Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rivais preparam guerra
contra o You Tube


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 19 de dezembro de 2006


INTERNET
Richard Siklos e Bill Carter


Gigantes da mídia preparam site para combater YouTube


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – Quando o YouTube se tornou um dos mais populares sites da web, no ano passado, muitos executivos de televisão o desconsideraram, classificando-o como fenômeno temporário e, em larga medida, ilegal.


Mas, depois que o Google adquiriu o site por US$ 1,65 bilhão, em outubro, eles adotaram posição radicalmente diferente. Subitamente, todos queriam enfrentá-lo diretamente.


Agora, algumas grandes empresas do setor de mídia, como NBC Universal, News Corp., Viacom e possivelmente CBS, estão perto de anunciar um novo site que oferecerá alguns de seus programas de televisão mais conhecidos, bem como outros clipes, em uma tentativa de criar um negócio de distribuição de vídeo na internet capaz de concorrer com o YouTube. O novo site talvez seja anunciado já na semana que vem.


Executivos desses grupos estão em negociações intensas quanto ao controle acionário e à estrutura de comando da nova empreitada, que ainda não tem nome -as conversações podem continuar até o fim do ano ou fracassar de vez.


‘Eles realmente estão interessados em fazê-lo’, disse um executivo ligado às negociações. No entanto, ele estimou, duvidando da capacidade de todos os envolvidos de cooperar na empreitada: ‘Dez minutos depois que começarem a trabalhar juntos, vão querer matar uns aos outros’.


Nenhuma das empresas envolvidas quis comentar abertamente o assunto, mas executivos familiarizados com as discussões fizeram declarações sobre o caso, sob a condição de não terem seus nomes revelados. O site será bancado por publicidade e exibirá shows e clipes de todas as empresas participantes, além de encorajar os usuários a contribuir com vídeos ou outros materiais desenvolvidos por eles.


Obstáculos


Um site como esse enfrentaria imensos obstáculos. Todos os parceiros na empreitada estão cientes de que qualquer coisa que se assemelhe a um consórcio setorial, especialmente se o site se mostrar pouco ágil ou parecer antiquado diante dos concorrentes vindos do setor de tecnologia, representará um retrocesso.


A despeito do grande número de vídeos caseiros que o YouTube recebe e distribui, executivos de publicidade acreditam que o material da mídia tradicional atrairá a maior parte das verbas publicitárias à medida que o site se desenvolva.


Porém cada um dos parceiros envolvidos na criação do concorrente do Google chega com uma agenda própria e com potenciais conflitos. Um dos possíveis focos de problema é a News Corp., que controla a rede de TV Fox e o site de relacionamento MySpace.


Por trás da idéia do novo site, há a compreensão de que o modo de distribuição de vídeo via web não propicia boa receita às redes de TV. O sucesso do iTunes, por exemplo, gerou milhões de downloads de vídeos, mas não ofereceu alta lucratividade às empresas de mídia. ‘Os proprietários do conteúdo precisavam ficar com parte maior da maçã’, disse um executivo envolvido.


Até agora, o YouTube fechou acordos prévios de licenciamento com CBS, Warner Music Group, Sony BMG e Universal Music. Analistas estimam que cada uma deva ganhar entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


AUMENTO PARLAMENTAR
Flávia Marreiro


Sindicalistas e internautas reagem à medida


‘O aumento de 91% aprovado pelos parlamentares a seus próprios salários alimenta uma onda de irritação e protestos: de mobilizações das centrais sindicais e entidades civis, ainda pequenas, a iniciativas e manifestos na internet.


Ontem, a Força Sindical, presidida pelo deputado federal eleito Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho, fez uma passeata mirrada e barulhenta pelo centro de São Paulo. Havia cerca de 50 pessoas, acompanhando um carro de som.


O deputado eleito justificou o pequeno público: ‘É difícil mobilizar no final de ano. Até os sindicatos estão de férias. Foi por isso que os parlamentares escolheram este momento’.


O protesto chamou a atenção da aposentada Osvaldina Cesar, 59, que fazia compras de Natal: ‘Vim aqui ver se havia algum abaixo-assinado para eu participar, tinha ouvido algo no rádio sobre isso. Liguei até para minha cunhada vir. Alguma coisa a gente tem que fazer. Esse aumento é uma afronta’, diz ela, que votou na legenda do Partido Verde para deputado.


Paulinho disse que hoje, em Brasília, proporá aos presidentes da Câmara, Aldo Rebelo, e do Senado, Renan Calheiros, que o percentual de reajuste dos salários caia de 91% para 23,33%. O índice reporia a perda da inflação, segundo o INPC [Índice Nacional de Preços ao Consumidor], desde o último aumento, em fevereiro de 2003. Pela proposta, o salário chegaria a R$ 15.662.


‘Falei com o Aldo e propus a reunião. Vou sugerir que se use o INPC, que foi o mesmo índice que corrigiu o salário da maior parte dos trabalhadores . É uma saída para essa enrascada em que o Congresso se meteu’, disse o sindicalista, que promete doar o que receber a mais por conta do aumento a entidades de ajuda aos pobres e ‘favelas’.


Paulinho convidou a CUT (Central Única dos Trabalhadores) para a reunião, já que ele e o presidente da central, Artur Henrique, estarão em Brasília -as centrais sindicais negociam hoje à noite, na capital, que o mínimo suba mais que os R$ 25 aprovados no relatório setorial no Orçamento (passaria de R$ 350 para R$ 375).


Henrique, afirmou, porém, que não é papel da central oferecer uma solução para o reajuste dos congressistas, mas usar a indignação para pressionar por um salário mínimo maior: ‘Devemos protestar nas ruas. As pessoas querem demonstrar que estão irritadas’.


A CUT colhe assinaturas contra o aumento e hoje promoverá ato na Praça do Patriarca, em São Paulo, e em frente ao Congresso, em Brasília.


Na internet, há também reação. O fórum-blog ‘Jornal de Debates’, editado pelo jornalista Paulo Markun, havia recebido de sexta até ontem 300 artigos sobre o tema e promove consulta com juristas para escolher que caminho formal tomar contra o aumento. A principal delas é propor uma lei de iniciativa popular. Outro internauta criou um blog sobre o assunto e convoca protesto no vão do Masp (Museu de Arte de São Paulo), na sexta. ‘O aumento foi a cereja do bolo dessa legislatura e indignação está pipocando em vários lugares da internet, que tem se mostrado um ótimo canal para isso’, diz Markun.’


MEMÓRIA / JOSÉ NASCIMENTO
Folha de S. Paulo


Fotógrafo da Folha morre aos 76 anos


‘O fotógrafo da Folha José Joaquim do Nascimento, 76, morreu ontem vítima de câncer no pulmão. ‘Seu’ Nascimento, como era conhecido pelos colegas, trabalhou no ‘Última Hora’ até seu fechamento, em junho de 1979.


Em seguida, foi contratado pela Folha. Em 2005, precisou se afastar por causa da doença. Fotógrafo desde os 14 anos, ele registrou os principais fatos históricos do país, como a primeira visita do papa João Paulo 2º e o último bonde a circular em SP.


O enterro foi ontem, no cemitério Vila Nova Cachoeirinha. Ele deixa a mulher e duas filhas.’


MEMÓRIA / J. BARBERA
Folha de S. Paulo


Morre Joseph Barbera, pai dos Flintstones e Jetsons


‘Morreu ontem, aos 95 anos, o cartunista norte-americano Joseph Barbera, parceiro de Bill Hanna na criação de desenhos animados clássicos como ‘Tom & Jerry’, ‘Os Flintstones’, ‘Os Jetsons’, ‘A Turma do Zé Colméia’ e ‘Scooby-Doo’. Segundo uma porta-voz da família, Barbera morreu de causas naturais.


O primeiro trabalho assinado pela dupla Hanna-Barbera foi o curta de animação ‘Puss Gets the Boot’, em 1940. O filme foi indicado ao Oscar em sua categoria. A MGM, estúdio que bancava os cartunistas, gostou do resultado e abriu espaço para mais experimentações. Aos poucos, foi surgindo o esboço de um dos mais tradicionais pares da animação: o gato Tom e o rato Jerry.


Os personagens ganharam lugar definitivo no panteão da cultura pop (e um Oscar para colocar no currículo) quando Jerry dividiu a cena com o ator Gene Kelly em uma coreografia da comédia musical ‘Marujos do Amor’, de 1945.


No meio dos anos 50, quando a MGM fechou sua divisão de animação acreditando que os cartuns televisivos tomariam o lugar das animações cinematográficas, os parceiros fundaram os estúdios Hanna-Barbera -que logo se tornariam referência no segmento de animação. No início da década seguinte, seriam lançadas as primeiras aventuras de Flintstones, Zé Colméia e dos futuristas Jetsons.


O desenho protagonizado pela família da Idade da Pedra foi o primeiro a ser exibido no horário nobre da TV norte-americana. Também foi pioneiro no uso de personagens humanos e no formato longo (além dos sete minutos protocolares). Quase cinqüentões, os Flintstones ainda têm suas anedotas acompanhadas por platéias de aproximadamente 80 países.


No trabalho, Barbera era tido como o ás das tiradas e do desenho, enquanto o companheiro se destacava pela sensibilidade e pela percepção aguda do ‘timing’ cômico.


Morto em 2001, Hanna certa vez disse que nunca tinha sido um grande artista; já o parceiro, segundo ele, conseguia ‘capturar aura e expressão em um rápido esboço’ melhor do que qualquer pessoa que tinha conhecido.’


TELEVISÃO
Laura Mattos


Gianecchini se diz surpreso com ‘fora’ de Carolina Ferraz


‘O ator Reynaldo Giannechini disse ontem, por meio de sua assessoria de imprensa, que ficou ‘surpreso’ com o fato de Carolina Ferraz ter declarado que ele roubou um beijo dela.


A fofoca envolvendo os dois foi uma das armas do ‘Domingão do Faustão’ de anteontem.


A atriz permaneceu no ar por mais de dez minutos no programa para falar a respeito das fotos de um paparazzi que flagrou os dois em um bar carioca, no último dia 5. Carolina, que namora um rico empresário da Turquia, afirmou que Giannechini fez com ela uma ‘brincadeira de mau gosto’. Ela argumenta que, logo após o beijo, pegou sua bolsa e foi embora.


Eles bebiam champanhe, e ela disse que ele estava ‘alegre’.


Recém-separado da jornalista Marília Gabriela, Giannechini telefonou na manhã de ontem para seu empresário, Marcos Brandão, para definir como iria se posicionar diante das declarações de colega. ‘Ele não vai falar sobre o assunto. A única declaração que dará oficialmente é que está surpreso com essa atitude’, disse Brandão.


Carolina já havia se envolvido em outra polêmica com esse mesmo tema. Em 1998, ela disse sentir ‘nojo’ de beijar a boca do ator Francisco Cuoco, com quem fazia um par romântico na novela ‘Pecado Capital’.


No ano passado, o ator falou a Folha sobre o assunto: ‘Eu me adequei a isso e disse que preferia não trabalhar mais com ela, a não ser que ela mudasse. Foi uma experiência ruim na minha vida. Foi amargo ter de passar por isso.’’


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Instabilidade do SBT favorece jornais da Band


‘Não é só a Record, com a ‘Turma do Pica Pau’, que ganhou pontos de audiência nos finais de tarde.


Os telejornais da Band também se deram bem nas última semanas em razão da instabilidade da programação do SBT.


‘Brasil Urgente’ e ‘Jornal da Band’, que registravam quatro pontos de média no Ibope, subiram para seis. Foi o inverso para o SBT, que tinha média de seis nesse horário (das 18h15 às 20h15) e passou para quatro (cada ponto equivale a 55 mil domicílios na Grande São Paulo).


Na semana passada, Silvio Santos havia estreado de surpresa ‘Minha Vida É uma Novela’, com dramatizações de casos reais. O ibope não melhorou, e ele já decidiu tirar o novo programa do ar.’


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Multishow quer FM para ‘atacar’ a MTV no rádio


‘O Multishow estréia hoje uma emissora de rádio na internet. O objetivo do canal é fechar parceria com uma FM para colocar a programação no rádio.


Assim, a disputa de audiência da TV migra para o dial, já que a MTV deve assinar contrato com uma FM paulistana nesta semana para o lançamento de sua rádio em janeiro.


A partir de hoje, o Multishow (da Globosat) terá 12 horas diárias de programação ao vivo na internet, das 11h às 23h, em parceria com o Sistema Globo de Rádio. O Multishow FM pode ser acessado nos seguintes endereços: multis how.com.br, multis howfm.com.br e globo radio.com.br. O canal divulgou investimento de R$ 1,5 milhão para o Multishow FM em 2007.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 19 de dezembro de 2006


COLUNISTA DESENCANTADO
Arnaldo Jabor


Um bode preto assola o País


‘Desculpem o bode negro, mas a situação já passou de todos os limites. Está além do escândalo, além do horror e não conseguimos fazer nada. Pare por aqui, leitor amigo, se estiver deprimido, mas é que estamos diante do Insolúvel.


Um País paralisado na economia e na política não gera apenas fome ou injustiça social; gera uma degradação psíquica progressiva. No Rio, temos uma amostragem exemplar.


A cidade está se dissolvendo debaixo de balas perdidas e balas achadas, a cidade virou um pesqueiro para marginais, que descem de suas 500 favelas para curtir um ‘assaltozinho legal’ ou fazer um tiro ao alvo de cidadãos desavisados, sem motivo, só pelo prazer.


Mas, não só o Rio. A zona geral do País, debaixo desse governo desgovernado, debaixo da estupidez paralítica da burocracia, da ausência de crescimento, de educação, está provocando um desvio forte na cabeça das pessoas. Estamos nos deformando. Física e psiquicamente. Não só tragédias visíveis, como guerra ou catástrofes naturais nos deformam. A tragédia do nada, a tragédia do zero de progresso vai nos virando em anomalias. Crescem rabos, chifres, verrugas, tumores em nossos corpos e mentes.


A principal anomalia é a crescente consciência de que o maior inimigo da governabilidade é o governo. Não é nem o Lula ou quem quer que seja. A própria estrutura dos três poderes está trincada, está trancando tudo, sim. Todo o desejo nacional é impedido ou pelo Legislativo ou Judiciário, com um Executivo que não sabe como executar, dividido entre democracia liberal e esquemas populistas. O último progresso que aconteceu neste País, por um acaso histórico, quase milagre, foi o Plano Real e uma certa responsabilidade fiscal que o governo anterior deixou como herança bendita. Depois disso, nada. Depois da crise dos mensalões, dos sanguessugas e do ‘dossier’ (que até nos deram a ilusão de que algo se movia) tudo volta para atrás. O PT se desmoralizou, descobrimos que o PSDB não existe e que Lula trabalha para o PMDB. O Brasil é um flash-back, um filme rebobinando. Tudo se restaurou. Ninguém punido, crimes ignorados, Congresso asqueroso, Judiciário salvando partidos de aluguel, desativando qualquer avanço, a sordidez disfarçada em terminologia jurídica. Aumenta o sentimento de impotência e depressão. Certamente, nuvens negras se formam. Teremos algo torto, torvo. Todos sabemos que vem merda aí. Não sabemos ainda qual delas.


Além da depressão política, a novidade do ano: arrasamento dos serviços básicos. Com a crise geral dos vôos, enchentes sem tampa, queimadas eternas, florestas acabando, total incapacidade administrativa, chegamos a duvidar que a luz se acenda ou a água continue a jorrar das bicas.


Nossos corações estão mais duros. Para sobreviver, ficamos mais cínicos e mais reacionários. Irracionalismos raiam. Já pensamos: ‘Tem mais é de matar essa raça, essas polícias ‘mineiras’ são boas mesmo, extermina, bota para quebrar!’ Ou então: ‘Essa bosta não tem mais solução não. Vou cuidar da minha vida. Danem-se!’


Em vez de pena, já temos medo ou raiva da miséria: ‘Chiii, não agüento mais esses miseráveis nos sinais de trânsito, esses vagabundos descendo dos morros de bermudas e sandália havaiana. Só quero ver coisas bonitas…’


Mas, que ‘coisas bonitas’? Cada vez mais, aceitamos o feio. Nas paredes, nas ruas, só pichações imundas, ruas alagadas, paisagens destruídas, gente desesperada, mal paga, miséria nos rostos, nas roupas, nos gestos, nas falas, risos boçais, frases banais, falta de educação, analfabetos que sabem escrever, o surgimento de uma língua bárbara entre os bandidos, grunhidos da miséria, ‘tá ligado?’ Ou ‘Vamos combinar que está punk esta parada, fala sério!’ – como reagem os playboys.


O império do fragmentário: faits divers, notícias sem importância e denúncias vazias que não se completam, não formam sentido, se repetem num círculo vicioso; é a pequena história das irrelevâncias e o surgimento do Insolúvel como categoria política.


Na Academia, o discurso da melancolia teórica, a nostalgia de uma pureza perdida ou da ‘revolução’ sumida. Ausência de um pensamento crítico novo, para além do lamento contra o capital. Surge um amor à truculência ou ao simplismo. Chávez como esperança; tudo, menos aceitar que temos de abrir caminho para o óbvio: reduzir o Estado, lutar por um choque urgente de administração e reformas que nos tirem do buraco. Isso, jamais; vai contra a idéia de controle, tanto à direita como à esquerda.


No meio do deserto ideológico, sem esperança ou projetos, a hipervalorização de bundas e pênis. O corpo como último refúgio, o sexo como única utopia. Nada temos além de barriga seca, bunda dura, peito de 200 mililitros, botox nos cornos, boca falsa dizendo bobagens, ‘cofrinho’ à mostra, risos compulsivos, gargalhadas coloridas nas revistas, piercing nas vaginas.


Há também um aumento brutal dos psicopatas. Não só os queimadores de crianças, os esquartejadores felizes, mas os ladrõezinhos numa boa, influenciados pelo excesso de crimes banalizados pelo dia-a-dia. Indiferença à lei desmoralizada para sempre, alegre aumento de transgressões, com os sanguessugas e vagabundos em geral servindo de exemplos: ‘Vou ser ladrão sim, qual é? É bom negócio…’


Surge também a ética da permissividade irresponsável, a ética da não ética, desde que ‘assumida’. ‘Numa boa, tem mais é que mentir mesmo, na política. Tem de sujar a mão. Sim, eu assumo, sou estuprador, mas assumo, numa boa…’


Paranóia geral. Desconfiança dos outros. O ‘outro’ como chato, como competidor ou como inimigo.


Fim da idéia de cultura como acumulação, fim de ‘importância cultural’, de panteon do saber. Com o fim do passado, um presente detestável e um futuro sem cara, importância cultural para quê?


Sensação de inutilidade crítica. Para que falar, para que escrever? Este artigo é inútil.’


GOVERNO LULA
Dora Kramer


‘As eleições serviram como publicidade do governo’


‘Entrevista / Jairo Nicolau, cientista político


Pesquisador do Iuperj diz ser raro o mandato de um governante acabar com popularidade no mesmo patamar de seu início


O cientista político Jairo Nicolau, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), explica que a eleição ajudou o presidente Lula a ganhar popularidade e a projetar uma nova visão de seu governo. Nicolau diz que a gestão Lula, que não tem grandes realizações a apresentar, é bem avaliada por suas políticas na área social. Em entrevista, o pesquisador afirma ser raro um governo chegar ao fim com avaliação similar à do começo:


Quais as razões dessa avaliação tão boa?


A campanha eleitoral foi uma forma de publicidade para o governo. Nela, as pessoas descobriram coisas que foram feitas. Ela mostra bons indicadores, boas políticas. Além disso, a campanha do presidente Lula foi muito bem feita. E da eleição para cá houve ausência de fatos que desgastassem o governo.


Lula fez por merecer essa avaliação?


Ela é surpreendente. É raro que um presidente chegue ao final do governo com uma avaliação similar à do começo, porque a avaliação inicial traz o benefício da expectativa.


Há um ano Lula tinha 43% da confiança popular. Agora tem 68%. O que explica essa variação nos índices da pesquisa?


É preciso compreender que as pessoas têm uma hierarquia de preferências. Elas podem não gostar da corrupção do governo, mas gostam da política social.


Por que o eleitor aprova um governo sem grandes obras?


O governo Lula não se notabilizou por grandes políticas públicas, mas tem muitas políticas voltadas para o social, cada ministério tem um programa bem-sucedido, ajustado no tempo e bem avaliado nos últimos dois anos. Por essas razões, o governo é bem avaliado.


Mudaram as prioridades da população. A prioridade 1, agora, é a saúde. O que aconteceu?


A população reage ao contexto. Há quatro anos, o combate à fome era uma prioridade do governo que começava. O tema estava ativado entre eleitores. Hoje ele foi desligado.


O voto melhora a vida?


Não sei se o voto melhora a vida, mas a ausência de voto piora a vida. O que melhora a vida não é o voto, mas a possibilidade de eleger governantes comprometidos com políticas positivas para a população. O voto é um caminho para as pessoas fazerem escolhas.’


MEMÓRIA / JORGE CALMON
O Estado de S. Paulo


Jorge Calmon, 91, morre em Salvador


‘O jornalista Jorge Calmon, de 91 anos, morreu ontem, em Salvador, vítima de falência múltipla de órgãos. Ex-deputado, ex-secretário de Estado da Justiça e ex-ministro do Tribunal de Contas do Estado, ele foi redator-chefe do jornal A Tarde e era da Academia de Letras da Bahia e professor emérito da Universidade Federal da Bahia. Várias personalidades compareceram ao enterro.’


MEMÓRIA / J. BARBERA
O Estado de S. Paulo


Morre Joseph Barbera, lenda dos desenhos


‘Com William Hanna, ele criou personagens mundialmente famosos e foi vencedor de 7 Oscars


O desenhista Joseph Barbera, que ao lado de William Hanna criou alguns dos mais famosos desenhos animados americanos, como Jetsons, Manda-Chuva, Scooby-Doo, Flintstones, Tom e Jerry e Zé Colméia, morreu ontem aos 95 anos. A informação foi divulgada pelos estúdios Warner Brothers.


A morte teria ocorrido por causas naturais. Sua mulher, Sheila, esteve ao seu lado até o último momento. Ele também deixou três filhos de um casamento anterior.


Barbera nasceu em 1911, no bairro de Little Italy, em Manhattan. Começou a desenhar nos Estúdios Van Beuren, mas logo mudou para a MGM, que começava a dedicar-se à animação. Eram os anos 1930. Ali, conheceu Hanna, o parceiro que morreu em 1991. A dupla teve seu primeiro grande sucesso com as batalhas incessantes entre o gato Tom e o rato Jerry. A série ganhou fãs no mundo inteiro e rendeu à dupla sete Oscars, um recorde quando se fala de seriados em todo o mundo com os mesmos personagens. Entre os grandes momentos, até mesmo do cinema, vale citar o baile ao lado de Gene Kelly, no clássico Marujos do Amor (1945).


Em certa ocasião, Barbera fez uma inconfidência e explicou como surgiram os Flintstones. ‘Eles nasceram da idéia mais básica que existe em toda comédia, a oposição entre o gordo e o magro. O problema era vesti-los. Primeiramente, foram índios, depois vaqueiros, peregrinos, romanos, até que nos ocorreu desenhá-los com peles da Idade da Pedra.


‘Joe foi um narrador apaixonado e gênio da criação. Suas contribuições à indústria televisiva não têm comparação. Foi pessoalmente responsável por entreter a milhões e milhões de pessoas pelo mundo todo’, destacou ontem o presidente do Departamento de Animação da Warner Brothers, Sander Schwartz. AP, EFE e REUTERS’


POLÍTICA CULTURAL
O Estado de S. Paulo


Ancine troca Dahl por Manoel Rangel


‘O novo presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine), para mandato até 2009, é Manoel Rangel que já era diretor da entidade. A nomeação saiu ontem no Diário Oficial da União. Rangel, que foi secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura, foi levado ao governo por Gilberto Gil. Ele substitui Gustavo Dahl, cujo mandato terminou no sábado. Também foi nomeado ontem o novo diretor do colegiado, no lugar de Rangel: é Leopoldo Nunes Ferreira.’


TELECOMUNICAÇÕES
Gerusa Marques


Terceira geração deve democratizar serviços


‘A telefonia móvel ainda precisa chegar ao interior do País. A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) está trabalhando para que a venda de novas licenças, como as de terceira geração (3G), permita que o celular possa ser usado em todos os municípios do Brasil. Hoje, pouco mais da metade dispõe desse serviço.


Na opinião do presidente da Anatel, Plínio de Aguiar Júnior, a ‘interiorização’ do celular, a qualidade dos serviços e preços mais baixos para o consumidor são os principais objetivos do órgão regulador. Ele acredita que mesmo com 100 milhões de celulares, ainda há espaço para crescimento desse mercado.


Para que a rede chegue a todos os municípios, a Anatel está preparando uma nova regra para os leilões das licenças de terceira geração. Em vez de só adotar como critério o maior valor pago pela licença, a agência vai estabelecer metas para as empresas levarem suas antenas a lugares onde não há cobertura.


‘A gente não pode incorrer no erro que a Europa incorreu nos leilões de 3G, quando chegou-se a valores enormes das licenças, levando gigantes da telefonia, como a France Telecom, a situações financeiras delicadas’, observou.


Esse novo modelo prevê que o dinheiro a ser pago pela licença seja uma espécie de caução, revertido posteriormente para a própria empresa, caso cumpra todas as metas. Para cumprir as metas, a operadora poderia, por exemplo, instalar os serviços de 3G nos grandes centros e levar a tecnologia atual para o interior.


A área técnica da Anatel já obteve o sinal verde do conselho e está trabalhando nessas regras do edital, que devem ser concluídas até meados de 2007, segundo o superintendente de Serviços Privados da agência, Jarbas Valente. O órgão regulador ainda não marcou data da licitação, mas o leilão ficará provavelmente para 2008, já que, após concluir as regras, leva-se cerca de seis meses para lançar o edital.


‘A gente está bastante avançado, é só uma questão de fazer alguns acertos, mas é para breve’, assegurou Plínio, lembrando que, como os custos dos serviços de 3G ainda estão elevados, essa evolução não é, por enquanto, uma grande demanda de mercado.


Antes de leiloar as licenças de 3G, a Anatel vai pôr à venda, no início de 207, freqüências para operação do Serviço Móvel Pessoal (SMP) em São Paulo e no Nordeste. O presidente da agência está confiante que agora será diferente das outras três licitações, em que não apareceram compradores. ‘Desta vez, há pelo menos um interessado natural, que é a Vivo’, já que precisa de freqüências para expandir sua rede com a tecnologia GSM.


Uma das principais preocupações da Anatel é que haja quatro operadoras por área para garantir a competição. A Agência, segundo Plínio, está acompanhando com atenção os movimentos de fusões e aquisições de empresas. Um exemplo é a eventual compra da TIM pela Claro, que eliminaria do mercado um competidor de peso.


Se antecipando à necessidade de avaliações futuras, a Anatel, a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça (SDE) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já acertaram uma parceria para integrar procedimentos e bases de informação. ‘Já tínhamos uma aproximação razoável e agora decidimos fazer uma integração forte para que as nossas instituições sejam mais eficazes, fortes e transparentes’, disse Plínio. De início, eles vão trabalhar em cinco casos hipotéticos de concentração de mercado, entre eles a venda da TIM.


O principal entrave para o avanço da telefonia celular, na avaliação de Plínio, será a baixa renda das camadas da população que ainda não têm o serviço porque não podem pagar a conta. ‘O celular, sobretudo com o fenômeno do pré-pago, já está atingindo a classe E, mas, mesmo assim, vai ter um momento em que vai saturar’, disse.


Estudos da Anatel mostram que o celular só vai se massificar no Brasil quando for vendido do fabricante ao operador por US$ 20. Hoje ele custa cerca de US$ 60.


Com o crescimento vertiginoso do celular, nos últimos anos, também aumentou o número de queixas. Tentando assegurar a melhora na qualidade dos serviços e do atendimento ao cliente, a Anatel lançará em janeiro o novo regulamento do SMP, com mais direitos para os usuários e obrigações para as empresas, além de novos indicadores de medição de qualidade.’


TV DIGITAL
Ceila Santos


Jornal, futebol e novela das oito entram no celular com a TV digital


‘Pode até parecer novidade, mas a TV no celular é um serviço disponível há dois anos no mercado brasileiro. A sensação de que parece uma oferta do futuro não é por acaso. O usuário poderá assistir à novela das oito, qualquer jornal televisivo ou uma partida de futebol no seu celular enquanto estiver fora de casa. E, assim como ocorre no aparelho de TV, não pagará nada por essa transmissão.


Essa realidade, porém, está na dependência da chegada da TV digital ao País. Por enquanto, o que o usuário pode ver no celular nem sempre se trata da programação da TV aberta. São seriados, jornais, desenhos e até filmes, todos transmitidos via internet móvel pelo celular e, detalhe, na hora que usuário estiver disposto a pagar pelo conteúdo.


A operadora Vivo até já replica os sinais de TV da Bandeirantes e da portuguesa RTP de graça no celular, por meio do conceito streaming, mas cobra pelo conteúdo dos 15 parceiros internacionais entre R$ 1,50 e R$ 6,00 para o usuário baixar os vídeos na hora que for mais conveniente.


‘A Vivo tem mais de 1,2 milhão de celulares compatíveis para baixar vídeos ou streaming. Desse total, 70% já assistiram TV por meio streaming (serviço gratuito) e 30% já baixaram vídeos para verem no seu celular (serviço pago)’, informa Alexandre Fernandes, diretor de Produtos e Serviços da Vivo.


Pioneira nessa oferta, a operadora TIM não informa o desempenho da demanda pelo TIM Acess TV, cujo preço inclui R$ 0,92 por minuto de acesso ao conteúdo. Já a Claro relançou o serviço, em setembro deste ano, com 10 canais – no passado, só tinha a BandNews – e passou a cobrar pelo tempo (dias ou semanas) que o usuário acessa o conteúdo, em vez da única opção de mensalidade fixa. Marco Quatorze, diretor de Serviço Agregado da Claro, informa que 20% dos usuários dos aparelhos compatíveis para TV no celular já utilizaram o serviço.


A aposta no potencial dessa oferta é grande. Tanto que há executivos que acreditam que a TV no celular via internet (streaming e vídeo sob demanda) poderá superar a oferta da TV digital gratuita no celular. Isso porque ninguém tem idéia de quando a TV digital estará disponível no celular.


Primeiro porque não existe celular capaz de receber sinais de TV digital, enquanto a TV via internet já está disponível em mais de 25 aparelhos. Considerando que o ciclo de troca de celulares ocorre a cada dois anos, a probabilidade de 10% dos 100 milhões de usuários terem um celular compatível com streaming e vídeo sob demanda antes da chegada da TV digital é grande.


Outra razão pela qual a chegada da TV digital no celular ainda é uma incógnita está ligada à interoperabilidade da tecnologia das redes móveis, que operam no padrão CDMA/EV-DO e GSM/GPRS, com os sinais de emissão da TV digital. No Japão, cujo modelo tecnológico será baseado no sistema de TV digital do País, o padrão utilizado pelas operadoras que transmitem TV digital é W-CDMA (considerado uma das tecnologias de terceira geração para o Brasil).


O anúncio da Gradiente de que fabricará um celular apto à TV digital pode mudar muito o cenário de oferta da TV no celular caso o aparelho esteja disponível até dezembro de 2007, quando está prevista a chegada da TV digital pelo governo.


Mas, no mínimo, o consumidor terá de aguardar o desafio dos acordos entre as operadoras e as emissoras, além de tal oferta passar pelo crivo do governo. Independentemente de como serão superados esses desafios, o fato é que as operadoras parecem ter mais interesse na interatividade que na concessão de canais da TV digital.


‘Hoje o processo de venda dos canais exclusivos como ShopTime é totalmente desvinculada do aparelho e, com a interatividade, esse processo poderá ser feito via TV ou via celular’, aponta Quatorze. Ninguém dúvida que a interatividade revolucionará a oferta da TV, seja pelo celular ou pelo televisor.


Mas, enquanto essa novidade não chega, a TV no celular pela internet já representa um diferencial na receita de dados das operadoras. Prova disso é que apenas a Vivo não cobra pelo tráfego dos vídeos baixados nem do streaming, mas os usuários da Claro e da TIM precisam ter um plano de acesso á internet para poder baixar vídeos dos seus parceiros ou assistir à TV via streaming.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


SBT enfrenta crise de afiliadas


‘As confusões de Silvio Santos na programação do SBT, mesmo que folclóricas, vêm incomodando, e muito, as afiliadas do canal.


No mercado já é fato que uma série de praças da emissora pelo Brasil tem procurado outras redes tentando uma mudança de sinal. Entre as afiliadas mais insatisfeitas com o SBT estão as da região Nordeste, onde o canal sempre foi forte.


A crise se acentuou depois que a cabeça de rede (em São Paulo) passou a não divulgar com antecedência a programação do canal. Sem saber ao certo que sinal nacional irá transmitir, e em que horário irá transmitir, as afiliadas ficam praticamente perdidas.


Com isso, são muitas as praças que passaram a priorizar a venda de espaços comerciais locais em detrimento dos nacionais. Um péssimo negócio para quem tenta crescer em faturamento.


Nos bastidores, executivos de afiliadas do SBT não escondem o descontentamento. De dois anos para cá, a rede perdeu várias praças importantes. Foram três no Rio Grande do Sul que migraram para a Record, três em Rondônia que foram para a RedeTV! e uma no Rio de Janeiro que trocou o sinal da emissora de SS pelo da Globo.


Enquanto o SBT luta para manter o alcance nacional, a Record se aproveita da fraqueza da concorrente.


A rede tem sido procurada pelas afiliadas insatisfeitas com o SBT e pretende lançar em 2007 a Record Nordeste, plataforma de eventos e negócios regionais unindo as praças da região.


Nele, afiliadas da rede no Nordeste unem forças em eventos de expressão nacional e na venda de espaços comerciais dos mesmos fortalecendo a imagem da rede e transformando os grandes comerciantes locais em fortes anunciantes.


entre-linhas


A Globo recusou filmes publicitários com a imagem de gente da concorrência – como os meninos do Pânico (da RedeTV!) e o chef Eduardo Guedes (da Record), mas Lavínia Vlasak passou. Atual estrela da Record, a moça pintou na tela da ex-casa em comercial da Renner.


A final da Copa do Mundo de Ginástica Artística rendeu à Band, no domingo, 5,1 pontos de média e picos de 8,1, durante a exibição do evento (das 14 h às 17h19). A emissora ficou em terceiro lugar no Ibope, passou à frente do SBT e ainda ficou sete minutos em segundo lugar.’


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