O número de estações de rádio e emissoras de televisão comunitárias na Venezuela, licenciadas ou não, subiu de 50 para 300 em apenas três anos. À primeira vista, estas estações não parecem ter caráter político. Sua programação costuma abordar fatos mundanos como coleta de lixo ou condições das estradas, e sua equipe é formada, na grande maioria, por voluntários não-remunerados.
O principal objetivo destas rádios e TVs, segundo os que trabalham nelas, é mostrar que existe um lado diferente nos guetos. A imagem que usualmente é passada destes bairros de periferia é a de criminalidade, violência, prostituição e crianças abandonadas. ‘Nós dizemos que somos a televisão dos pobres’, diz Gabriel Gil, produtor da emissora Catia TV.
O considerável aumento do número de estações comunitárias na Venezuela em tão pouco tempo, por incrível que pareça, é obra do governo. Trata-se de uma tentativa de formar uma cadeia de pequenas emissoras de rádio e TV pró-Hugo Chávez. O plano faz parte dos esforços do presidente para conter as quatro grandes emissoras privadas de televisão do país, que o apresentam como um ditador instável.
Em vez de tomar atitudes radicais, como mandar fechar seus inimigos midiáticos, a tática de Chávez, de acordo com Juan Forero [The New York Times, 8/3/04], parece ser ignorá-los ao máximo. Enquanto isso, ele investe em pequenas estações de rádio e TV de baixo orçamento e confia que elas consigam passar adiante a mensagem do governo – e uma imagem mais positiva dele próprio. As estações alegam ser independentes e autônomas, mas Chávez anunciou que pelo menos US$ 2,6 milhões seriam direcionados a elas este ano. As emissoras também irão receber assistência técnica e publicidade de companhias estatais.
Em uma entrevista postada em um sítio favorável ao presidente, o ministro da Comunicação e Informação, Jesse Chacón, declarou que o governo não vai ‘apenas legalizar e implementar aproximadamente 200 rádios e televisões comunitárias com equipamentos’, vai também promovê-las.