Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Os perigos estratégicos da Lava Jato

Há duas precauções estratégicas que precisamos fazer agora, neste momento de incertezas econômicas e enfrentamentos políticos entre os três poderes da república: a primeira delas é não deixar o déficit das contas públicas chegar a ponto crítico. É melhor utilizar parte de nossas reservas internacionais para balancear as contas que ampliar o arrocho para suavizar o déficit público. O momento é delicado. A perturbação trazida pela da Lava-jato trouxe desordem institucional. A cada dia que passa uma autoridade em qualquer nível de governo desmente ou contradiz outra.

A segunda é evitar a todo custo a destruição de capital nacional acumulado em décadas de lutas e sofrimentos históricos na indústria da construção civil. Não podemos dar um fim às nossas grandes construtoras. Nossa infra-estrutura desgastada necessita muito delas. Elas são essenciais em um país como o nosso. Geram muitos empregos para a população de baixa escolaridade.

A Odebrecht também está envolvida em projetos de alta tecnologia de uso militar na força aérea brasileira: sua divisão de defesa nasceu da compra da Mectron, a fabricante de radares e mísseis de São José dos Campos. O aparelho, desenvolvido em cooperação com os italianos, é parte do programa de atualização do jato de ataque AMX (o A-1 da FAB).

Radar Scipio, da Odebrecht Defesa, instalado no bico do AMX. Foto Wikimedia

Radar Scipio, da Odebrecht Defesa, instalado no bico do AMX. Foto Wikimedia

A produção conjunta com a Itália desta aeronave que deu ao Brasil a chance de estar entre os maiores fabricantes de aviões para o mercado de transporte regional no mundo. Vamos destruir isso também?

Essas empresas acumularam anos e anos de trabalho e esforço coletivo. De muita gente, e não só seus proprietários. Os erros de seus donos não podem determinar a derrocada desses grupos. O Brasil não vai suportar isso. As empresas precisam ser preservadas. Seus donos não. Os culpados responderão por seus crimes depois de esgotada ampla defesa a todos os acusados. As empresas devem continuar no mercado, independentes dos destinos de seus donos. O país necessita delas para renovar sua infra-estrutura e continuar a crescer.

Tenho observado também ataques contra veículos de comunicação que publicam propaganda da Petrobras. Como se a empresa fosse uma entidade maligna autônoma, a corromper tudo que tem algum tipo de relação com ela. Isso não é aceitável e beira a insânia.

Durante muitos anos o Brasil viveu um fetiche com sua estatal petroleira. Ela foi nossa esperança e glória até o início dos escândalos de corrupção na imprensa nacional. Depois disso, virou demônio a ser exorcizado. Querem acabar com ela e com as empreiteiras em nome de um hipotético e idealizado “fim da corrupção”.

Hoje existe no Brasil uma mentalidade rasteira de caça às bruxas, que a grande imprensa ajudou a sedimentar. Nela predomina o adesismo cego, indiferente (ou ignorante) aos perigos trazidos por uma corte do judiciário brasileiro de 1ª instância.