Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Reuters amplia debate sobre cobertura do conflito

A cobertura da mídia americana sobre a guerra no Iraque virou notícia. Além de se discutir o conflito, agora se analisa também como ele é reportado para os cidadãos americanos. A discussão teve inicio com críticas do governo Bush aos jornalistas, que estariam publicando apenas notícias negativas sobre o país, como ataques insurgentes, seqüestros e assassinatos, e ignorando pautas positivas, como a reconstrução de escolas e a relativa estabilidade em certas cidades iraquianas.


A Reuters organizou um debate sobre o assunto, na quarta-feira (5/4), com jornalistas, um blogueiro profissional e um membro do Exército dos EUA. Um dos poucos pontos com que todos os participantes concordaram é o de que a mídia polariza ao extremo a cobertura do Iraque entre ‘boa notícia’ e ‘notícia ruim’, falhando assim em oferecer ao público um panorama completo do cenário iraquiano atual.


História incompleta


Segundo Roger Cohen, colunista do International Herald Tribune que esteve recentemente no Iraque, tanto a mídia tradicional quanto os blogs tendem a cair na armadilha de seguir uma determinada linha de pensamento quando o assunto é o Iraque. ‘As pessoas vão ao blog que gostam para reforçar a visão que já têm’, diz ele. ‘Apesar das notícias positivas ou negativas, são poucas as pessoas que mudam de opinião’.


O tenente-coronel Steven Boylan, que retornou aos EUA em dezembro após 16 meses como principal porta-voz do Exército americano no Iraque, disse que achou a cobertura sobre o conflito escassa em sua volta. ‘Antes, eu tinha a opinião de que não havia boas notícias o suficient. Mas entendi que a questão não é entre boas notícias e notícias ruins, porque isso é subjetivo. É a história completa que não está sendo contada’, afirmou.


Revivendo o Vietnã


O editor do OpinionJournal.com James Taranto disse, por sua vez, que o problema na cobertura é que os repórteres esperam que a guerra no Iraque siga um ‘roteiro’ similar ao da guerra do Vietnã, com o conflito se provando um erro e a população ficando indignada.


Já o fotojornalista iraquiano Ghaith Abdul-Ahad defendeu que é errado dizer – como tem feito o governo dos EUA – que os jornalistas estão ignorando as notícias positivas. ‘É uma guerra civil, pessoas são mortas todos os dias, a toda hora’, lembrou.


Insegurança constante


Zaki Chebab, editor político do jornal árabe al-Hayat, com sede em Londres, ressaltou que a diminuição da segurança no ano passado prejudicou o trabalho jornalístico. O chefe da sucursal de Bagdá da Reuters, Alastair Macdonald, compartilha desta opinião. Segundo ele, os cerca de 70 funcionários da agência distribuídos em 18 cidades iraquianas encontram muitas dificuldades em trabalhar por causa de tensões sectárias. Alguns jornalistas, conta Macdonald, tiveram que deixar suas cidades após receber ameaças de morte. ‘Há muita gente com medo de se expor como jornalista’. Chebab completou que jornalistas iraquianos costumam trabalhar em segredo, temerosos de ser identificados como colaboradores do governo americano.


Segundo Abdul-Ahad, o programa do Pentágono para plantar notícias positivas em organizações de mídia iraquianas tornou o trabalho dos profissionais iraquianos ainda mais difícil. ‘Como você espera que jornalistas iraquianos decentes possam ir às ruas e depois escrever histórias positivas? Todos apontariam para eles dizendo que receberam dinheiro dos americanos’. Informações de Claudia Parsons [Reuters, 6/4/06].