Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O suspense de um convênio

Escrevo na segunda-feira do Natal (25/12) com uma importante dúvida na cabeça: o ‘convênio de retransmissão de sinais via satélite’ entre a Fundação de Telecomunicações do Pará e a TV Liberal será renovado?

O convênio foi assinado em setembro de 1997, um ano antes de Almir Gabriel encerrar seu primeiro mandato, iniciado em 1995. As relações entre a Funtelpa e a emissora da família Maiorana, afiliada da Rede Globo de Televisão, remontavam a 1975, na administração Aloysio Chaves. Mas nenhum dos cinco governos que mantiveram essa ‘parceria’ engendrou uma fórmula tão leonina para o parceiro comercial e tão lesiva ao erário: além de se servir da rede de transmissão da fundação pública, como sempre fizera, a TV Liberal passou a ser paga para se dispor do patrimônio público. Originalmente, 200 mil reais por mês. Mas o valor seria corrigido para acompanhar a inflação.

Jamais algo tão insólito foi concebido na história da administração pública no Pará. Mas não sem propósito: o tucano Almir Gabriel pretendia se reeleger de qualquer maneira, mesmo que tivesse de enfrentar um adversário com o peso eleitoral de Jader Barbalho (o que acabou acontecendo). Para isso, precisava contar com o apoio incondicional do maior grupo de comunicação da terra, que jamais cede sua máquina de informação (e manipulação) pelos belos olhos do ‘parceiro’.

Nos cinco anos em que o ‘convênio’ vigorou sob sua gestão, Almir transferiu para os Maiorana dinheiro suficiente para construir uma nova Estação das Docas, que custou 22 milhões de reais (o triplo do valor de orçamento). Em 30 de setembro de 2002, quando o prazo de validade do ‘convênio’ chegou ao fim, o governador o prorrogou por mais três meses, garantindo a sangria do erário até o final do seu segundo mandato.

Seu sucessor, Simão Jatene, não deixou a TV Liberal na mão: continuou a renovar o ‘convênio’. O 13º aditivo vencerá no dia 29, quatro dias depois deste artigo ser escrito. Jatene o renovará por mais um período-tampão, como fez seu antecessor, transferindo o problema para Ana Júlia Carepa? Se isso acontecer, como se comportará a governadora que se elegeu pelo PT com o compromisso da mudança?

O suspense prossegue.

******

Jornalista, editor do Jornal Pessoal, Belém, PA