A TV Senado exibiu na semana passada duas sessões plenárias da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), para exame e votação do projeto de reforma eleitoral – a ‘Lei Delúbio’, segundo o relator da matéria, senador José Jorge (PFL-PE). Na primeira delas, em 17 de agosto, pediu a palavra o senador Almeida Lima, de Sergipe – até 14 de agosto ele era do PSDB, mas no dia 15 pulou para o PMDB, numa ‘grande festa’, como descreve seu site.
Pois bem, o senador pediu a palavra, com a autoridade de quem tem vários projetos austeros de reforma política. Um deles propõe que a partir de agosto seja proibida qualquer pesquisa eleitoral, em qualquer mídia, ou seja, dois meses antes da eleição. Em seu pronunciamento na CCJ, ele voltou a defender essa proibição. Entre seus argumentos, o da ‘enorme influência’ das pesquisas sobre os eleitores e um outro, muito grave: a fraude.
Segundo ele disse, é muito fácil fraudar uma pesquisa. Basta anunciá-la com 1.000 entrevistados e fazê-la com 4 mil. Escolhem-se então os 1.000 que interessam a quem encomendou a pesquisa e pronto. ‘Taí a fraude’, disse. ‘Basta enviar ao TRE para oficializar.’
Coincidência ou não, o presidente do Senado, Renan Calheiros, apareceu de surpresa na sessão minutos depois. Mera cortesia? Ou visita de ‘bombeiro’ assustado com o fogo que poderia dali brotar? O senador mais não disse sobre o tema, seus colegas nada comentaram e o assunto ali morreu, porque nem a imprensa tratou disso no dia seguinte. Não poucos afirmam que há fraude nas pesquisas eleitorais, mas o senador deu o caminho exato das pedras. Sem qualquer repercussão.
Fontes fidedignas
Na votação do projeto, do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), a proposta de Almeida Lima foi rejeitada. Prevaleceu a do senador Edison Lobão (PFL-MA), proibindo a divulgação de pesquisas eleitorais 15 dias antes do pleito. A medida, considerada inconstitucional pois fere o direito à informação, deve ser derrubada pela Câmara.
É verdade que Almeida Lima não figura entre os senadores mais influentes da Casa. Tem até alguns apelidos pouco edificantes. Um deles é ‘Rolando Lero’, pelo estilo pomposo de falar; outro é ‘senador Darlene’, personagem de uma antiga novela da Globo que fazia tudo para aparecer na mídia. Esse ele ganhou em 2 de março de 2004, quando ainda era do PDT e prometeu ‘grandes revelações contra o ministro José Dirceu’ no caso Waldomiro Diniz. O discurso foi uma completa bobagem, repetindo matérias da imprensa, mas a Bolsa teve queda brusca de 2,48%.
Certo, então o senador Almeida Lima não tem credibilidade. Mas a denúncia sobre o modo de fraudar pesquisas é plausível. Se Roberto Jefferson e Rogério Buratti são hoje em dia ‘fontes fidedignas’ da mídia, por que não o senador?