José Sarney não lembra, mas jornalistas e leitores não podem esquecer que o senador maranhense foi o responsável direto pelo atraso de 14 anos na criação do Conselho de Comunicação Social estabelecido pela Constituição de 1988.
Acuado pela pressão da sociedade, quando presidia o Senado pela primeira vez depois da redemocratização, Sarney fingiu que instalaria o Conselho. Manhoso, armou uma lista inaceitável de nomes – incluiu até um assessor pessoal – de modo a inviabilizar a criação do órgão. Conseguiu.
Ramez Tebet, que substituiu Sarney em meio a uma grave crise no Senado, emplacou afinal em 2002 o sonhado Conselho graças ao trabalho conjunto de senadores do PT e do PSDB, entre eles o falecido Artur da Távola. Pela primeira vez na história da República discutia-se a imprensa e os meios de comunicação num foro oficial dentro do Legislativo.
Tomar partido
A festa durou pouco. Sarney reassumiu a presidência do Senado em 2003 e quando terminou o primeiro mandato dos Conselheiros deu um jeito de desativar o Conselho de Comunicação Social com a indicação de outro apaniguado para presidi-lo e liquidá-lo.
Deste então estamos novamente sem Conselho de Comunicação, em completo desacordo com a Carta Magna.
Uma curiosidade histórica: a primeira edição do Observatório da Imprensa, em abril de 1996, cobrava de Sarney a constituição do Conselho de Comunicação Social. Treze anos depois estamos de volta, fazendo a mesma cobrança.
A escolha de Sarney para presidir o Senado trará, entre outras coisas, a certeza de que o Conselho continuará inativo e inoperante. Tião Viana é a esperança do retorno à legalidade. Este é um caso em que a grande imprensa deveria tomar partido.
Pergunta-se: a grande imprensa quer mesmo um Conselho de Comunicação Social?
Leia também
Quem vai animar o moribundo? – A.D.