A Suprema Corte do México determinou, na semana passada, que o governador do estado de Puebla não violou os direitos da jornalista Lydia Cacho quando ordenou sua prisão por acusações de difamação. Apesar de uma investigação ter concluído que pelo menos 30 membros do governo, entre eles o governador Mario Marín, conspiraram para intimidá-la, a votação dos juizes terminou em seis a quatro contra a jornalista.
Lydia foi presa em dezembro de 2005 em Cancún pela polícia do estado de Puebla e levada até a cidade de Puebla, onde ficou brevemente detida e foi libertada sob fiança. A jornalista diz que foi levada pelos policiais sem explicações e sofreu abuso verbal durante a viagem. As acusações contra ela foram posteriormente retiradas. Uma gravação telefônica divulgada pela imprensa mexicana mostrava uma conversa entre Marín e o empresário Kamel Nacif, partidário do governador, em que os dois homens comemoravam a prisão de Lydia e se referiam a ela em termos desrespeitosos.
Denúncia
Em um livro publicado em 2005, Demônios do Éden, a jornalista denunciava uma rede de pedofilia em Cancún. Ela acusava o empresário Jean Succar Kuri de atrair meninas menores de idade a sua casa e forçá-las a manter relações sexuais com ele e seus amigos. Lydia também citava Nacif e alegava que ele estava pagando pela defesa de Kuri – que enfrenta julgamento por pornografia e abuso infantil.
A gravação entre Marín e Nacif levou a população a pedir pelo impeachment do governador. Lydia, por sua vez, abriu um processo alegando que seus direitos civis haviam sido violados, e a Suprema Corte abriu um inquérito. O painel de 10 membros da corte decidiu, por unanimidade, excluir a gravação como prova na investigação, já que sua procedência era desconhecida. Se a decisão do tribunal fosse favorável à jornalista, Marín perderia a imunidade formal e poderia ser acusado oficialmente de violações dos direitos humanos.
Golpe
‘A decisão me parece um golpe ao jornalismo mexicano’, afirmou Lydia. Ela acredita que, a partir de agora, os jornalistas passarão a praticar a autocensura porque ‘a Suprema Corte determinou que políticos corruptos têm sempre mais poder que vítimas de crimes’.
A imprensa reagiu à notícia com incredulidade. ‘Estou chocada com o que aconteceu’, afirmou a jornalista Rossana Fuentes-Berain. ‘É um dia negro para o jornalismo mexicano e para os direitos humanos. Eu acho que os membros da Suprema Corte, ainda que a votação tenha sido equilibrada, não estavam dispostos a ir além das tecnicalidades da lei’. Informações de James C. McKinley [The New York Times, 30/11/07].