O rádio tem uma história riquíssima e sua implementação em nosso país esteve ligada a interesses políticos da época, o que faz com que hajam várias controvérsias entre os historiadores em relação a seus inventores e ao funcionamento da primeira rádio no Brasil. Deixando estas discussões de lado, podemos afirmar que a história do rádio precisa ser resgatada, evidenciada e cada vez mais estudada pelos que hoje fazem jornalismo ou radialismo para ter um conhecimento abalizado de seus processos, sua formação e sua importância perante nossa sociedade.
As mídias modernas têm um grande avanço no momento, porém nada supera a versatilidade e o imediatismo do velho rádio que está conosco em todos os momentos mas, infelizmente, não tem tido um avanço no sentido de conquista de novos públicos e novos focos de interesse e construção de idéias. Neste sentido, acreditamos que há muito desconhecimento dos que fazem a comunicação acerca da importância deste meio e da necessidade de maior apoio da sociedade em termos de programação, mídia positiva e apoio por parte de empresas e profissionais de publicidade. No processo atual, vemos o rádio ser invadido pelos interesses religiosos que monopolizam a informação, destroem a pluralidade da comunicação e fazem com que o rádio seja relegado a segundo plano em termos de processos de melhoria e democracia na vida comunicativa.
Despreparo e falta de compromisso
A luta pelo rádio que tem sido travada pela Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará parece que não contou até hoje com a compreensão da sociedade atual, pois alguns criticam a idéia sem conhecer a essência do trabalho feito por um grupo de abnegados que amam e respeitam o rádio. Alguns ignoram essa idéia passando a tê-la apenas como uma terapia ou um reunião vaga e sem objetivos plausíveis.
A Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará procura sempre lutar por um sentido racional do rádio e por um processo de comunicação democrática. Talvez a luta firme pelo rádio seja uma idéia fabulosa, porém pouco assimilada por grupos organizados da sociedade que insistem em ter um grupo que luta pelo rádio como espécies raras em extinção. A luta desencadeou a criação do dia municipal do ouvinte de rádio em Fortaleza e a criação da Cartilha do Ouvinte, uma tentativa de educar e valorizar o ouvinte, dando-lhe conhecimento, criticidade e compreensão do mundo do rádio. Nesta mesma luta o grupo tem realizado Exposições Temáticas Sobre o Rádio onde se evidencia a evolução histórica do rádio e seu papel na sociedade. Tal exposição tem sido realizada a duras penas, pois não conta com o apoio da imprensa nem daqueles que representam o rádio nos diferentes setores, pois até parece que a história do rádio não tem importância.
As Faculdades de Comunicação de nosso Estado assumem uma postura extremamente estranha em relação ao rádio – mantêm em seus cursos disciplinas de Radiojornalismo e não discutem história do rádio, não analisam as programações, não pesquisam a visão da sociedade acerca do rádio e parecem não acreditar firmemente na importância deste meio de comunicação. Essa postura parece que é reforçada pelo fato de que os jornalistas ou futuros jornalistas não vêem perspectivas da profissão em relação ao rádio e são impelidos a desprezá-lo ou ignorá-lo. É deprimente ver que os cursos de jornalismo não acreditam mais no rádio nem fazem esforço algum para lutar contra a crise que se anuncia na comunicação radiofônica. O desprezo dos cursos de Jornalismo em relação ao rádio é uma prova de atraso científico, despreparo e completa falta de compromisso dos professores que fazem estes cursos.
Um sonho nunca envelhece
Quando levantamos a tese do Museu do Rádio em nosso Estado, a reação foi extremamente controversa e deslocada de sua essência. Campanhas foram feitas para arrecadação de produtos, materiais ou coisas que lembrassem o rádio e muito pouco foi conseguido em função da variedade que sabemos que existe. A busca de parcerias foi intensa, mas infelizmente órgãos públicos utilizaram a ação burocrática para destruir e desfazer um sonho que será concretizado apesar dos pesares. A busca de parcerias com empresas fabricantes de rádio também foi inócua e algumas empresas confundiram parceria com esmola.
Diante do exposto parece-nos que a luta pelo rádio é inglória, mas não o é – cada aborrecimento, cada incompreensão, cada idéia errônea sobre esta iniciativa por uma comunicação verdadeira, firme e ética serão incentivos, pois um sonho nunca envelhece…
Para finalizar, deixaremos nosso endereço para que os que amam o rádio mandem sua colaboração para a criação do Museu do Rádio, que não é um equipamento meramente ilustrativo, mas uma idéia de quem sabe a importância deste meio e a certeza de que a dignidade brota de uma comunicação mais verdadeira e honesta para todos em todos os lugares.
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE