A punição para quem não gosta de política é ser governado por quem gosta. Certamente, todo militante do movimento popular concorda com o pensamento em epígrafe, já bastante divulgado neste meio. Mas, e quanto a este? A punição para quem não faz comunicação de massa é ser dominado por quem faz.
É unanimidade a reclamação das entidades representativas da classe trabalhadora, bem como dos movimentos populares, no sentido de que são invisibilizados ou discriminados de alguma forma pelos meios de comunicação. Ou de todas as formas possíveis e imagináveis!…
Procurando combater esta tendência da mídia comercial, entidades mineiras como Sindifisco, Senge, Simpro e outras estão criando o portal Mídia Livre, com a proposta de fugir ao boicote sistemático realizado pela imprensa local e nacional à suas reivindicações.
O governo de Evo Morales aprovou, em julho de 2009, um decreto que obriga as empresas jornalísticas da Bolívia, públicas e privadas, a reservar espaços de opinião diários para que seus jornalistas expressem ideias livremente. Com isso, o Executivo pretende recuperar a chamada ‘coluna sindical’ que, como explicou o porta-voz presidencial, Iván Canelas, foi suprimida pelos governos ‘neoliberais’.
Enfrentar o oligopólio das comunicações
Por outro lado, o Congresso Nacional de 2006 da Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas reconheceu que, no Brasil, ‘fomos engolidos pela força do oligopólio e pelo governo que cedeu às pressões do capital da mídia’… [ver aqui]
O ministro das Comunicações da Venezuela, Diosdado Cabello anunciou no mesmo mês, decisões sobre encerramento imediato da transmissão de 34 emissoras de rádio e TV, devido a irregularidades perante o poder público, as quais passarão a ser operadas por organizações comunitárias.
Enquanto isto, no Brasil, milhares de emissoras funcionam com suas autorizações vencidas, algumas há mais de 10 anos. E mais de 1.000 emissoras de baixa potência são fechadas anualmente para atender aos interesses do inconstitucional oligopólio da mídia… [Ver aqui.]
Lideranças como João Pedro Stédile, do MST, já vêm defendendo a organização da mídia da classe trabalhadora há algum tempo, ainda que estejamos muito longe de enfrentar de frente a hegemonia do poder econômico, na prática:
‘Para o MST, é urgente a criação de meios de comunicação da classe trabalhadora.’
Esta é a chamada para entrevista com Stédile veiculada numa edição do boletim do NPC. [ http://www.piratininga.org.br/novapagina/leitura.asp?id_noticia=596&topico= ]
Precisamos colocar energia na construção e no desenvolvimento de meios de comunicação de massa próprios, como rádios e televisões comunitárias, jornais, revistas, programas de comunicação de todo tipo, sob auspício dos movimentos e organizações populares, para enfrentar o verdadeiro oligopólio das comunicações sob controle da classe dominante brasileira (MST Informa, Letra Viva, 23/02/2007).
Crescimento da escola pública
Este e vários textos que apontam na direção de uma comunicação voltada, mais para valores humanistas que para os capitalistas, foram apresentados no Seminário Nacional Mídia e Psicologia, cujo registro está disponível gratuitamente no sítio do Conselho Federal de Psicologia, seção Publicações, em formato PDF.
No YouTube podem ser encontrados vídeos produzidos pelos psicólogos sobre o tema, procurando demonstrar como o cabresto midiático reduz a grande maioria da classe trabalhadora em mera massa de manobra do poder econômico, concluindo a obra de alienação iniciada pelo Estado via sistema de ensino, como afirma Antonio Gramsci:
‘Desse modo, uma das grandes contribuições do pensamento gramsciano, que o transformou em referência obrigatória da chamada `nova esquerda´ européia dos anos 60-70 do século 20, consiste em ter revelado uma relação dialética entre a `objetividade´ e a `subjetividade´, o material e o espiritual. É nessa perspectiva que Gramsci formulou o conceito de `hegemonia´ e alargou a teoria de Estado apresentada por Marx e Engels. Além dos aparelhos coercitivos do Estado, a burguesia precisa obter o consentimento dos governados, para se garantir como hegemônica. E a formação do consenso dependeria da educação. Daí a ampliação sem precedentes dos mais diversificados meios de educação, desde a escola, um dos principais deles, até a imprensa e o rádio [Gramsci não conheceu a televisão]. Foi nesse contexto, na virada do século 19 para o 20, que a escola pública e gratuita cresceu enormemente’ [ http://www.acessa.com/gramsci/?page=visualizar&id=984]
Empresários terão 40% dos delegados
Imagina o que Gramsci diria se tivesse conhecido a TV!… E Freud?
Um século atrás, Freud já percebia como o estilo de vida ‘moderno’, hoje vendido ainda mais ostensivamente pela mídia, afetava os europeus, em A Moral Sexual Civilizada e o Nervosismo Moderno (1908):
‘As extraordinárias realizações dos tempos modernos, as descobertas e as invenções em todos os setores e a manutenção do progresso… só foram alcançadas por meio de um grande esforço mental. Cresceram as exigências impostas à eficiência do indivíduo… Simultaneamente, em todas as classes aumentam as necessidades individuais e a ânsia de prazeres materiais… Tudo é pressa e agitação. A noite é aproveitada para viajar, o dia para os negócios, e até mesmo as viagens de recreio colocam em tensão o sistema nervoso. As crises políticas, industriais e financeiras atingem círculos muito mais amplos que anteriormente. A vida urbana torna-se cada vez mais sofisticada e intranqüila. Os nervos exaustos buscam refúgio em maiores estímulos e em prazeres intensos, caindo em maior exaustão. A literatura moderna ocupa-se de questões controvertidas que despertam paixões e encorajam a sensualidade, a fome de prazeres, o desprezo por todos os princípios éticos e por todos os ideais.’
Diante da relevância da mídia, pelo fato de formar a visão de mundo da classe trabalhadora, consumidora, contribuinte e eleitora, durante a última década, os movimentos sociais defenderam e o presidente Lula, após seis anos de governo, convocou para dezembro uma Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), a qual somente terá êxito se houver unidade suficiente para assegurar que ela seja realmente democrática, conforme previsto inicialmente. [ http://proconferencia.org.br/quem-somos/documento-1 ]
Hoje (05/08/2009), este mesmo governo ofereceu aos empresários, uma minoria insignificante da população, 40% dos delegados da conferência, em troca da participação deles no evento, os quais deixaram claro que democratização da comunicação é a última coisa que desejam.
Listas de discussão
Ou seja, a ditadura da mídia imposta na Comissão Organizadora Nacional, que foi aplaudida pelo FNDC – Fórum Nacional pela Democratização, assegurou o poder de decisão na plenária da conferência para os capitalistas da mídia e para os políticos cujas campanhas eleitorais os empresários de uma forma geral financiaram. [ http://www.fndc.org.br/internas.php?p=noticias&cont_key=370606]
Quem estiver interessado em participar de tamanho desafio, no sentido de pressionar no sentido contrário ao da classe dominante, será muito bem-vindo(a). Estamos organizando manifestações nas capitais para estes dias e cogitando de uma caravana ao DF.
Quem estiver em Minas, pode participar das reuniões que ocorrem toda segunda-feira, 19:30 h, no Sindicato dos Jornalistas. Em não sendo possível ou mesmo antes disto, vale a visitar nossos sítios, para ter uma boa visão de como chegamos até aqui:
(a) Nacional: www.proconferencia.org.br
(b) Estadual MG – www.proconferenciamg.wordpress.com
(c) Demais estados: disponíveis em ambos os endereços acima
Neles são encontrados documentos básicos e informações mais relevantes como:
(a) Decreto do Presidente da República, convocando a Confecom
(b) Portaria do Ministério das Comunicações com a composição da Comissão Organizadora
(c) Propostas de funcionamento da Confecom
(d) Peças publicitárias
(e) Vinhetas em áudio e vídeo
(f) Notas e manifestos
A discussão do dia-a-dia pode ser acompanhada através de listas de discussão.
Uma pesquisa na rede mundial de computadores sobre Confecom irá apresentar um volume elevado de informação. Mais de 300.000 citações, focando todos os ângulos possíveis e imagináveis de nossa luta.
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Engenheiro civil, militante do movimento pela democratização da comunicação e em defesa dos Direitos Humanos, membro do Conselho Consultor da Câmara Multidisciplinar de Qualidade de Vida (www.cmqv.org)