Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Qualidade do trabalho em risco

Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado no dia 15 de outubro em Genebra indica que as novas tecnologias de comunicação e informação criaram mais empregos – em vez de eliminá-los, como se previa – na indústria da comunicação em geral. Em contrapartida, podem estar mais comprometidas a qualidade e as condições de trabalho destes profissionais.

O relatório ‘Futuro do Trabalho e Qualidade na Sociedade de Informação: Media, Cultura e o Setor Gráfico’ foi debatido entre 18 e 22 de outubro na Reunião Tripartite sobre o Futuro do Trabalho e da Qualidade na Sociedade da Informação: o Setor dos Meios de Comunicação, Cultura e Indústrias Gráficas, que reuniu em Genebra representantes de governos, sindicatos e patronato de 50 países.

‘A explosão no setor gera preocupação crescente quanto à qualidade das condições de trabalho e apresenta novos desafios de treinamento para os empregados da indústria de mídia e entretenimento’, diz o autor do estudo, John Myers, o especialista para mídia, cultura e indústria gráfica do Departamento de Atividades Setoriais da OIT. ‘A estrutura econômica dos setores ligados a meios de comunicação, cultura e indústria gráfica foi transformada e há hoje uma considerável convergência e até superposição com outros segmentos na área de tecnologias de informação e comunicação.’

O relatório observa que, entre as várias profissões afetadas pelas novas tecnologias, ‘a procura por jornalistas é elevada e deve continuar assim’. Nos Estados Unidos, por exemplo, o relatório prevê até 2012 um aumento de 16% nos empregos para redatores e editores; de 6,2% para analistas, repórteres e correspondentes; de 13,6% para fotógrafos, de 26,4% para editores de vídeo e imagem e de 21,9% para produtores gráficos e visuais.

Situação grave

‘Para algumas profissões, especialmente as que fornecem conteúdo criativo, a revolução multimídia promete tremendas oportunidades de crescimento, dado o previsível aumento dos canais de distribuição’, diz o estudo. Entre 1995 e 2003 o número de empregos na produção de filmes e de outros produtos audiovisuais na Europa cresceu de 850 mil para mais de um milhão. A indústria cinematográfica americana empregava 600 mil pessoas em 2002, contra as 221 mil de 1985.

Apesar dos sinais positivos, a OIT interpõe uma série de dúvidas relacionadas à qualidade do emprego, ao acesso a oportunidades de emprego e a assuntos específicos, como direitos autorais. ‘Isso nos leva a perguntar se se cumprem algumas recomendações básicas da OIT relacionadas aos princípios e direitos fundamentais do trabalho, da proteção social e do diálogo social’, diz Myers. No caso de atores e técnicos da área audiovisual, o informe considera que há ‘grandes oportunidades’, pois há mais trabalho, mas ‘o emprego criado no setor como resultado da globalização e das novas tecnologias com freqüência é instável e de baixa qualidade’.

O impacto sobre a saúde e a segurança dos jornalistas, devido aos prazos mais exigentes e às pressões para produzir informação atualizada, também é registrado. ‘Isso implicou novos modelos de trabalho para empregados que mesmo antes não tinham horários regulares, oito horas diárias de trabalho ou intervalos de refeições, e que, em muitos casos, estão empregados sob contratos precários ou temporários’, ressalta o estudo.

Segundo a OIT, a situação é especialmente grave para os correspondentes de guerra: mais de 1.000 profissionais do setor morreram em conflitos nos últimos 10 anos, fora os feridos e privados da liberdade.

Papel dos governos

A formação é lembrada como aspecto importante para os trabalhadores do setor. ‘A qualidade do trabalho, do emprego, da condição trabalhista, dos produtos e do conteúdo melhorará se também houver acesso a uma capacitação que permita melhorar a produtividade, a adaptabilidade e a empregabilidade’, diz o informe.

O documento prevê que ‘muitas novas oportunidades estarão disponíveis para pessoas que puderem deslocar-se geograficamente, bem formadas, com múltiplas habilidades e adaptáveis, embora, ao mesmo tempo, haverá cada vez mais trabalhos instáveis, provisórios, sem os benefícios mínimos da seguridade social, sendo ainda inevitável a perda de postos ou que estes sejam de menor categoria’.

A OIT defende que os governos de países em desenvolvimento devem pôr em prática políticas e projetos que permitam a trabalhadores e empregadores, e em particular a mulheres e jovens, beneficiar-se do potencial das tecnologias de informação e comunicação, para que seja minimizado o ajuste que implica sua utilização. Para a OIT, é importante que neste processo de ajuste sejam respeitadas as normas internacionais do trabalho. O informe reconhece que nos últimos anos houve progressos importantes nesses países, por exemplo, pelo aumento na produção de conteúdo para a internet, o desenvolvimento de canais a cabo e satélite no mundo árabe, o de rádio e outros meios na África.