Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O poder do dial

Diante de tanta insensatez dos que fazem o rádio e insistem em não querer mudanças ou alternativas para gerar um rádio de qualidade, verdadeiro, ético e voltado para os interesses dos ouvintes, há apenas uma solução: exercício urgente do poder do dial. Tal poder é fácil. Basta apenas utilizarmos de forma eficiente as mãos e trocar de emissora; com um só toque, podemos procurar um bom programa que seja voltado para a valorização do ouvinte e para emissão de mensagens respeitosas e que tenham qualidade tanto técnica quanto de conteúdo. O poder do dial pode ser exercido por cada pessoa para selecionar o bom programa e buscar claramente uma boa programação que tenha a ver com o que queremos em termos de comunicação.

Exercendo o poder do dial, o ouvinte vai sendo respeitado e as mudanças virão naturalmente, pois sem audiência os maus programas não serão repetidos e o povo terá, enfim, a satisfação de poder ter um bom rádio para garantir seu entretenimento, sua garantia de cidadania e um processo de geração de qualidade no rádio em todos os sentidos. O rádio precisa ter nos seus ouvintes o poder de escolha e o questionamento crítico de seu programa, pois para os seus programadores geralmente o ouvinte não tem importância alguma e a eles só interessa o balancete no final do mês. É urgente que se faça uma formação crítica dos que ouvem rádio. Ouvir rádio é uma missão séria que precisa de educação de qualidade, cultura para todos e exercício da cidadania para uma atitude crítica perante o rádio que vem sendo feito no momento.

Deboche e ridicularização

E como avaliar o bom programa? Já foi provado que um bom programa de rádio tem de ter preparação para que não seja apenas um rol de improvisos que geralmente não tem nada a ver com o que pensa o ouvinte ou com os preceitos da boa comunicação. O radialista tem de ter preparação para emitir opiniões, para fazer críticas e dizer o que pensa. O rádio de boa qualidade é pautado no respeito a seus usuários, que têm de ser consultados para dizer o que pensam da programação ou do que se passa no meio. O rádio de boa qualidade tem atenção com seus usuários, que devem ser avisados das mudanças e consultados diante qualquer problema que esteja ocorrendo no funcionamento da emissora. O rádio que preza pela qualidade deve ter abertura para a crítica, para o questionamento e para a interatividade, pensando no ouvinte como um coadjuvante dos mais importantes para o processo comunicativo.

O bom radialista sabe que os ouvintes têm opiniões, idéias e sabem se posicionar diante do que acontece nos programas e pode dar grandes contribuições para o crescimento do programa e para o florescer de um processo pleno e forte de concidadania. O bom radialista tem o ouvinte como cúmplice e o valoriza em todos os aspectos sendo sempre preciso e verdadeiro na comunicação e no que diz no rádio. É preciso respeitar o ouvinte, evitando a pornofonia, o deboche e as idéias preconceituosas.

No meio do processo comunicativo, é urgente que os ouvintes exerçam o poder do dial, para que os que fazem rádio aprendam que o ouvinte tem idéias, sabe discernir o bem do mal e não é um simples ‘mala’, como sempre é tratado nos bastidores de alguns programas de rádio que procuram ridicularizar a opinião do ouvinte e suas idéias. Sabemos claramente que há membros das emissoras que utilizam a opinião do ouvinte apenas com objetivos de jocosidade ou deboche que não vai ao ar, mas está presente no lado oculto do rádio. A força do ouvinte é desacreditada pelos que fazem rádio que ainda não entenderam que ouvinte organizado tem uma oportunidade de mudança grande e forte no meio rádio.

Um elemento catalisador

O rádio que se afasta do ouvinte tem de ser rechaçado e deve ser submetido ao poder do dial, rádio que não respeita o ouvinte e cassa sua opinião não deve ser ouvida e tem de amargar o ostracismo e a falta de audiência. Para que o poder do dial realmente funcione é preciso também a procura do meio publicitário e a pesquisa sobre sua importância e presença nos lares brasileiros. Os que fazem a publicidade ainda não entenderam o poder do rádio e acabam desprezando o seu potencial de garantia de divulgação dos produtos ou idéias.

O poder do dial deve ser exercido em programas desrespeitosos, em programas exclusivamente religiosos sem pluralidade cultural e em estilo de rádio vitrolão que nem mesmo as FMs utilizam mais. O rádio serviço e cidadão deve ser encorajado e é urgente que os que ouvem rádio saibam selecionar programas e discutir o que se passa no rádio para saber exercer seu poder de escolha condignamente.

O poder do dial é de cada ouvinte e se exercido seriamente poderá ser um elemento catalisador do rádio de boa qualidade que faz parte de uma comunicação ética, verdadeira e, sobretudo geradora de bons frutos na construção de um mundo melhor.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE