Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

O rádio é assim mesmo?

É impossível acreditar em um rádio que não se critica, não se analisa, não se debate, não se questiona e tudo continuar como antes provocando a pasmaceira que acontece nos dias atuais. Criticar o rádio tem sido um problema letal para quem ousa que com certeza será triturado pelos que usam a baixaria e o palavrão como objetos de audiência ou mesmo isolado pelos que se dizem éticos neste meio de comunicação. A crítica ao rádio acaba sendo extremamente mal entendida e o processo de mudança do rádio não vai acontecer se depender das visões de muitos que hoje fazem parte deste meio de comunicação.

Há graves manifestações de baixaria no rádio cearense que são aprovadas pela direção das rádios e até rendem prêmios aos locutores que as processam, pois infelizmente a verdadeira face do processo comunicativo se esconde nos interesses que hoje povoam um meio de comunicação que deveria ter uma missão educativa, de coesão social de luta pelos interesses populares. O rádio cearense está em estado de inanição quase que permanente e a crítica ao que se passa não tem de maneira alguma condições de se fortalecer, pois os que os grandes radialistas preferem esconder a sujeira para debaixo do tapete e até estimulam as baixarias promovidas por seus colegas destacando-as em seus programas e no cotidiano de suas comunicações.

Povo não quer só baixaria

Para provar a situação nefasta do rádio em Fortaleza tivemos há poucos dias a demissão de uma radialista que há muitos anos utilizava o rádio com muita respeitabilidade para com seu ouvinte, dava oportunidades de discussão sobre problemas e não proferia palavrões em seu programa o que foi um pecado mortal para este que teve de amargar uma demissão sumária escondida em uma suposta concessão de férias. O pior de tudo é que a situação foi escondida pela emissora que colocou outro radialista em seu lugar não mostrando a história correta que sou foi descoberta em histórias de bastidores. O locutor em questão é o excelente profissional Carlos Augusto, que sempre pautou seus programas pelo respeito ao ouvinte e alto de nível de comunicação; a rádio em questão chama-se Rádio Verdes Mares e hoje é uma das fortes no setor, mas mantém em seus quadros de programação programas que atentam contra a dignidade da mulher, discriminam os homossexuais e poluem os tímpanos de seus ouvintes com palavrões, áudio de cenas de sexo e agora para completar estão usando uma criança para emitir palavras de baixo calão (e o juizado de menores?). O triste de tudo é que o povo gosta e até vota a favor da permanência da criança que, induzida por adultos sem dignidade, acaba entrando na onda do desrespeito e da promoção de distorção do papel da criança em nossa sociedade.

Episódios como estes provam que nossa sociedade está doente e que esta doença tem nome e se chama falta de ética e de responsabilidade com a comunicação verdadeira que propugne pela verdade, pelos interesses coletivos e pela forma correta de fazer rádio que está sumindo diante das proposições do poder econômico, religioso e político. Não somos puritanos nem queremos consertar o mundo, mas achamos que algo poderia ser feito para melhorar a comunicação do rádio, pois para nossa humilde análise nosso povo não quer apenas baixaria. Ou será que quer?

Um processo de péssimo gosto

O meio rádio se encontra em desalinho com as mudanças do mundo atual onde ética e cidadania fluem de todos os locais o que não acontece nas comunicações em geral e no rádio especificamente. Infelizmente comunicar tem sido um espetáculo onde o sexo e a morte são instrumentos midiáticos de audiência garantida. Vale ressaltar que nos dias de hoje há lugar para coisas simples, comunicação respeitosa e divulgação da verdade.

Nosso rádio tem perdido excelentes profissionais para o poder que vem das Igrejas que vendem fé, para grupos políticos que dominam a comunicação e para a falta de cultura de nosso povo que acaba questionando pouco tanta baixaria e iniqüidade, que são caminhos certos para a perpetuação da violência, da pobreza e para a injustiça social tão comuns numa sociedade que avança apenas tecnologicamente e que vive atrasada diante do processo comunicativo que é de péssimo mau gosto e que precisa ser reordenado para o bem do povo que com certeza aprenderá a rejeitar este estado de coisas que nos parece ser conduzido por pessoas que ainda não sabem o verdadeiro sentido da comunicação.

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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE