No Brasil, as TVs comunitárias são os meios de comunicação que mais concedem espaço ao Terceiro Setor. Nas telas comunitárias, movimentos sociais, ONGs e entidades organizadas que não têm espaço na mídia comercial conseguem oportunidade para se expressar, mobilizar a base e divulgar seus trabalhos que beneficiam a sociedade.
Os movimentos negro e de mulheres, os sindicalistas, os pequenos empreendedores, as associações de classe, entre muitos outros, já se valem da quase uma centena de TVs comunitárias espalhadas pelo país para ter o merecido lugar ao sol da difusão televisiva de informações. Mais sobre a importância das emissoras comunitárias já foi falado por mim, neste Observatório, em artigo anterior.
Outra característica que ronda as TVs comunitárias é esta: elas são pouco debatidas, noticiadas e entrevistadas pelos veículos que se propõem a falar sobre mídia pública ou não. Seja aqui, seja alhures, esse meio quase não é mostrado. Um pouco por culpa dos pauteiros desses veículos. Um pouco por erro das próprias TVs, que não investem em um departamento técnico, ou algo que o valha, para produzir dados e notícias periódicas sobre o setor.
Em 2009, isso começou a mudar. A Associação dos Canais Comunitários do Estado de São Paulo (Acesp) lançou um site que pretende ser uma central de notícias a respeito de TVs comunitárias. No ano que findou, a página foi testada, mudou de layout e acabou submetida às mudanças sempre inerentes a todo veículo estreante. Em 2010, o endereço eletrônico já começa a contar com atualizações mais constantes, divulgação com maior abrangência e produção grande de conteúdo próprio.
O que ninguém vê, o site mostra
Sem essa iniciativa da Acesp, ninguém saberia que a TV Aberta-SP, o canal comunitário da capital paulista, tem a maior grade de programação da América Latina, veiculando conteúdo de mais de três centenas de entidades da sociedade organizada. Ou então, poucos conseguiriam imaginar que a TV V, de Votorantim, exibe o programa TV Cela, que é gravado e apresentado por detentas. Toda semana, elas entrevistam políticos e autoridades dentro da prisão.
Além disso, sem o site Acesp ninguém seria informado que a TV Osasco, também um canal comunitário, é um dos poucos no Brasil, senão o único, a iniciar um projeto de gestão integrada para o canal. É a eficiência da iniciativa privada sendo aplicada a um veículo de alma comunitária e pública, que trabalha pela sociedade e com a sociedade.
A Acesp é a primeira e maior entidade associativa de canais comunitários brasileiros. Ela surgiu em 2000, antes mesmo de sua correspondente em nível nacional, a Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCcom), da qual a Acesp é, orgulhosamente, associada.
Em janeiro, a Acesp completa dez anos de existência. Para as comemorações, muitas atividades estão previstas e outras ainda sendo planejadas. Mas uma delas, também na área de imprensa, já está bem definida. A Acesp vai lançar uma revista especializada em comunicação comunitária. Nas pautas, além do espaço para os canais comunitários, haverá chance para que parceiros da causa possam ser ouvidos. A ideia é mostrar e falar de todos os que facilitam e promovem, ainda que indiretamente, o crescimento das TVs comunitárias.
Assim, o setor passará a ter uma rotina de produção de notícias. A esperança é que ele seja mais pautado e, consequentemente, falado, debatido e (por que não?) problematizado e questionado. As TVs mais democráticas do Brasil vão ganhar muito sendo mais vistas e pensadas do que são hoje.
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Jornalista, responsável pela área de Comunicação da Acesp