes redes de televisão, os canais a cabo e os grandes grupos de jornais. Mas em nada contribuem com conteúdos de sua própria produção. Gene Kimmelman, diretor da União dos Consumidores, faz um resumo: ‘A internet é uma fonte de informações magnífica. Um pequeno número de consumidores depende dela. Mas quando a FCC pesquisou junto aos consumidores o que procuravam na internet, metade deles respondeu ‘televisão.com’. A esse número segue-se o que procura ‘imprensaescrita.com’. Portanto, eles dependem das mesmas fontes de informação, logicamente com uma nova tecnologia e um novo tipo de mídia, mas isso em nada contribui para uma maior diversidade de opiniões’ [programa The Newshour with Jim Lehrer, PBS, 15 de maio de 2003].

As grandes empresas de comunicação, que conceberam sofisticados planos para orientar o tráfego existente na internet para seus sites, são infinitamente menos audaciosas em matéria de reportagens investigativas, especialmente no plano local. O essencial de seus conteúdos limita-se à difusão ou à reprodução de despachos das agências de notícias ou de pontos de vista já divulgados em outros meios de comunicação. Os próprios jornais, quase sempre usam a web para retransmitir seus artigos e não propõem conteúdos interativos ou produtos de multimídia.

Carência de credibilidade

No que se refere aos novos gigantes, como Yahoo!, AOL e IBS, eles dependem quase exclusivamente das informações produzidas pelos outros meios de comunicação. Os pequenos textos anódinos produzidos por agências como a Associated Press ou a Reuters representam, portanto, quase três quartos dos conteúdos da ABC.com e três quintos dos da Fox.com e da MSNBC.com. Mesmo empresas jornalísticas da reputação do New York Times ou do Washington Post utilizam intensamente despachos das agências para oferecer aos usuários de seus sites informações em tempo real – correndo o risco de transmitir conteúdos de qualidade inferior àquela de suas edições impressas.

Os grandes grupos de comunicação transformaram, dessa forma, os grandes espaços da internet numa enorme caixa de ressonância, na qual textos idênticos se repetem de um site para o outro sem que o jornalismo original ganhe coisa alguma com isso. Sem dispor de um modelo econômico para a internet, os administradores dos principais sites até reduziram o número de profissionais contratados para editar, revisar e pesquisar conteúdos jornalísticos entre 2003 e 2004. Resultado: quase 60% dos despachos das agências de notícias eram colocados online na íntegra.

Ao analisar 1.903 artigos publicados por nove dos principais sites, o Projeto de Excelência em Jornalismo (PEJ) concluiu que ‘se o conteúdo que eles oferecem na internet aumentou em volume, em atualidade e em sofisticação técnica, por outro lado continua sendo um depósito morto de despachos de agências, de assuntos de segunda mão e de textos reciclados a partir de jornais matutinos’ [ver aqui].

Devido à penúria de jornalistas que verifiquem as informações e que editem ou acrescentem elementos de pesquisa aos conteúdos já formatados, a informação online carece de credibilidade. São tantas as notícias falsas que circulam pela internet que os leitores já começam a desconfiar, exceto quando provêm de uma fonte considerada fidedigna – em geral, uma empresa jornalística tradicional.

É claro que a internet não detém o monopólio das ‘cascatas’ ou do jornalismo tendencioso. Os escândalos envolvendo erros caracterizados ou as falsificações de Jayson Blair e Judith Miller (The New York Times), de Stephen Glass (The New Republic) ou de Jack Kelley (USA Today), para citar apenas esses exemplos, provaram que nem os jornais de melhor reputação estão a salvo de violações grosseiras da propalada ética da profissão. Nesses casos, entretanto, as auditorias internas e o rigor das punições aplicadas demonstraram o desejo de se fazerem respeitar certas normas profissionais.

Trote de 1º de abril

Qualquer pessoa que já tenha navegado pela internet sabe que a maioria dos sites ‘pequenos’ oferece mais comentários do que reportagens ou entrevistas e que não segue senão de maneira muito aproximativa as regras jornalísticas reivindicadas pela profissão. Onde se imagina que a rede comercial Wal-Mart e sua empresa de relações públicas Edelman teriam encontrado um veículo disposto a publicar – às vezes, ao pé da letra – a propaganda promocional da empresa em relação, por exemplo, a seu papel na ajuda prestada às vítimas do furacão Katrina? Onde se pensa que teria sido divulgada a ‘informação’ em relação aos judeus que, supostamente, teriam organizado os atentados de 11 de setembro de 2001 e teriam prevenido seus correligionários empregados no Wold Trade Center para não comparecerem ao trabalho naquele dia? Na internet. [Sobre a utilização de blogs pela rede Wal-Mart, ler, de Stephen Baker, ‘Edelman Shows Wal-Mart the Power of Blogs’, Business Week Online, 26 de outubro de 2005]

A tal ponto que o próprio Dan Gillmor, cujo livro We, the Media (Nós, a mídia) proclama as potencialidades revolucionárias do ‘jornalismo cívico’, reconhece: ‘Para os manipuladores, os canalhas e os crápulas de toda espécie, a internet é um veículo que caiu do céu.’ E ele receia que a desconfiança que nasce da profusão de fofocas eletrônicas incite os internautas a procurar as ‘verdadeiras’ notícias nos sites das principais ‘marcas’ de informação, o que ampliaria ainda mais sua influência: ‘O fluxo de informações pouco confiáveis na internet poderia ter como conseqüência paradoxal o fortalecimento dos grandes grupos de comunicações, pelo menos no curto prazo’ [Dan Gillmor, We the Media: Grassroots Journalism by the People, For the People, ed. O’Reilly, Sebastopol (Califórnia), 2004]

Mais de uma vez, jornalistas profissionais foram induzidos ao erro por terem redigido informações que haviam coletado na internet. Em dezembro de 2005, por exemplo, repórter do Los Angeles Times, leu que o governador do Wyoming, Dave Freudenthal, tinha violado a lei de proteção às espécies em extinção ao se recusar a reintroduzir no estado uma espécie ameaçada de lobo. Teria declarado que o Wyoming ‘considera que, atualmente, o lobo não passa de um cão federal’, sem qualquer proteção legal. O Los Angeles Times publicou a notícia na primeira página, antes de descobrir que se tratava de um trote de 1º de abril que um internauta colocara on line sem jamais imaginar que sua brincadeira seria manchete de uma das publicações mais respeitadas do país. No dia seguinte, o jornal – que pertence ao grupo Tribune e suprimira, na época, grande número de postos de trabalho – publicou uma errata reconhecendo que ‘atribuíra equivocadamente’ uma declaração ao governador do Wyoming…

O projeto de 602P

Às vezes, fraudes desse tipo encontram ressonância na época de uma campanha eleitoral. Por ocasião de um debate pela televisão entre Hillary Clinton e Richard Lazio, em outubro de 2000, ambos candidatos ao Senado pelo estado de Nova York, a jornalista Marcia Kramer, do canal local WCBS-TV, exigiu que ambos os candidatos respondessem à seguinte pergunta: ‘Qual a sua posição em relação à lei federal 602P?’ Depois que a senhora Clinton, desconcertada, balbuciou ‘Não tenho a menor idéia do que se trata…’, a jornalista replicou:

‘Pois então, vou lhe dizer. Esse projeto de lei, que vai ser debatido no Congresso, estipula que os Correios poderão cobrar dos usuários de correio eletrônico 5 cêntimos [aproximadamente 17 centavos de real] por mensagem enviada, ainda que os Correios não tenham nada com isso. Porém, dessa maneira, os Correios esperam recuperar algo para compensar um déficit de 230 milhões de dólares que atribuem à proliferação de correios eletrônicos. Para um particular que envie dez mensagens por dia, isso custará 180 dólares por ano. Portanto, o que pergunto é se votariam favoravelmente a esse projeto de lei.’

Ambos os candidatos manifestaram sua oposição a esse tipo de projeto e o republicano Lazio ainda denunciou ‘o exemplo da mão usurária do Estado, que tenta açambarcar sem qualquer justificativa o dinheiro dos contribuintes’.

É razoável que os debatedores tenham ficado preocupados. Mas não havia motivo algum para tanto em relação ao projeto de lei 602P, um dos mitos mais divulgados pela internet. Um número considerável de dados precisos lhe dava alguma credibilidade: o projeto de lei teria sido proposto por um parlamentar (imaginário) chamado Tony Schnell e, em seguida, teria sido apoiado por um editorial (igualmente fictício) do jornal Washingtonian e era contestado por um escritório de advocacia (que não existe), localizado num endereço preciso (sem existência real). Entretanto, inúmeras mensagens eletrônicas e sites na internet advertiam os internautas de que se tratava de uma impostura. Na redação da WCBS, aparentemente ninguém dera atenção a essas advertências.

Uma sátira educativa

Também as agências governamentais mostraram ser demasiado crédulas, a ponto de lançarem alertas medicinais inúteis. Em março de 2004, a municipalidade de Alisa Viejo, na Califórnia, se apavorou com um relatório do dióxido de hidrogênio, a ponto de ter sido debatida a utilidade de proibir o uso de copos de isopor, cuja produção inclui aquele componente químico. Vale ressaltar que o site www.dhmo.org é bastante alarmante:

‘O dióxido de hidrogênio (DHMO) é incolor, inodoro, sem sabor e mata milhares de pessoas a cada ano. A maioria dos óbitos decorre da inalação acidental de DHMO, mas os perigos do dióxido de hidrogênio vão além. A exposição prolongada à sua forma sólida provoca sérios desgastes ao organismo (tecidos). Os sintomas de uma ingestão repetitiva de DHMO são a transpiração, a micção excessiva e, às vezes, uma sensação de inchaço, de ânsia e de vômito. A carência de DHMO provoca a morte certa das pessoas que se tornaram dependentes’ [ver aqui].

Mais de três milhões de pessoas visitaram esse site, o qual instruía sobre ‘O DHMO e o câncer’, ‘O impacto ambiental do DHMO’ e ‘O uso do DHMO na indústria leiteira’. As mensagens eram preocupantes – ‘presente em todos os lagos, rios e oceanos’, ‘elemento importante das chuvas ácidas’ – até o momento em que se compreendeu que o dióxido de hidrogênio era, na realidade… H2O (ou seja, água) e que o site em questão era uma sátira educativa elaborada por um professor de informática. Os políticos de Alisa Viejo tomaram consciência de seu erro pouco antes de votarem, em sua municipalidade, uma restrição ao uso… de água. Desde então, passaram a usar a internet com mais circunspeção.

Tentáculos por toda parte

Na maioria das cidades, entretanto, projetos de lei online abrem um novo espaço às pesquisas de opinião, o que os meios de comunicação tradicionais ignoram. Às vezes, ‘cozinham’ a imprensa em sua própria área, pois esta não tem recursos jornalísticos para acompanhá-los.

Em Nova York, por exemplo, um centro de pesquisa sem fins lucrativos – a Citizen’s Union Foundation, que também funciona como grupo de pressão – lançou, em setembro de 1999, a Gotham Gazette. Seu site na internet oferece ‘um portal completo a todos que se interessem em políticas públicas e na atividade das associações’. Com uma equipe de cinco pessoas e um orçamento anual de 500 mil dólares, financiado por subvenções e donativos, a Gotham Gazette publica diariamente: um resumo das atualidades com links que conectam cada informação às inúmeras publicações de Nova York (jornais diários, semanais e mensais e sites na internet); reportagens originais sobre uma variedade de projetos de associações de cunho cultural e político; colunas opinativas escritas por inúmeros políticos, professores universitários e jornalistas; uma agenda das atividades na cidade; resenhas literárias; classificados; uma espaço em que é explicada a aplicação do orçamento municipal; mapas interativos; videogames que simulam problemas urbanos de infra-estrutura a serem resolvidos; links com os blogs mais apreciados da cidade etc.

Um desses blogs, o Gothamist, também trata de política local, das eleições municipais à greve dos transportes públicos. Resume e comenta artigos publicados em jornais: ‘Nosso site só vai bem porque a cidade dispõe de um número enorme de veículos. Nossa ‘meta-cobertura’ depende disso’, explica Jake Dobkin, um de seus fundadores, ressaltando: ‘Temos tentáculos por toda parte. Em cada quarteirão de Nova York, temos pelo menos um leitor; e eles desempenham um papel importante na produção dos conteúdos. Muitas vezes, enviam-nos comentários ou correções. Se acontece um incêndio em Manhattan, temos condições de divulgar fotos pela internet numa questão de minutos.’

Privilegiando os privilegiados

Esses novos veículos de comunicação constituem uma fonte complementar de informações locais para uma população já bem servida nessa área devido à profusão e qualidade dos meios de comunicação tradicionais. Seu sucesso se deve, muitas vezes, ao fato de poderem seduzir anunciantes desejosos de atingir um público jovem e privilegiado. Em outras cidades e regiões, no resto do país, populações mais carentes de fontes alternativas às da grande mídia dominante são também as mais incapazes de as conseguirem.

Em setembro de 2005, dois homens foram assassinados em Washington num intervalo de 45 minutos: um, numa rua de um bairro abastado e o outro, num bairro pobre do sudeste da capital. O primeiro assassinato foi relatado pelo Washington Post num artigo de 528 palavras, enquanto o segundo teve direito apenas a uma notinha de 56 palavras. Mas a história não termina aí, pois, nesse segundo caso, os moradores não dispõem de blogs ou fóruns na internet que lhes permitam organizar manifestações exigindo melhores serviços municipais e mais segurança. Os primeiros podem recorrer à internet; os do sudeste não têm a quem apelar.

Enquanto o acesso à internet e a capacidade de montar um site não forem distribuídos de uma maneira mais justa na sociedade, o governo eletrônico, os fóruns de bairro e os blogs, ao contrário do que esperam seus idealizadores, poderiam agravar a fratura social, oferecendo novos recursos às camadas já privilegiadas, permitindo-lhes a participação em instituições democráticas e o espaço para reivindicarem seus direitos junto às autoridades.

Os problemas que têm origem na generalização da internet lembram uma coisa que os historiadores dos meios de comunicação vêm advertindo há várias gerações: as novas tecnologias não eliminam a necessidade de elaborar dispositivos legais que impeçam, por exemplo, que um pequeno número de empresas gigantes domine o mercado, tornando-se uma prioridade para a população mais favorecida.

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Professor da New York University