Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tereza Rangel

‘Uma campanha publicitária veiculada em páginas de futebol em UOL Esporte deixou internautas perplexos. A fornecedora de material esportivo de Corinthians e Flamengo, a Nike, decidiu aproveitar o jogo entre os dois times no próximo domingo, para fazer uma campanha publicitária. Um dos eleitos foi o UOL. A campanha invade o espaço editorial, sobrepondo-se ao noticiário, com as mensagens ‘Só o Timão interessa. Mostre seu amor à camisa’ ou ‘Só o Mengão interessa. Mostre seu amor à camisa’, conforme as imagens abaixo.

O UOL tem páginas especiais para 40 times de futebol. A publicidade, além de ser invasiva, ofende o internauta-torcedor dos 38 times que não sejam Corinthians ou Flamengo. Ela poderia ter sido limitada à home page de futebol e às páginas relacionadas a Corinthians ou Flamengo. Enquanto for veiculada em qualquer página de futebol, internautas vão reclamar. Leitores escreveram para o UOL, como o palmeirense Rodrigo, cujo texto reproduzo abaixo.

‘Tenho certeza de que o UOL como veículo de informação e de interesse público é isento de parcialidades políticas, religiosas ou até de torcida por qualquer time, porém o cuidado em direcionar os anúncios ao seu público-alvo é essencial, da mesma forma que não se anunciam ofertas de carros Jaguar no jornal Notícias Populares ou um novo sanduíche com hambúrguer bovino de 200g em regiões onde se prega o hinduísmo. Da forma com que fui atingido por esse comercial, o resultado foi o inverso do desejado pelo anunciante, a não ser que a idéia seja mesmo chocar os oponentes e, aí, esqueça tudo que escrevi’.

Com a palavra, o UOL

Para o diretor de publicidade do portal, ‘a publicidade mencionada está dentro dos padrões técnicos e editoriais do UOL. Nem toda publicidade agrada a todo mundo – nesse caso, quem não é torcedor do Corinthians ou do Flamengo pode não gostar da peça. Mas como o tema é a paixão pelo futebol, o público que vai responder de forma mais veemente a esta publicidade é o público apaixonado pelo esporte, que lê o conteúdo de futebol do UOL – como aliás mostram as mensagens recebidas.’

P.S. da ombudsman

A escolha das home pages de São Paulo e Vasco como exemplo da publicidade não têm objetivo de provocar ninguém. Seguiram o critério das segundas maiores torcidas dos Estados de São Paulo e do Rio, apuradas em pesquisa do instituto Datafolha, já que justamente Flamengo e Corinthians são os times com o maior número de torcedores.

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Medalhas, medalhas, medalhas (25/07/2007)

No jornalismo, fotos de eventos esportivos rendem imagens excepcionais. Na Internet, dão uma audiência igualmente excepcional.

A agência de notícias Reuters, por exemplo, edita livros de fotografia especialmente de esportes e, em seus livros de fotos gerais, dedica seções especialmente para atividades esportivas, tamanha a riqueza das imagens e o interesse do público.

Os Jogos Pan-Americanos começaram dia 12 e terminam no próximo domingo, dia 29. O UOL, em sua home page, já veiculou mais de 120 fotos do Pan. A edição, porém, preferiu as fotos de comemorações às de esporte propriamente ditas. Menos de 45% das fotos mostram atividades esportivas.

O mesmo acontece no site especial dos jogos editado por UOL Esporte. As páginas editadas por dia têm três fotos principais cada. Entre o dia 12 (a estréia) e o dia 24, 39 fotos foram editadas nesses espaços. Dessas, 17 são de atletas no momento em que recebem suas medalhas, nove mostram a competição, três são da abertura, cinco de momentos de festejo e cinco de outros temas do Pan.

Os álbuns de fotos, e são inúmeros, também estão pobres em fotos de momentos que dêem a dimensão das disputas, esforços físicos, dor dos atletas, enfim, daquelas imagens que ficarão guardadas na memória. Como exemplo, seleciono duas fotos que o UOL não mostrou do ouro no salto com vara de Fabiana Murer. As fotos são das agências AFP e EFE, respectivamente.

O fato foi notado por internautas. Leandro, do Rio, escreveu à ombudsman para se queixar.

‘Tenho estranhado a cobertura de imagem do Pan feita pelo UOL. Aliás, não só pelo UOL mas também por outras mídias. Vemos enormes quantidades fotos de comemorações, brados de vitória e pouquíssimas imagens que nos mostrem a perfomance do atleta. Por exemplo, ainda que tenham algo de clichê, fotos da execução do salto com vara de Fabiana Murer expressariam o fato que enseja a notícia, sem falar da beleza em si da imagem de um salto. Porém, neste e noutros casos o que vemos é uma galeria de atletas sorridentes, mas sem imagens dos seus feitos. Existe alguma restrição à utilização deste tipo de imagem internamente ao UOL? Alguém detém os direitos de imagem, o que limitaria o seu uso pelo UOL? Neste caso, não seria imprescindível em nome do bom jornalismo abordar o fato como um tema e problematizá-lo junto aos seus leitores e à opiniào pública?’

Ainda há tempo para o UOL fazer uma edição impecável das fotos. Para isso, o UOL terá de não se conformar com as primeiras imagens disponibilizadas pelas várias agências e seus fotógrafos. Terá de garimpar a melhor imagem. A entrega das medalhas é o momento de coroação de um atleta, mas a conquista, o esforço e a riqueza da imagem devem ser privilegiados.

A redação informa que está preocupada com a questão e que vai contratar um editor de fotografia para melhorar a qualidade das imagens divulgadas pelo portal. O gerente geral do UOL Esporte, Alexandre Gimenez, diz que as críticas fazem sentido e que vai cuidar para que haja mais fotos de competição nos álbuns do Pan daqui para a frente.

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Erro reconhecido (25/07/2007)

O UOL reconheceu ontem à noite ter errado no enunciado da entrevista com o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. Às 22h15, publicou uma correção, cujo texto é reproduzido abaixo.

‘Diferentemente do que dava a entender título publicado na home page do UOL nesta segunda (23), o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, não admitiu erro da empresa no aeroporto de Congonhas. Ele apenas admitiu que a Infraero tem falhas.’

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Manchete forçada (24/07/2007)

Ontem à noite, o UOL News entrevistou o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. A Infraero é a estatal que administra 67 aeroportos, 81 unidades de apoio à navegação aérea e 32 terminais de logística de carga. Subordinada ao Ministério da Defesa, é um dos órgãos responsáveis pela aviação no país. Cabe a ela cuidar da infra-estrutura, como construção e manutenção de pistas de pouso, pátio e terminais de passageiros e cargas. Arrecada tarifas de embarque de passageiros, de navegação aérea, de pouso e de permanência de aeronaves em aeroportos.

A entrevista mostra o esforço da equipe em conseguir falar com os principais responsáveis pela aviação no país e tentar colocar um pouco de luz sobre a crise por que o setor passa. O UOL decidiu alçá-la à manchete do portal. Para isso, porém , forçou a barra para conseguir um enunciado forte que merecesse manchete. Cometeu um erro.

A manchete do UOL, que entrou às 19h53 de ontem e ficou lá até as 7h42 de hoje: ‘Brigadeiro admite erros da Infraero em Congonhas’.

Transcrição da entrevista mostra que o brigadeiro falou de forma generalizada e não se referia especificamente a Congonhas.

UOL News – O senhor acredita que a Anac funciona como deveria?

Brigadeiro José Carlos Pereira – Olha, eu não acredito que nenhuma organização do mundo funcione como deveria. Eu acredito, sim, que eles estão fazendo o possível para funcionar como deveriam, ok?

UOL News – Inclusive a Infraero não funciona como deveria?

Brigadeiro José Carlos Pereira – Ah, não. Claro, eu admito que a Infraero tem falhas também. Todos nós temos falhas. A vida é um constante corrigir falhas e aprimorar, não é?

Em vez de aproveitar a deixa do brigadeiro e emendar perguntas mais objetivas, o UOL News partiu para a próxima pergunta da lista: ‘essa concentração de vôo que havia em Congonhas, isso se deve à pressão das empresas?’ (Leia a transcrição da entrevista feita pelo próprio UOL News).

Para poder chegar à manchete, faltaram perguntas do UOL News que forçassem o brigadeiro a listar as falhas da Infraero, inclusive em Congonhas. O presidente da Infraero reconheceu falhas. Que falhas? O UOL poderia ter perguntado, por exemplo, se foi um erro autorizar o uso da pista sem o grooving (as ranhuras), se houve falha ao considerar segura a pista principal de Congonhas, enquanto especialistas dizem que ela deveria ter 300 ou 500 metros mais, se os gastos com publicidade da Infraero (que cresceram 200% em relação ao governo anterior) foram excessivos. Com as respostas, talvez, o UOL conseguisse revelar como as tais falhas afetaram o aeroporto de Congonhas. Daí, sim, a manchete poderia ser verdadeira.

Entre os internautas que escreveram à ombudsman para reclamar, destaco o que diz: ‘‘Brigadeiro admite erros da Infraero em Congonhas’. Em nenhum momento isso aconteceu. Basta ouvir a entrevista. Ele apenas admite que a Infraero (e todas as organizações do mundo) possuem falhas, mas não admitiu erro da Infraero em Congonhas. Espero que seja corrigido’.

O UOL reconheceu o erro mais de 24 horas de tê-lo cometido, limitando a correção às páginas de últimas notícias. Como foi manchete do portal, deveria haver uma menção na home page.’