Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Relatórios funestos sobre jornalistas mortos

Em um certo período do ano, institutos e organizações começam a divulgar os seus relatórios. Com as instituições ligadas à imprensa não é diferente.

Analisando três deles, de três diferentes organizações representativas, a conclusão é de que, apesar de todas as críticas que se faz ao processo de cobertura dos fatos ao redor do mundo, cumprir a função de jornalista ainda é tarefa muito perigosa. Segundo o International News Safety Institute (INSI), somente neste ano e até o dia 20 de junho, 96 jornalistas já haviam morrido no exercício da profissão. De acordo com o relatório, neste ano, os cinco países mais perigosos para coletar e reportar informações são: Iraque, com 37 mortes, Haiti, Somália e Afeganistão, com quatro cada um, e Autoridade Nacional Palestina, com três.

O Iraque é um caso à parte em todos os sentidos. Quatro anos de guerra e quatro anos de maior número de baixas. Entre 2003 e 2007, o número de jornalistas mortos no país já supera as 70 baixas durante os vinte anos da guerra no Vietnã. Até o dia 18 de junho, um expressivo número de 211 profissionais foram mortos na região (http://www.newssafety.com/casualties/iraq.htm). A grande maioria, cerca de 90% dos casos, de iraquianos. Num Estado em que a política e a segurança beiram a anomia, a divulgação de fatos incomoda as diversas facções, etnias, clãs, milícias religiosas e grupos contrários, que tentam impedir a circulação de notícias. Com a saída, por questões de insegurança, de boa parte da imprensa estrangeira, quase todo esse trabalho de reportagem tem sido feito por profissionais locais, perseguidos, seqüestrados e executados a sangue-frio por esses grupos. Imprimir e distribuir jornais num país convulsionado é uma operação que demanda uma logística complicada, com características heróicas e que envolvem trocas de endereços constantes e alterações de rotas e de pontos de distribuição de jornais. Um verdadeiro trabalho de resistência.

1994 foi o pior ano

Um outro relatório confirma a estatística aterradora. A International Federation of Journalists (http://www.ifj.org/default.asp?Index=4561&Language=EN) divulgou em janeiros seus dados referentes ao ano de 2006. Neles contabilizou um total de 155 execuções, assassinatos e mortes por causas inexplicadas. Segundo o relatório, 2006 ‘foi o pior ano já registrado’, o que fez com que a Organização das Nações Unidas pela primeira vez emitisse uma declaração condenando a perseguição aos jornalistas e exigindo punição para os assassinos. Não é raro, para não dizer sempre, que esses casos se tornem cronicamente insolúveis sem que nenhum indivíduo ou grupo seja responsabilizado pelos crimes cometidos.

Ainda de acordo com a IFJ, nas Américas o México lidera a funesta estatística, com 10 mortes.

A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) também divulga o seu relatório (http://www.rsf.org/article.php3?id_article=20287). E em 2006, segundo seus dados, 81 jornalistas foram mortos, 32 colaboradores assassinados, 871 presos, 1.472 agredidos e pelo menos 56 repórteres seqüestrados. Para a RSF, entretanto, o ano de 1994 permanece como o pior em baixas devido ao sangrento conflito em Ruanda entre as etnias hutus e tutsis, responsável por mais da metade do número de jornalistas mortos naquele ano.

A informação preciosa

Mas não importa a fonte da informação – os dados são alarmantes. Uma das conclusões a que se poderia chegar com a análise dos números é de que a imprensa permanece sendo uma arma tão ou mais poderosa do que todos os fuzis e que, por isso, tem sua boca e seus olhados cerrados pela intolerância e pelos inimigos da liberdade de expressão. Uma outra é de que a barbárie humana está longe de ser contida em um estado mundial de insanidade crescente. Mas a mais relevante é aquela que revela a proporcionalidade entre as tragédias aqui enumeradas, mas não contadas, e a relevância da profissão que incomoda àqueles que têm algo a esconder.

Se os números de mortes assustam, é possível concluir que assusta ainda mais a própria divulgação dos fatos, mesmo que fragmentados, reduzidos ou ideologicamente direcionados. É tranqüilizador saber que ainda existe um grande número de pessoas que arriscam suas vidas para que o resto do mundo saiba o que está acontecendo e que, de posse da informação preciosa, tenham instrumentos para fazer alguma coisa.

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Estudante do último período de jornalismo da Universidade Fumec, Belo Horizonte, MG