Governo acabrunhado, imprensa vigilante. A informação de William Bonner no Jornal Nacional de quinta-feira sobre a falha em dos reversos da turbina do Airbus da TAM, além de contribuir para o esclarecimento da catástrofe em Congonhas, tem uma formidável importância política: o governo federal escondeu-se durante 48 horas, não conseguiu encarar a Nação diante da maior catástrofe aérea da história, nem sequer apresentou condolências às famílias enlutadas. Só na noite desta sexta-feira teremos o presidente da República oferecendo à sociedade brasileira algum tipo de consolo.
Em compensação, a imprensa não abdicou dos seus deveres, estava lá em Congonhas minutos depois da tragédia e até hoje continua lá. A informação sobre a falha no reverso da turbina direita do Airbus não foi uma tirada denuncista como as que estamos acostumados a ler ou ouvir. Antes de ser levada ao ar, foi checada com o próprio presidente da TAM, e a contestação do empresário foi rebatida por novas informações.
Tudo indica que a falha no reversor (que funciona como uma espécie de freio-motor do jato) foi decisiva para levá-lo além dos limites da pista. A catástrofe evidentemente não está inteiramente explicada, falta apurar ainda se as condições do piso – entregue ao intenso tráfego antes do prazo previsto – não se somou à falha mecânica.
Uma coisa parece certa: ficamos sem governo durante três dias, mas não ficamos sem informações.
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Todos os partidos sonham em aproveitar as regalias da legislação eleitoral para apresentar-se durante a exibição do telejornal noturno da Rede Globo, melhor palanque político não pode haver. Mas, ontem à noite, os cinco minutos do PRB foram desastrosos para o novo partido.
O âncora do programa foi José Alencar, vice-presidente de uma República, que vive uma de seus piores momentos. O ex-ministro da Defesa que não se distingue muito do seu desastrado sucessor, parceiro do senador-bispo Marcelo Crivela e padrinho do ministro do Futuro, Mangabeira Unger.
As bruxas estão soltas, é verdade, mas neste caso ofereceram uma grande justificativa para a urgência da reforma política.