Ao ser ordenado sacerdote em 1886, em Roma, o gaúcho Roberto Landell de Moura (1861-1928) não tinha idéia do que viria pela frente. Mesmo com grande interesse pela física e pela eletricidade, ainda se passariam vários anos até que suas importantes experiências públicas fossem feitas, já em território brasileiro.
Em 3 de junho de 1900, o também cientista fez uma demonstração em que transmitiu som a distância sem o uso de fios. ‘No domingo próximo passado, no alto de Santana, na cidade de São Paulo, o padre Landell de Moura fez uma experiência particular com vários aparelhos de sua invenção. No intuito de demonstrar algumas leis por ele descobertas no estudo da propagação do som, da luz e da eletricidade através do espaço, as quais foram coroadas de brilhante êxito. Assistiram a esta prova, entre outras pessoas, o sr. Percy Charles Parmenter Lupton, representante do Governo britânico, e sua família.’
A notícia, publicada pelo Jornal do Commercio, em 10 junho de 1900, não deixa dúvidas de que os estudos desenvolvidos pelo jesuíta deram bons resultados. Depois de São Paulo, a cidade de Campinas presenciou as demonstrações públicas do cientista.
Apesar da figura de Landell de Moura ter sido bastante mitificada ao longo do tempo – muito foi dito sobre a sua excentricidade, por exemplo –, pesquisadores brasileiros que se debruçaram sobre a questão da invenção do rádio, de forma bastante apartidária, são conclusivos em suas afirmações. É o caso, por exemplo, de César Augusto dos Santos, autor de Quem inventou o rádio? (Clio Livros, 2001).
Sem apoio
Santos compara os estudos do padre gaúcho com as do italiano Guglielmo Marconi (1874-1937), que também na virada do século 20 desenvolveu pesquisas pioneiras no campo da radiofusão.
‘As diferenças técnicas entre as invenções dos dois cientistas são: Marconi patenteou na Inglaterra, em 12 de setembro de 1986, somente a transmissão-recepção eletrônica por centelhamento dos sinais telegráficos em código Morse’, diz Santos, que se apóia em trabalhos de especialistas no assunto como Otto Albuquerque, autor de En el aire: La luz que habla (Feplam, 1993).
Landell de Moura, por sua vez patenteou, no Brasil, em 9 de março de 1901, um sistema fotônico-eletrônico. ‘Dessa forma, o cientista brasileiro inovou, em relação à patente de Marconi, a prioridade na transmissão-recepção mundial da palavra, ou fonia, em emissão fotônica-eletrônica, até então sem patentes mundiais’, diz Albuquerque.
Tanto para Albuquerque como para Santos, Marconi e Landell de Moura não fizeram experiências iguais, mas semelhantes. ‘Ao fazer suas transmissões publicamente em São Paulo, o padre-cientista foi o primeiro radioamador em telegrafia fonia e o primeiro comunicador da radiofusão com a continuação dos contatos no país e exterior’, afirma Santos, atualmente professor da Universidade de Passo Fundo.
As semelhanças entre o pesquisador brasileiro e o italiano param por aí. E, talvez, as diferenças que surgiram a partir de então tenham determinado o fim da história. Marconi teve uma visão muito mais empresarial e, além disso, encontrou na Europa uma cultura favorável à invenção.
Por sua vez, Landell de Moura, depois de até mesmo conseguir obter patentes de sua invenção nos Estados Unidos – para, posteriormente, abrir mão delas –, não teve apoio do governo brasileiro na época.