Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sobre espaços e comparações

A coluna de Byron Calame desta semana [29/1/06] traz uma entrevista feita pelo ombudsman com o editor-executivo John Geddes, responsável pela definição de espaço a ser dedicado ao conteúdo jornalístico no New York Times. O jornalão nova-iorquino determina a distribuição de espaço de suas páginas anualmente, com base em considerações de custos e de quanto tempo os leitores dispõem para o ‘consumo’ de notícias.

O diário não submete a divisão de conteúdo editorial aos mesmos quesitos usados para os espaços destinados aos anúncios publicitários. Isso significa que a quantidade das peças e seus tamanhos não influenciam no espaço jornalístico: ele continua o mesmo, de acordo com a alocação anual. Calame perguntou a Geddes sobre a experiência diária da distribuição de espaço, com suas regras e desafios.

Alguns dos principais pontos da entrevista:

Planejamento para o ano inteiro

O que conta é o orçamento feito para o ano. Geddes afirma que o objetivo é, com todas as diminuições e aumentos de notícias ao longo dos meses, conseguir fechar o ano dentro do orçamento planejado. Ele conta que o Times conseguiu isso no ano passado.

Mudanças no orçamento

Calame quer saber o que faria o orçamento anual aumentar, e o editor-executivo afirma que basta que a equipe o revise e constate que ele precisa ser maior. O orçamento do Times, no entanto, não muda há oito anos, ressalta Geddes. Segundo ele, isso não é uma questão econômica, mas também uma questão de se analisar o espaço que se tem. Se a equipe entender que este espaço é suficiente para suprir as necessidades dos leitores diariamente, ele continuará o mesmo.

Edição de domingo

Geddes diz que a edição de domingo do Times também tem um orçamento, mas ele é mantido separadamente ao orçamento das edições diárias. Todas as seções de domingo têm seu próprio orçamento.

Se algo extraordinário acontece

‘O dia, em termos de espaço, começa às 11 horas da manhã, quando um editor-sênior vai a cada mesa e pergunta aos editores o que eles têm para o dia, se eles precisam de mais espaço, se há algo que deve ter destaque’, conta Geddes. Estas informações são levadas para a equipe que divide o espaço, que irá julgá-las. A partir daí, as matérias tomarão formato. Se surge uma notícia especial até às cinco da tarde, é possível aumentar o tamanho do jornal, pois é neste horário que a impressão é planejada. ‘Após este horário, as opções para o aumento do jornal são bem mais limitadas’, afirma ele. Geddes conta que, se alguém importante morre no fim do dia, por exemplo, as prensas são paradas e modificações são feitas nas páginas – como a substituição de um anúncio pelo obituário.

Diante de um grande evento

Se o jornal sabe que um grande evento está próximo, o espaço para ele já é reservado. ‘Naturalmente, algo como o [furacão] Katrina nos pegou de surpresa e demandou uma grande porção de espaço por meses. Nos meses que se seguiram, nós decidimos que a história dizia respeito a todas a editorias, desde negócios e nacional a ciência; dizia respeito a todos nós’. Geddes conta que, para o Katrina, foram separadas duas colunas do orçamento de cada editoria pelo resto do ano.

A importância da comparação

Há sempre uma triagem de notícias, num dia normal ou num dia cheio. ‘Lembre-se, o jornalismo deve contar o que é importante. [As notícias] são sempre comparadas [com outras notícias]. Se algo acontece em um dia calmo, quando nada mais está acontecendo no mundo, pode ganhar uma coluna de cobertura. Se a mesma coisa acontece em um dia muito agitado receberá um espaço menor. Há sempre a comparação porque nós tentamos capturar o que é importante hoje em um determinado espaço. E tentamos transmitir isso aos leitores usando o tamanho da cobertura como um indicador de importância’, conclui Geddes.