PT (Portugal Telecom) e Telefónica são sócias na Vivo. A Telefónica é acionista da PT. Esse cruzamento está no centro das acusações portuguesas contra a Telefónica. Os espanhóis ameaçam adquirir a própria PT se ela não vender a sua parte na Vivo.
Mas há um suposto conflito de interesse no conselho de acionistas da própria PT.
A Folha apurou que representantes do grupo Ongoing estiveram na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e disseram-se interessados em arrematar as últimas licenças de 3G (telefonia de terceira geração) do país, que serão leiloadas.
O presidente do Ongoing, Nuno Vasconcellos, negou. ‘Somos uma empresa de mídia e já estamos na Vivo. Seria um conflito ético até porque não queremos vendê-la’, disse.
Dono de cerca de 7% da PT, o Ongoing faz parte do que se chama ‘núcleo duro’ da operadora, com o Banco Espírito Santo e a Caixa Geral de Depósitos.
Juntos, eles detêm 22% da PT e são contrários à venda de sua parcela na Vivo.
Plano B
Há cerca de 20 dias, os espanhóis ofereceram 5,7 bilhões pela parte da PT na Vivo. A proposta foi negada porque os portugueses consideram a Vivo estratégica.
Sócia da operadora portuguesa, com 10% de participação, a Telefónica afirmou então que poderia fazer uma oferta hostil pela própria PT, uma forma de vencer a resistência sobre a Vivo.
Nos bastidores, os portugueses começaram a fortalecer o ‘núcleo duro’ buscando apoio de acionistas estrangeiros que possam votar contra uma possível oferta hostil da Telefónica.
Ao mesmo tempo, analistas acreditam que o Ongoing poderia estar interessado nas frequências 3G, a serem leiloadas neste ano, somente como uma forma de garantir a atuação da PT no Brasil, caso sua participação na Vivo seja vendida à Telefónica.
Caso perca a Vivo, a PT poderia compor com o Ongoing um consórcio no leilão de 3G.
Se isso ocorrer, a atuação do Ongoing seria parte de um ‘plano B’ para que a PT colocasse em prática uma proposta antiga de seus acionistas: competir com pacotes integrados (telefonia móvel, fixa, internet e TV paga) no Brasil, algo que eles não conseguem fazer tendo os espanhóis como sócios.
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Portugueses buscam apoio contra espanhóis
A articulação da PT contra a oferta de compra de sua participação na Vivo pela Telefónica teria chegado ao bilionário Carlos Slim.
Na semana passada, o empresário mexicano, que controla a Claro e a Embratel no Brasil, teria recebido Zeinal Bava, presidente da PT. Ambos se conheceram há quatro anos.
Na ocasião, a operadora portuguesa tinha recebido oferta do Sonaecom, que, mais tarde, revelou interesse em vender a Vivo à Telefónica por 1,5 bilhão.
Para conter os espanhóis no Brasil, Slim aceitou entrar na PT e, assim, o conselho de acionistas teve votos suficientes para negar a proposta do Sonaecom.
Desta vez, os acionistas contrários à venda já representam mais de 33% da companhia. Pelo estatuto, qualquer decisão tem de ser tomada com pelo menos dois terços dos acionistas.
Segundo a Folha apurou, mesmo assim eles querem Slim, que negou ter sido consultado.
O governo português também poderá ajudar, porque tem poder de veto nas decisões do conselho graças a uma ‘golden share’ (ação dourada), que lhe assegura esse direito.
Mas a União Europeia já pediu o fim dessa ‘golden share’. Caso a PT não acabe com esse papel, ficará mais difícil conseguir financiamentos na comunidade.
E ela vai precisar, caso parta para o ataque e decida comprar a parcela da Telefónica na Vivo. (JW)
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Disputa afeta consumidor brasileiro
Seja lá quem fique com a Vivo, o país poderá ter mais uma empresa competindo em nível nacional. E concorrência tende a favorecer o consumidor. Haverá mais pacotes combinados com preços 30% menores se comparados à compra isolada de cada serviço.