O site Politico.com, lançado no início do ano, achou que tinha tirado a sorte grande na quinta-feira passada (22/3). Pouco mais de uma hora antes do horário marcado para uma coletiva de imprensa do pré-candidato à presidência americana John Edwards, onde seriam respondidas perguntas sobre o câncer de sua mulher, a página alardeou o que deveria ser um grande furo: ‘Edwards irá suspender a campanha’.
Nestes tempos de internet, a informação circulou rapidamente e depressa chegou às emissoras de televisão. O tiro do Politico, entretanto, saiu pela culatra. Na coletiva, o ex-senador da Carolina do Norte e sua mulher, Elizabeth, anunciaram que ele continuaria na corrida presidencial. Elizabeth foi diagnosticada com câncer de mama em 2004, quando Edwards disputava a vice-presidência ao lado do então candidato democrata John Kerry. Depois de tratamento, a doença reapareceu e se espalhou para um osso.
Bola de neve
O repórter Ben Smith, responsável pela ‘barriga’ no blog que mantém no sítio, desculpou-se. Ele atribuiu o mal entendido a ‘um amigo de Edwards’ que teria dito que o pré-candidato democrata suspenderia a campanha e ‘talvez a abandonasse completamente’. ‘O erro é dele [de Smith], mas também é nosso, porque nós sabíamos da informação que ele tinha e quem era sua fonte’, fez mea culpa o editor-chefe John Harris, que, além do sítio, comanda também o jornal homônimo. ‘Eu acredito que seja um erro grave… Neste caso, ele simplesmente escreveu mais do que sabia’.
Independente do tamanho da falha, o Politico não embarcou sozinho. A agência Reuters noticiou, com base em ‘uma fonte do partido democrata’, que Edwards suspenderia ou cancelaria a campanha. ‘Informações de que o senador Edwards está prestes a encerrar sua campanha vêm circulando durante toda a manhã’, anunciou o âncora da rede de TV NBC Brian Williams. Na CNN, a apresentadora Heidi Collins repetiu os boatos, citando o Politico como fonte. A repórter Candy Crowley chegou a comentar que o sítio estava começando a fazer sua reputação. Na Fox News, o repórter político Carl Cameron ressaltou que coordenadores da campanha de Edwards haviam negado a história. ‘Está um certo mistério’, disse aos telespectadores. Na internet, os sítios jornalísticos e blogs políticos repercutiram a notícia.
Rapidez e ineficiência
Smith contou que conversou com o amigo do ex-senador após uma troca de e-mails. Segundo o jornalista, a fonte ‘falou com autoridade e detalhadamente’ sobre a doença de Elizabeth e a decisão de seu marido de suspender a campanha. Pouco mais de uma hora depois, o repórter, que estava em Nova York, avisou a seu editor, por e-mail, sobre a história.
O editor, por sua vez, perguntou a credibilidade da informação, ao que Smith respondeu que vinha de uma boa fonte. A notícia entrou no ar logo em seguida, e, menos de 15 minutos depois, a assessora de imprensa de Edwards enviou e-mail a Smith onde dizia que ‘neste momento, alguém alegando que sabe de alguma coisa está inventando história. Não há informações desta campanha até que John e Elizabeth falem com a imprensa ao meio-dia’. A partir desta mensagem, o jornalista atualizou seu texto, mas não mudou o título. ‘Eu deveria ter esperado por uma segunda fonte, ou simplesmente ter esperado pela coletiva como todo mundo’, afirmou Smith após a lição.
Perguntado sobre a importância de sair uma hora na frente da coletiva de imprensa, o editor-chefe Harris afirmou que blogs, ao contrário de matérias, ‘compartilham informações em tempo real’ com base naquilo que os repórteres apuram. Ele concorda, entretanto, que um blog ‘não deveria ser diferente de uma matéria jornalística quando se trata de precisão e imparcialidade’. Informações de Howard Kurtz [Washington Post, 23/3/07].