Os EUA forneceram ao Brasil o modelo para o sistema político, o sistema de comunicação -e as campanhas eleitorais. No caso dos deputados, o que se vê é a transposição da estratégia americana de campanha permanente de mídia, embora o paralelo não seja imediato.
No original, o mandato dos representantes é de dois anos, daí a campanha sem fim. Aqui, o mandato é de quatro, mas suas bases e ambições são, no mais das vezes, municipais ou regionais.
“E no meio tem eleição para prefeito”, observa o cientista político Antonio Lavareda, que também atua como marqueteiro, tendo comandado campanhas para PSDB e DEM, entre outros.
No livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais (Objetiva, 2009), ele diz que o resultado é uma “assimetria de recursos entre incumbente e desafiante”, entre o detentor do mandato e seu opositor.
Para a campanha permanente, enquanto o primeiro tem os recursos próprios do cargo, inclusive horário diário no rádio e os canais parlamentares, o segundo depende dos próprios recursos, mais a eventual exposição no programa partidário.
No interior
Também derivado da experiência nos EUA, o primeiro desafio de qualquer político em campanha é sua identificação pelo eleitor. É a partir dele que vai buscar depois, na campanha propriamente, a intenção de voto.
Explica-se assim a proliferação de programas em emissoras regionais de rádio e TV, por vezes com a compra de horário, com recursos públicos, pelos incumbentes. “A TV transforma políticos em celebridades”, diz Lavareda.
Explica-se pelo mesmo esquema a busca dos partidos por celebridades de mídia (comunicadores, cantores populares, humoristas, esportistas) para servirem de puxadores de votos, o que resulta num Congresso assemelhado à programação de fim de semana das emissoras.
O rádio não tem o mesmo impacto de massa da TV, “mas por que tantos políticos têm concessões de rádio no interior?”, pergunta o cientista político, para responder que o meio segue prioritário, para alcance municipal e regional.
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[Nelson de Sá é articulista da Folha de S.Paulo]