Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

O silêncio da filósofa e o papel da imprensa

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa. Na fase final do debate sobre o comércio de armas de fogo e munições estamos sendo sacudidos por uma série de notícias sobre selvagerias raramente vistas. Um jovem estudante de Jornalismo da USP mata outro com facadas, três torcedores são mortos por facções rivais, sendo que um deles por espancamento, um adolescente leva dois revólveres para a sala de aula e sem querer mata um colega no banco da frente. Este Observatório não está tomando partido, mas apenas alertando que a questão da violência não desaparecerá magicamente no day after do referendo.


O próprio debate entre os favoráveis ao ‘sim’ e ao ‘não’ está ganhando uma entonação que está longe de ser classificada como ajuizada. A questão do desarmamento está mostrando que antes de tudo precisamos desarmar os espíritos. O resto se resolve.


O debate sobre o desempenho da mídia na cobertura da crise começou com a própria crise. São quase gêmeos. Este Observatório da Imprensa, pela sua natureza e seus compromissos, foi o primeiro a provocá-lo. Cinco meses depois, temos a mídia no banco dos réus, diariamente acusada de linchamentos e pré-julgamentos sumários, embora suas denúncias tenham sido confirmadas de maneira geral.


Nos jornais de hoje está uma pesada acusação do deputado José Dirceu: ‘A mídia me condenou’, e acrescenta: ‘A pressão da mídia é o combustível do Congresso’. O ex-ministro José Dirceu confirma assim não apenas o teor, mas também o fraseado da nota oficial do diretório nacional do PT exatamente um mês atrás. Para explicar esta nota, esteve aqui neste Observatório o presidente do PT, Tarso Genro, seu redator, que atribuiu à emoção as ênfases e, sobretudo, as generalizações. Ao deputado José Dirceu certamente faltou tempo para tomar os devidos cuidados para não ser classificado como inimigo da liberdade de expressão.


Naqueles dias, a Folha de S. Paulo publicou com enorme destaque uma carta da professora de Filosofia Marilena Chaui aos seus alunos, em que criticava determinados procedimentos da mídia, sobretudo a prepotência de obrigá-la a falar quando ela preferia manter-se em silêncio para refletir.


Esta é uma observação que convém desenvolver. Em primeiro lugar porque não desqualifica toda a imprensa e, em segundo lugar, porque oferece a janela para uma oportuna discussão a respeito do papel da imprensa no momento em que passou a ser chamada de mídia e integrou-se à sociedade do espetáculo.


Na véspera da rememoração dos 30 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, convém lembrar o papel dos jornais e revistas na luta para derrubar a ditadura militar e restabelecer a democracia.