Repórteres são, cada vez mais, celebridades. Se antes realizavam uma única tarefa, hoje são ‘multiplataforma’. Profissionais de jornais, que costumavam contar com caneta e papel para apurar seus textos impressos, recentemente passaram a fazer uso de gravadores digitais, câmeras e outros apetrechos tecnológicos para produzir arquivos em áudio e vídeo para os sítios de suas publicações. O que poucos parecem avaliar, opina Kim Fletcher em artigo no Guardian [13/11/06], é o efeito de toda esta tecnologia no ego dos jornalistas.
Os sítios de internet e, posteriormente, os blogs, acabaram por modificar a relação dos profissionais de imprensa com seu público. Hoje, qualquer jornal tem uma versão online e, hospedados nela, estão blogs escritos por membros de sua equipe. Com esta mudança na relação, os repórteres começaram a aparecer mais. Conseqüentemente, diz Fletcher, passaram a pensar mais em sua imagem e sua transformação em ‘celebridades’. Para completar, na medida em que acreditam que suas opiniões são interessantes, os repórteres disponibilizam mais energia para seus blogs – onde contam sobre o que apuram – em vez de dedicar mais tempo à apuração de informações em si.
Diante deste novo panorama, quem trabalha nos bastidores fica automaticamente menos valorizado. É o caso dos subeditores. Os jornais americanos passaram, nos últimos anos, a ter dificuldades para contratá-los, por não se tratar mais de uma profissão atrativa. Para muitos repórteres, estes profissionais acabam sendo ‘uma pedra no meio do caminho’ de seu trabalho.
Por esta razão, é mais comum observar reações de desdém por parte dos repórteres do que elogios aos subeditores – que, nas palavras de Fletcher, conseguem sintetizar artigos, fotos e títulos em páginas atrativas, fazem uma diagramação gráfica que atrai a atenção do leitor e transformam informações de diversas fontes em uma narrativa clara. Muitos repórteres já ganharam prêmios graças ao trabalho de seus subeditores. Por tais motivos, ele pensa ser impossível pensar no futuro do jornalismo sem pensar neles.
Função modernizada
Em um mundo digital que exige a realização de diversas tarefas em diferentes plataformas, há quem acredite que os subeditores sejam espécie em extinção. Fletcher, entretanto, discorda. ‘Quem mais é capaz de pegar um conteúdo (escrito, em vídeo ou áudio) e recolocá-lo em diferentes plataformas como jornais (que ainda vão existir por um longo tempo), sítios, celulares, dentre outros?’, questiona.
Esperar que os repórteres se transformem em criaturas completamente auto-suficientes seria auto-enganação, especula ele. Além do mais, sem o benefício de um segundo olhar sobre o conteúdo, os repórteres dificilmente produziriam nos padrões profissionais esperados. O que é preciso fazer para assegurar esta qualidade, defende Fletcher, é atualizar a função de subeditor.
A tarefa de ser um subeditor multimídia exigirá flexibilidade e imaginação e, mesmo que ele ache que está sendo transformado em um simples ‘facilitador de conteúdo’, a recompensa é estar no coração de todo o processo de produção. ‘Quem sabe assim não veremos uma mudança na relação do repórter com o subeditor para uma mais próxima à do produtor com o repórter de TV, onde um assessora o outro?’, indaga.