Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

The Digg Reel destaca
hits semanais na web


Leia abaixo a seleção de domingo para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Domingo, 27 de janeiro de 2008


INTERNET


Marco Aurélio Canônico


Site cria ‘webjornal’ com hits da semana


‘Manter-se atualizado sobre os últimos hits da internet é algo que tem se tornado tão importante quanto difícil, dada a profusão de sites, vídeos e histórias que brotam diariamente.


Se você é dos que gostam de saber das novidades enquanto elas ainda estão quentes, mas não tem tempo de abrir todos os links que lhe mandam por e-mail (ou de vagar por sites como o YouTube), vai apreciar o ‘webjornal’ The Digg Reel.


Um subproduto do hiperpopular www.digg.com -mistura de blog, rede social e site de notícias em que tudo é submetido e votado pelos internautas-, o www.thediggreel.com estreou há duas semanas com o formato de telejornal.


Apresentado pela engraçadinha Jessica Corbin, o ‘webjornal’ destaca os vídeos da internet mais assistidos pela comunidade do Digg.


A proposta é apresentar entre sete e dez vídeos por semana, em ordem crescente de número de votos recebidos, com as edições entrando on-line às quartas-feiras.


Há também a promessa de alguns ‘por trás da cena’, para mostrar como os vídeos mais populares foram feitos -mas, pelo menos até a segunda edição, a idéia ainda não havia sido posta em prática.


Comentários na tela


A semelhança com os telejornais também aparece (infelizmente) no estorvo que são os comerciais -aqui, inseridos no meio da apresentação.


Há diferenças notáveis, no entanto, a começar pelo fato de que as videonotícias são, invariavelmente, escolhidas pelos internautas.


A interação característica da internet também aparece com a inserção, após cada vídeo, de alguns dos comentários deixados pelo público no site.


Analisando as duas primeiras edições, nota-se que o tom é puxado para o humor, não apenas nos vídeos mais assistidos mas também na apresentação de Corbin e nos comentários selecionados para aparecerem.


Com a proximidade das eleições presidenciais norte-americanas, os vídeos de temática política, como o do apresentador John Stewart debochando da mídia e de Hillary Clinton, um dos mais vistos das primeiras edições, certamente surgirão com mais regularidade. E o Digg Reel será uma boa biruta para indicar em que direção sopram os ventos da internet.’


CRÔNICA


Bossa nova


Carlos Heitor Cony


‘RIO DE JANEIRO – Não chega a ser uma polêmica entre os entendidos, mas uma discussão que, de vez em quando, inflama os meios especializados. Afinal, quem por primeiro batizou a bossa nova de bossa nova?


É praia estranha para mim. Conhecia a palavra ‘bossa’ desde o delicioso samba de Noel Rosa, ‘o samba, a prontidão e outras bossas, são nossas coisas, são coisas nossas’.


Cinqüenta anos atrás, ouvi novamente a palavra, mas não ainda como referência ao estilo musical que começava a ser praticado por uns rapazes, alguns deles meus amigos. Foi na redação de um jornal. Com outros colegas, inauguramos o ‘copy desk’ de tradicional matutino, que se recusara até então a adotar um grupo de profissionais que davam uniformidade aos textos das reportagens.


Como sempre acontece diante das novidades, a turma mais antiga da redação estranhou, não entendia o que fazíamos ali. Foi criado um espaço cercado de vidros para que houvesse realmente um ‘desk’ destinado a mexer nos textos de todos.


O diretor responsável pelo jornal era um senhor austero, de voz e gestos solenes, seria o último a entender o que fazíamos ali. Uma tarde, mostrando a um visitante ilustre as dependências do jornal, aproximou-se de nós e, sem saber como classificar-nos, informou com hierática certeza: ‘Aqui é… aqui é… a bossa nova!’.


Foi a primeiríssima vez que ouvi a expressão. Só então reparei que ela estava sendo usada para designar um tipo de música popular que marcaria aqueles anos. Bem verdade que o estilo, ainda sem a batida do João Gilberto, tinha antecedentes respeitáveis, e Juca Chaves chamara JK de ‘presidente bossa nova’. Nada disso me impressionou. Guardei aquela voz solene de um diretor austero: ‘Isso aí é… a bossa nova’.’


TELEVISÃO


Daniel Castro


Casa de Ana Maria Braga na Globo terá galinheiro e horta


‘Um galinheiro, uma horta e um lago estão entre os ‘reforços’ da Globo para ajudar o ‘Mais Você’ a vencer a Record no Ibope a partir de 10 de março, quando o programa de Ana Maria Braga passará a ser transmitido do Rio de Janeiro.


‘Há três anos eu peço um estúdio diferenciado. O programa tem de ter um ‘up’ de conteúdo e na forma de apresentação. Aqui em São Paulo não tem como crescer’, conta Ana Maria.


Inicialmente, o ‘Mais Você’ ocupará um estúdio de 600 m2 no Projac, onde contará com quase todo o elenco da rede. Quatro meses depois, mudará para uma casa cenográfica.


Apesar do galinheiro e da horta, a casa será moderna -um loft, com câmeras fixas e paredes de vidro. ‘A idéia é mostrar se está chovendo ou fazendo sol’, diz a loira.


Ana Maria pretende mostrar toda a construção da casa: ‘Vou começar pela horta e dar dicas de canteirinhos básicos em casas e apartamentos’.


Parte da produção do ‘Mais Você’ continuará em São Paulo, de onde haverá entradas ao vivo diariamente. ‘Estou chamando o novo ‘Mais Você’ de ‘Mais Brasil’. Vou abrir janelas para São Paulo, Brasília, Belo Horizonte. Conto com a estrutura do jornalismo. Se tiver algum fato importante acontecendo em alguma capital, a gente passa’, adianta.


Ana Maria continuará morando em São Paulo. ‘Estou procurando um flat no Rio. Vou com calma. Só trabalharei lá de segunda a quinta.’


DICAS DE PEITO


Uma das musas do Carnaval carioca, Luiza Brunet será o destaque do ‘Superbonita’ momesco a ser exibido pelo canal GNT nesta sexta. No programa, dará dicas para as Renatas Banhara (modelo que desfilou em todas as escolas de SP) de primeira viagem. Tipo essa: ‘O que eu acho interessante para as madrinhas de bateria ou quem sai pela primeira vez é fazer um treinozinho em casa. A sandália tem que ser bem presa, quase como patins’. Para quem tem seios grandes e não abre mão do conforto de um sutiã, la Brunet recomenda ‘mandar bordar em cima’ de uma peça ‘com modelagem bem bacana’. ‘Aí pode sambar à vontade que nada sai do lugar’, atesta.


OS NOVOS MUTANTES


Novos mutantes aparecerão nos próximos capítulos de ‘Caminhos do Coração’, novela da Record. Nesta quarta, entra na trama Iara (Suyane Moreira). ‘Como na mitologia, ela carrega os homens para o fundo das águas’, conta o autor, Tiago Santiago. Depois do Carnaval será a vez de Meduso -’cujo olhar pode paralisar ou até mesmo matar uma pessoa’- debutar em ‘Caminhos’. Com toda a mitologia a seu dispor, Santiago também lançará mão, em breve, do Minotauro, ‘um homem com genes de touro, reforço para a liga dos mutantes do bem’.


A HORA DE MALU


Aos 36 anos, a experiente Malu Galli terá seu primeiro grande trabalho na Globo em ‘Queridos Amigos’, minissérie que estréia dia 18, na qual viverá Lúcia. ‘Por ser psicoterapeuta e ter um casamento saudável, a casa de Lúcia funciona como um centro para o grupo de amigos. Ela é receptiva com todos. No meio da minissérie, vai enfrentar um conflito, mas não posso adiantar’, diz. Malu tem 18 anos de teatro e dez filmes no currículo, entre eles ‘Dom’ (2003) e ‘Achados e Perdidos’ (2005). ‘Na TV só fiz algumas coisas esparsas’, lamenta a carioca.


Sempre quis fazer TV e estou adorando estar nessa minissérie. Eu vivi o momento retratado nela. Em 1989, estava no auge da adolescência


MALU GALLI, atriz


ROCK ESTRELLA 1


A Globo vai dar uma força para o produtor musical João Guilherme Estrella, o ex-traficante retratado no filme ‘Meu Nome Não É Johnny’. Estrella, que está lançando seu primeiro CD, terá uma música na trilha da próxima novela das sete, o pop-rock ‘Madrugada’.


ROCK ESTRELLA 2


Além de Estrella, ‘Beleza Pura’ terá Frejat, com um tema original para Carolina Ferraz, e as novas cantoras Céu, Ana Cañas e Monica Besser. O tema de abertura será uma regravação de ‘Beleza Pura’, de Caetano Veloso, com a banda Skank -que tocará na festa de lançamento da novela, no próximo dia 10, na Oca, em São Paulo.


Pergunta indiscreta


FOLHA – Quantas peças tem sua coleção de vasos de cemitério?


RONALDO ESPER (estilista e colunista do ‘Superpop’) – Vasos de cemitério não tenho nenhum. Mas outros vasos tenho muitos. Vasos franceses, chineses de várias dinastias, etruscos, romanos e nacionais. Aqueles vasos de cemitério não eram para mim, não iriam sair do cemitério. Eu fui absolvido. O juiz entendeu que eram lixo. Ah, põe aí que, por uma questão de higiene e utilidade, também tenho vasos sanitários.’


Laura Mattos


A era dos neobaixinhos


‘Super Xuxa luta contra o baixo astral: a apresentadora perdeu seu programa diário na Globo e camela para chegar a 300 mil espectadores no cinema, resultado chocho para quem contava bilheteria em milhão. A rainha dos baixinhos não manda no reino dos neobaixinhos, filhos de uma geração politicamente correta, que vêem programa educativo na TV paga, cantam música de qualidade, ouvem falar sobre aquecimento global, aprendem a reciclar lixo e até lêem poesia.


Nessa nova era -em que pais parecem estar mais preocupados com o consumo cultural das crianças- nomes como o duo musical Palavra Cantada, antes restritos a filhos de ‘moderninhos’ e ‘intelectuais’, ganham o grande público.


A dupla mescla a formação clássica de Sandra Peres, 44, e a popular de Paulo Tatit, 52, e tem a proposta de criar canções infantis de qualidade. Começou em 1994 vendendo CDs pelo telefone e correio. Em um esquema totalmente independente, sem o apoio de uma grande gravadora, atingiu a marca de 14 títulos lançados com 1,4 milhão de cópias vendidas e prepara a turnê do CD ‘Carnaval’, que inclui shows no litoral e no Citibank Hall de São Paulo, em 2 e 3 de fevereiro. O álbum tem a participação de Arnaldo Antunes e seu filho, Bras, e de Mônica Salmaso. Para este ano, a dupla negocia um programa de TV com um canal fechado e um aberto.


‘O sucesso do Palavra Cantada reflete uma tendência de mudança na concepção da infância’, opina a educadora Gisela Wajskop, diretora do Instituto Superior de Educação de São Paulo – Singularidades.


Ela conta que foi convidada a dar uma palestra na Globo, anos atrás, quando a emissora acreditou que poderia transformar o programa da Xuxa em algo educativo. ‘O problema é que a Xuxa nunca teve essa imagem’, analisa Wajskop.


Para a educadora, os pais, ‘que antes deixavam os filhos dançar na boquinha da garrafa, começaram a ficar mais críticos’. ‘Isso tem a ver também com a melhoria da escolaridade no país e com os resultados negativos da geração cujos pais delegaram a educação a babás, enquanto trabalhavam para ganhar mais, achando que assim os filhos seriam felizes’, afirma.


Em sua opinião, ‘a classe média passou a intuir que o consumo de produtos culturais mais educativos poderia melhorar a formação dos filhos, raciocínio antes mais restrito à elite’.


Wajskop também aponta a ‘pressão da mídia’ e iniciativas como a do Palavra Cantada. ‘Eles insistiram na marginalidade e na qualidade e criaram um espaço antes inexistente.’


Tatit conta que ainda hoje, apesar do sucesso, o ‘dinheiro é muito apertado’ e é preciso correr atrás de patrocinadores para CDs e shows. Peres lembra que tudo ficou mais difícil com a pirataria -sim, pais politicamente corretos também copiam CDs no computador.


‘Nós mesmos produzimos e gravamos o nosso CD, e o Palavra Cantada só continua a existir em razão da venda dos discos. O show mal se paga.’


Som das loiras


Apesar das dificuldades, Peres afirma que hoje há um mercado de música para criança, o que nem existia quando eles começaram. ‘A música infantil era a que chegava pela TV, cantada pelas apresentadoras. Hoje tem muita gente fazendo música infantil de qualidade.’


Quem também faz sucesso nesse mercado é Hélio Ziskind, autor de sucessos do programa ‘Cocoricó’, da Cultura, que iniciou a carreira ao lado de Tatit, no grupo alternativo Rumo.


Para Tatit, o Palavra Cantada já atingiu o topo dentro de um esquema independente. ‘Sabemos que, para crescer mais, precisamos ir para a televisão.’ Canções como ‘Sopa’ e ‘Rato’ só chegaram à periferia, no início desta década, graças à veiculação de clipes do Palavra Cantada na TV Cultura.


Na opinião de Peres, as crianças gostam ‘do humor e da poesia das músicas’, que não devem ter ‘intenção de criar modismos’. Tatit diz que, ao compor, preocupa-se ‘menos com o que vai dizer e mais com como dirá’. ‘Busco construir uma sintaxe que as convença.’


Além disso, o que ajudou foi a parceria com escolas, que usam as músicas da dupla nas aulas. ‘Os professores são a nossa rádio. As crianças chegam em casa cantando, e os pais vão atrás de nossos CDs’, afirma Peres.


As escolas têm mesmo sido uma das responsáveis pelo surgimento dos neobaixinhos. ‘Os educadores percebem cada vez mais a importância de preservar a cultura, o folclore, de resgatar cantigas de roda e brincadeiras antigas’, diz Silvia Amaral, conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia.


Ela faz duas importantes ressalvas: ‘Esse movimento ainda não é tão intenso na rede pública e nem todos os pais têm essa preocupação com qualidade’.’


Bia Abramo


Crianças não rejeitam boas novidades


‘Se há algo de arrogância quando se fazem generalizações sobre o gosto do público, no caso específico das crianças, há uma verdadeira incompreensão. O ‘gosto’ delas é mais misterioso e mais flexível do que se imagina.


Na TV, qualquer coisa que pareça minimamente colorido, agitado e barulhento atrai a atenção e é capaz de grudá-las na frente do aparelho. Isso explica, em parte, o longo reinado das apresentadoras loiras, de modos sedutores e merchandising pesado.


Mas não deixa de ser verdade que programas com teor educativo mais bem elaborado, maior sofisticação visual e narrativa e referências culturais mais amplas também podem funcionar quando são oferecidos. Todas as vezes em que a TV apostou em atrações nessa linha, como a TV Cultura nos anos 80 e 90, a resposta foi melhor do que se esperava.


Isso porque crianças gostam de conhecer coisas novas e não rejeitam a priori, como fazem muitos adultos, aquilo que é mais desafiador.


O sucesso mais ou menos surpreendente da turma do ‘Cocoricó’ e do grupo Palavra Cantada, bem como do canal Discovery Kids, por exemplo, apontam para uma nova onda de entretenimento infantil mais ‘inteligente’ que, espera-se, dure mais do que império de Xuxa.’


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A longa greve dos roteiristas


‘DAQUI A POUCO mais de uma semana, a greve dos roteiristas completará três meses. Já atrapalhou diversas temporadas de séries de alta audiência na TV norte-americana, a entrega do Globo de Ouro e, caso continue, pode ameaçar até mesmo a cerimônia de entrega do Oscar.


É a primeira greve de grande porte a atingir a hoje gigantesca e tentacular indústria do entretenimento global. E, salvo engano, é a primeira vez que uma arma tão clássica do século 20 está sendo usada para combater os dilemas ultramodernos da desigualdade do século 21.


Curiosamente, ninguém na mídia brasileira está chamando os grevistas de baderneiros nem os acusando, em tom grave, de fazer uma greve com fins políticos, como se costuma fazer a torto e a direito quando as categorias paralisadas têm menos simpatia.


Mas o problema é que, por mais ‘americana’ e midiática que seja esta dos roteiristas, toda greve tem por objetivo perturbar a ordem -paralisar um processo produtivo é mesmo uma complicação dos demônios- e toda greve tem, sim, sentido político; trata-se de um conflito entre forças com interesses antagônicos.


Esse caso é duplamente curioso, uma vez que devolve ao sujeito que desenvolve um trabalho intelectual e criativo a condição de trabalhador explorado em sua força de trabalho e reafirma a importância da mobilização coletiva, ao mesmo tempo em que testa a capacidade das grandes corporações de conviver com trabalhadores organizados.


Os roteiristas querem sua fatia de participação nos lucros que já vêm e ainda mais virão das novas mídias -internet, streaming media, download.


Os estúdios afirmam que não vão lucrar tanto assim, que já perdem muito dinheiro com a pirataria e que os roteiristas ganham mais do que os cirurgiões.


Qualquer que seja o cenário de resolução da greve, as perspectivas para o consumidor não são boas. Se ganham os roteiristas, os estúdios vão cortar custos em outros cantos, o que vai afetar a aposta em novos títulos, a qualidade de produção etc.


Se ganham os estúdios, os roteiristas sofrerão retaliações de alguma espécie, o que também influencia na qualidade da produção.


E tudo isso no coração da indústria mais emblemática do capitalismo globalizado, que é a do entretenimento. Ou seja, politiza, de maneira inequívoca, o coração de uma das atividades mais ligadas à idéia de alienação.’


Laura Mattos


Disney e SBT exibem seleção do ‘High School’ brasileiro


‘O fenômeno teen ‘High School Musical’ (‘HSM’) não tem hora para acabar. Após dois telefilmes (filmes para TV) e um longa norte-americanos sobre jovens que participam de concursos de canto e dança, agora é a vez das versões argentina, mexicana e brasileira.


A seleção do elenco será aproveitada para produzir um reality show, que no Brasil estréia nos dias 10, no Disney Channel, e 11 de março, no SBT. ‘High School Musical – A Seleção’ ficará no ar até junho, quando serão anunciados pelo menos dois protagonistas para o ‘HSM’ brasileiro. Mais de 18 mil jovens entre 16 e 24 anos se inscreveram. A escolha começou em outubro e teve um evento reunindo mais de 3.000 candidatos no Sambódromo de São Paulo. Atualmente, os finalistas (em torno de 18, segundo o Disney Channel) estão confinados em uma ‘casa/academia’, onde têm aulas de dança, canto, interpretação etc.


Na TV fechada, o reality será veiculado aos sábados, às 19h, e na aberta, aos domingos, às 13h30, além de programetes ao longo da semana nos dois canais. Já o filme, primeiro da Disney a ser rodado no país, deve ser lançado entre janeiro e março de 2009. O diretor e a produtora nacional que se associarão à Disney não foram definidos. Segundo Herbert Greco, diretor de marketing da Disney do Brasil, a história passará por adaptações para se adequar à cultura brasileira.


O basquete jogado pelos alunos da high school, por exemplo, poderá virar futebol no colegial tupiniquim. ‘Nossa idéia não é encontrar imitadores dos protagonistas do ‘HSM’ nem fazer um clone do filme, mas ter traços de reconhecimento da história original’, diz Greco.


Será, então, um processo diferente da franquia do seriado ‘Desperate Housewives’, também da Disney -mudanças significativas no roteiro e cenário foram vetadas para a versão brasileira, exibida pela Rede TV!, e as outras latinas, que são cópias do norte-americano.


Fora o filme brasileiro do ‘HSM’, a Disney fará render ainda mais a galinha dos ovos de ouro com venda de álbuns de figurinhas, revistas, livros e outras tralhas.’


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O Estado de S. Paulo


Domingo, 27 de janeiro de 2008


POLÍTICA CULTURAL


O Estado de S. Paulo


Gil defende mudanças na Lei Rouanet


‘A Lei Rouanet precisa ser melhorada, segundo o próprio ministro da Cultura, Gilberto Gil. Desde que assumiu o ministério, ele vê a necessidade de reformular a lei que permite isenção fiscal a partir da destinação de recursos à produção artística. Segundo Gil, a legislação permite que as empresas invistam apenas em espetáculos e ações de grande visibilidade, principalmente na Região Sudeste. O ministro defende maior regionalização.’


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO


Ethevaldo Siqueira


Como seria a vida sem ferramentas digitais?


‘Você já pensou, leitor, como seria hoje a vida humana sem as ferramentas digitais? Gostemos ou não, dependemos, cada dia mais, desses milhares de aplicativos, como os browsers, os processadores de texto, planilhas, softwares de apresentações, banco de dados, fotografia digital, vídeo, telefonia de voz sobre IP, programas para gravação musical, desenho, projeto e tudo o mais. Essas ferramentas computadorizadas revolucionam a gestão de empresas, as profissões, a educação, o entretenimento, o trabalho, a educação, a ciência e as artes.


Para a indústria moderna, as mais importantes ferramentas digitais são, sem dúvida, os softwares de projetos apoiados em computador, conhecidos pela sigla CAD (do inglês Computer-Aided Design). Com eles, nascem a cada dia milhares de desenhos de produtos industriais na tela de desktops e laptops, em imagens que parecem ter vida, em três dimensões (3D).


Talvez mais do que qualquer outro, o CAD dá ao usuário uma sensação gratificante de poder de criação e inovação porque lhe permite criar objetos, peças, máquinas ou edifícios. Com ele, podemos projetar, visualizar em 3D, com maior velocidade e precisão, videogames sofisticados, objetos de mil utilidades, navios, refinarias de petróleo, enfim, todas as coisas que a civilização nos pode dar.


Na semana passada, pude testemunhar a reação e o entusiasmo de uma platéia de 4 mil engenheiros diante das demonstrações dos novos recursos de cada software lançado no SolidWorks World 2008, evento mundial de CAD, que reuniu, aqui em San Diego, profissionais de 70 países, em busca de atualização para seus conhecimentos nessa área.


CAD HOJE


Não há país desenvolvido que não domine o uso e a produção desses softwares. Embora se torne cada vez mais fácil de usar, como a maioria dos softwares, o CAD evolui com rapidez impressionante. Exige, portanto, atualização permanente do conhecimento do usuário.


Muito mais do que outras ferramentas, o CAD é considerado precioso instrumento da criatividade humana para incontáveis formas de inovação, funcionalidade, segurança e produtividade.


Jon Hirschtick, co-fundador da empresa SolidWorks e um dos líderes do evento de San Diego, resumiu, numa palestra, a história desse software, desde os trabalhos pioneiros no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o famoso MIT, nos anos 1960, até os dias atuais: ‘O primeiro software CAD digno desse nome nasceu há exatos 45 anos. Era o Sketchpad, criado pelo professor Ivan Sutherland, do MIT, em 1963. Dá lá para cá, o progresso foi incrível. Hoje, os softwares de projeto e desenho industrial nos ajudam a projetar tudo, de simples parafusos a aviões, satélites e foguetes. Do mais simples objeto pessoal ou doméstico à mais complexa usina produtora de etanol no Brasil.’


Algumas dezenas de empresas de prestígio surgiram nas últimas quatro décadas no mundo na área de CAD, oferecendo poderosas ferramentas de projeto, como o AutoCad, o SolidWorks-3D, o Catia, o Pro-Engineer, o Inventor e o Microstation.


O CAD evolui em todos os aspectos. Nos últimos 10 anos, o grande salto foi a passagem dos softwares bidimensionais (2D) para os 3D. Além da facilidade de uso, esses aplicativos ganham sempre mais confiabilidade. Mesmo assim, essa família de softwares ainda tem muito que evoluir, especialmente num ambiente de convergência tecnológica tão dinâmico como o atual. É provável que, em uma década, quase todos os programas aplicativos de CAD estejam hospedados na internet, especialmente com a popularização dos softwares abertos (open source). Para usá-los, bastará baixá-los nos websites especializados.


FILOSOFIA DO CAD


Um dos palestrantes mais aplaudidos no evento Solidworks World 2008 foi o dr. Don Norman, laureado com a medalha Benjamin Franklin – conferida a figuras de prestígio, de Albert Einstein, Stephen Hawking e Thomas Edison, por suas contribuições à ciência. Preocupado, acima de tudo, com o bom senso de cada projeto industrial, o dr. Norman focalizou a temática de seus principais livros: The Design of Everyday Things (O projeto de coisas do dia-a-dia) e Emotional Design: Why We Love (or Hate) Everyday Things (Projeto Emocional: Porque amamos ou odiamos as coisas do dia-a-dia).


Outro conferencista extraordinário foi Robert Ballard, engenheiro, geólogo e explorador marítimo, presidente do Instituto para a Exploração Submarina (do Mystic Aquarium, em Connecticut). Aventureiro high-tech responsável pela localização e exploração científica de três dos maiores navios já naufragados no século 20 – o Titanic, o HMS Lusitania e o Bismarck – Ballard tem histórias fascinantes para contar ao auditório. Em sua apresentação, explicou como projetou o Jason, um robô submarino famoso, controlado remotamente, que lhe permitiu visitar o interior dos grandes navios, ainda no fundo do mar.


Numa apresentação como a de Ballard, é difícil saber o que é mais empolgante: se a tecnologia do CAD ou a aventura humana.’


TELEVISÃO


Sonia Racy


‘Não gosto, não quero ser ator!’


‘Vozeirão de barítono, o ar meio cansado de tantas viagens e gravações, mas com o bom humor na ponta da agulha, José Wilker espalha pela sala a sua queixa: ‘Eu não quero ser ator, nunca quis. Ainda mais agora que a profissão ficou tão banalizada!’ Parece protesto juvenil, mas não, é um brado de desencanto. Mundo moderno, celebridade, vida apressada, não é com ele – ainda que em 40 anos tenha feito, como diz, ‘uns 65 filmes, 30 novelas e outro tanto de teatro…’


A cada instante, numa conversa de 70 minutos, ele compara o agito de ser ator global com os gloriosos anos 60 – os tempos de Arraes… – em que fazia teatro nos canaviais de Pernambuco para alfabetizar camponeses. ‘Trabalho tem de ter uma utilidade. Mas o que a gente vê hoje é esse desespero pelo êxito.’ Wilker veio a São Paulo promover o filme Sexo e Amor? – assim mesmo, com interrogação -, que chega aos cinemas nesta sexta-feira. E aceitou gastar um fim de tarde relembrando curtos e longos takes de sua carreira, do Brasil, do cinema, da TV e da ditadura da celebridade.


Esse novo filme tem sexo demais? Ou mais amor?


Primeiro, eu acho que sexo nunca é demais. Entendo que um filme tem o intuito de divertir, e uso essa palavra no melhor sentido, que é o de provocar um sentimento, uma inquietação. Nisso ele é eficiente, pela provocação.


O que é que ele provoca?


Provoca o espectador. As relações de afeto no mundo de hoje estão tão banalizadas que se pensa pouco sobre elas. As pessoas quase executam as coisas, ao invés de realizá-las.


Você não está pedindo muito? Por que não pedir?


Me lembro de uma frase fantástica dos rebeldes de 1968, num muro de Paris: ‘Seja razoável, peça o impossível’.


É uma frase de 40 anos. O que ela lhe parece hoje?


Bem, 1968 hoje seria impossível. Aquele ano prometeu muitas coisas, realizou algumas. Mas hoje o mundo ficou muito apressado. Em 68 eu escrevi uma peça, encenada anos depois, chamada ‘A China é Azul’. A China, pra mim, era um lugar inatingível. Hoje a gente tem celular, fala na hora com a China, tudo é imediato. Concluindo: o que eu peço hoje é o passado.


Que passado você quer de volta?


A tranqüilidade. Viver em um mundo onde o que mova as pessoas não seja o ódio. Nos anos 60, a gente vivia na iminência de um maluco apertar um botão e explodir uma bomba atômica. Hoje, você se explode. Você é a bomba. O cara se cerca de um cinto com dinamites, entra num avião e mata centenas de pessoas. Nos anos 60, a ordem era ‘faça o amor, não faça a guerra’. O mundo moderno obriga as pessoas a batalhar desesperadamente pelo sucesso. E, como dizia Einstein, o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.


Como é ser ator num mundo assim?


No início de carreira você não acreditava na profissão. Nem acredito agora! Eu não quero ser ator. Jamais quis ser. Até hoje tenho essa questão comigo, ser ou não ser ator. Mais ainda, ao ver que a profissão ficou tão banalizada. Olha, um mês atrás eu fui a uma convenção de executivos de bancos. Fiquei ouvindo, ouvindo, e me dei conta de que as pessoas hoje carregam consigo as próprias carreiras. Você viaja e a carreira vai junto, você é a carreira. Eu tinha uma relação diferente. Queria ser mais útil. E comecei como ator desse jeito.


O que é um ator útil?


Conheci um pessoal que lidava com cultura popular em Recife, no governo Miguel Arraes. Eles aplicavam o método Paulo Freire na alfabetização de adultos e as aulas eram pelo rádio. Era frio, nada atraente, e a gente foi convidado a ilustrar aquelas aulas. Eu comecei a fazer teatro assim. Ia para o canavial, no meio do mato, e ilustrava o que era dado pelo rádio.


As aulas não eram numa sala?


As vezes era uma sala, ou uma clareira aberta num canavial. O teatro que a gente fazia tinha um universo gestual, a gente pegava as palavras e gestos mais usados para comunicar as coisas. O meu teatro era útil, tinha uma função bem específica. Em seguida me envolvi com as idéias mais idiotas, políticas – depois percebi que eu era tão salesiano quanto comunista, é a mesma coisa. Aí veio o golpe de 64 e esse negócio acabou.


Mas, enfim, quando você assumiu a profissão?


Foi nos anos 70, fazendo a peça O Arquiteto e o Imperador da Síria, do Arrabal. Eu descobri, de repente, que se podia ali ter uma conversa com a alma das pessoas, com a paixão de cada um e isso me encantou. Mas até hoje tenho dificuldade com o fato de ser ator porque me desagrada todo esse universo de capa de revista, do cara que é famoso porque é famoso, o desespero pelo êxito. Se alguma importância eu tenho, é pelo que realizei. Tenho 47 anos de carreira profissional, não posso achar que isso não valha nada. Tenho de ter respeito por essa experiência.


Você diz que tenta não aparecer demais, mas tem fracassado nessa tarefa, não?


Eu fiz uma conta. Fiz uns 65 filmes, umas 30 novelas, outro tanto de teatro, e por aí vai. É tanta coisa, algumas eu nego que fiz. Há coisas em que você está presente, apenas. Mas, recentemente, fiz três coisas de que me orgulho muito. Senhora do Destino, a minissérie JK e o Galvez, de Amazônia.


Se você se orgulha, por que diz que não leva a profissão a sério?


Eu é que não me levo a sério, é isso. Pra mim é tudo uma grande brincadeira. E eu gosto de me divertir. Vou repetir uma historinha que contei um dia no Telecine. Imagine essa situação: você é um produtor e eu lhe proponho um negócio. Quero fazer um filme sobre um casal cuja história não tem final feliz. Tudo acontece num navio que afunda. E é uma história já filmada umas quatro vezes. E vai custar US$ 600 milhões! Eu pergunto: você quer fazer o negócio. Você, que tem a grana, diz: ‘Quero!’


Foi com o James Cameron, do Titanic?


Sim. E fizeram o Titanic, ainda com aquela musiquinha chata. E sabe quanto rendeu? US$ 1,5 bilhão! Viu porque não levo isso a sério?


O empenho de trazer o mundo real para dentro da novela lhe agrada?


Quando fiz Bye, Bye, Brasil, eu tinha a impressão de que o País fosse se dividir em cinco. Não achava que ele fosse viável, a gente era muito diferente – Acre, Pará, Pernambuco, Rio, Porto Alegre… Passados 20 anos, volto a esses lugares e descubro que eles não vão se dividir. Hoje somos um País.


O que é que você não sabia na época?


Que a televisão ia integrar este País. Não sei se a TV quis fazer isso, mas, para o mal e para o bem, ela integrou este País. E acho importante quando a TV coloca essas questões que o Brasil vive, mas finge que não vive. O Brasil é um país racista e finge que não é racista. É vendido como o país da generosidade, da gentileza, e não é. É violento. O Rio é exemplar. Veja, aqui você tem São Paulo e a periferia. O Rio é, todinho, uma periferia. Acho que a TV, ao colocar os conflitos, não importa se os coloque bem ou mal – às vezes coloca mal e presta um desserviço monumental ao País -, põe um espelho diante de tudo.


E o cinema está fazendo a sua parte?


Nosso cinema vive de ciclos. Temos surtos de cinema, não uma indústria. Esse surto de agora me parece mais consistente, porque está apostando na diversidade, de vez em quando fazendo coisas importantes do ponto de vista criativo e comercial.


Eles estão entendendo melhor o público?


Olha, essa é uma conta complicada. O Brasil tem 185 milhões de habitantes. E por ano são vendidos 90 milhões de ingressos. É o que os americanos vendem em um fim de semana.


Por que então se faz mais barulho?


É que o nosso cinema faz enorme sucesso na mídia. Mas pouco na bilheteria. Compare aqueles 90 milhões com o passado: há 25 ou 30 anos, eram vendidos 200 milhões de ingressos. Sim, nós artistas somos famosérrimos na revista, na internet, no jornal. A ocupação média é de 33% das salas.


A saída é vender pipoca mesmo, para pagar o aluguel. Pois é, o que ajuda o caixa é a pipoca e o guaraná. E os cinemas de periferia foram sendo fechados e só se abre cinema novo em shopping.’


Patrícia Villalba


Com ares de antigamente


‘‘Tá fazendo tanta foto pra quê? Vai vender na feirinha no domingo, né?’, pergunta na brincadeira Nívea Maria, como ela mesma, mas ainda vestida do sotaque mineiro da primeira-dama Magnólia, de Desejo Proibido. Nos bastidores da novela das 6, no estúdio B do Projac, visitados pela reportagem do Estado, Nívea fala com a continuísta que, com uma camerazinha digital a postos, registra discretamente todos os detalhes possíveis e imagináveis da cena que está sendo gravada.


Em geral, bastidor de novela é lugar de uma certa tensão, por causa do corre-corre e do trabalho a todo o vapor. E embora seja uma novela de época, que demanda mais cuidados, desde a preparação do figurino até a atenção ao jeito de falar dos personagens, o clima é descontraído no estúdio comandado por Marcos Paulo. ‘Estou muito mais à vontade, me divertindo horrores. A novela tem um clima ótimo, e gravar com o Lima Duarte é engraçadíssimo’, diz Grazi Massafera.


Em sua segunda novela, ela parece uma aluna aplicada nos bastidores, das que têm canetas perfumadas no estojo escolar. Leva o texto da novela todo marcado com papeizinhos coloridos, dentro de uma pasta. Ela vive Florinda, moça doida para casar, filha do prefeito Viriato Palhares, interpretado por Lima.


Político com talento especial para tirar vantagem do povo de Passaperto e, assim, tornar viável seu projeto político de projeção nacional, Viriato é um tipo que Lima interpreta com gosto especial. No set, não é raro a gravação ser interrompida pelas risadas dos colegas de elenco, por causa da maneira como o ator saboreia as palavras do autor Walter Negrão.


A trama se passa nos anos 30, mas Negrão tem recheado o texto de referências à política contemporânea, daí a graça. Até uma espécie de CPMF o prefeito já pensa em criar. ‘Se o baixinho de São Borja quiser, vou ensinar o bê-á-bá da política no Catete!’, lança Lima em uma das cenas, falando de Getúlio Vargas, de quem, obviamente, Viriato tem inveja.


‘De novo!’, pede Marcos Paulo, para que o núcleo da família de Viriato volte ao cenário da sala de jantar para repetir uma cena. ‘Oba, vou comer doce de goiaba de novo!’, comemora Lima.


Desejo Proibido tem política e comida na mesma proporção. E para quem tinha alguma dúvida, aqui está: toda aquela comida que aparece nas cenas é de verdade. Compotas de todo o tipo, biscoito beijo-de-freira, empadinhas.


Mary Sheyla de Paula, que interpreta Cidinha, a empregada da primeira-dama, passa com a bandeja cheia de quitutes, para servir às visitas de Viriato. Marcos Paulo pega alguns, a gravação não dá certo, e lá vai ela encher a bandeja de novo – e de novo, de novo e de novo.’


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‘Tem de caprichar’


‘Novela de época dá trabalho dobrado, mas Marcos Paulo adora. Como ator, ele viveu Basílio, da minissérie O Primo Basílio (1998), e como diretor, assinou a novela Força de um Desejo (2000), só para citar dois marcos da reconstrução de época na TV. Aqui, ele conta sua aventura nos anos 30, em Desejo Proibido.


Para o diretor, muda muito o fato de ser uma novela de época?


Sim, muda. Numa novela de época tem de caprichar muito. Mas há coisas interessantes. Você tem de fazer muita pesquisa, saber da história com detalhes. Não a história que te contaram na escola, mas a história real – um romance mal resolvido pode mudar os rumos de uma nação. E o cuidado é redobrado, porque você tem de fazer uma coisa fiel à época. A gente não está fazendo um documentário, mas a estrutura da novela tem de estar muito bem pensada, porque temos de reproduzir a época, de qualquer maneira. E isso determina um tipo de interpretação diferente dos atores, porque tem uma roupa diferente, uma postura diferente, uma realidade em volta diferente. É muito bacana reproduzir uma época.


E a década de 30 não é muito explorada.


É. Os anos 40 já foram muito explorados, os 50 também. Os anos 30 passaram meio em branco. Resolvemos falar em ‘anos 30’ e não ‘1930’, para ter mais liberdade, sobretudo com a música. A música brasileira do início dos anos 30 até o meio daquela década só tem samba e dor-de-cotovelo. Mas foi uma época muito rica musicalmente nos Estados Unidos e na França. Então, estou louco para montar o disco internacional. Quero convidar grupos de hoje para cantar sucessos antigos. Pegar, por exemplo, um Jota Quest fazendo Cole Poter. Mas é um exemplo, hein?


Um padre de São Paulo pediu para que os fiéis fiquem de olho na novela, para ver se Miguel (Murilo Rosa) não vai manchar a imagem da Igreja. A novela está sendo patrulhada?


Absolutamente. Não recebi nenhuma manifestação da Igreja até agora. Mas a intenção da gente não é discutir a Igreja, mas mostrar uma história de amor. Mas o padre pediu o que exatamente?


Para que os fiéis avisem se Miguel beijar a Laura (Fernanda Vasconcellos) usando batina.


Ah, então está ajudando a gente! Vai fazer subir a audiência! P.V.’


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E agora, Rossela?


‘Pouco antes de começar o ensaio da cena a gravar, Caio Junqueira (o engenheiro Gaspar) recebe os conselhos de Rossela Terranova, preparadora de elenco da Globo que dá plantão nos bastidores da novela. Ela tira dúvidas dos atores sobre como se posicionar em determinada situação ou qual a melhor entonação a usar, uma conversa que começa no cafezinho do estúdio e só termina na gravação.


‘Trabalho como uma indicadora de caminhos, pois sempre há uma gama de possibilidades. Mas é o diretor que dá o tom da cena, sempre’, diz ela, que trabalha com consciência corporal desde 1979 e já orientou nomes em início de carreira como Rodrigo Santoro.


‘Digo sempre para os atores que novela é um trabalho de equipe, mas a cara que vai a tapa, no fim das contas, é a deles.’’


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Band atira para todos os lados


‘Emissora anuncia grade de 2008, que traz novidades como Daniella Cicarelli


A nova programação da Band só entra no ar em março, mas a emissora já começou a fazer estardalhaço na semana passada. Em grande evento para chamar o mercado publicitário, a rede anunciou as suas novidades.


Nova novela, novo jornalístico, programa de humor, de debates e, a estrela da vez: Daniella Cicarelli. A ex-VJ da MTV foi ao evento posar para fotos. E só. Cicarelli não sabe ainda como será seu programa na Band. Em um resumo mais do que breve, explica que irá ao ar aos domingos, e terá público jovem.


Na turma dos que têm o que contar está Boris Casoy, que assinou contrato com a rede para comandar um jornalístico na hora do almoço, com direito a espaço para debate. E claro, a Band fisgou Bóris de olho nos debates eleitorais deste ano.


Assim que terminar Dance, Dance, Dance, em abril, entra no ar Água na Boca, nova novela da emissora. De Marcos Lazarini, o folhetim promete ser uma espécie de Romeu e Julieta gastronômico. Explicando: dois jovens de famílias que possuem grandes restaurantes, e são inimigas, é claro, se apaixonam. A trama começa a ganhar corpo no próximo mês.


Patrícia Maldonado, que deixou o Atualíssima, estréia em abril All You Need Is Love, reality de relacionamento comprado da Endemol.


Tem ainda o CQC, Custe O Que Custar, programa de humor ácido que em muito lembra o Pânico.


Márcia, Raul Gil e Datena ganham nova embalagem. Já Leão Lobo terá uma nova companheira. Sai Maldonado entra Rosana Hermann no Atualíssima. Tem ainda um novo programa de rodeio e um pacotão de filmes. Nenhum título espetacular, mas alguns valem a pipoca de microondas.


Pólvora


A Band bem que tentou, mas não conseguiu tirar Cazé da MTV. O VJ iria apresentar o formato CQC na rede, mas resolveu ficar na emissora musical.


A saída de Patrícia Maldonado do Atualíssima foi estratégica, uma vez que ela não se dava mais com Leão Lobo.


Rosana Hermann, que era roteirista do Pânico, garante que recebeu proposta da Record assim que fechou com a Band.


Já Boris diz que desde os seus tempos de SBT já conversava com a Band sobre a possibilidade de ir para lá.’


Roberto Godoy


Monet, nova direção


‘A revista Monet, imprecisa e fraca, vai entrar em reforma. Sob nova orientação, deve assumir as funções a que se destina: servir de roteiro para o assinante da TV paga – e bem paga – com o mínimo tolerável de erros. Leitores protestam semanalmente apontando falhas na agenda da programação dos canais e detestam o modo confuso de consulta às sinópses. O empresário Álvaro Campos sugere um índice por genêro e uma indicação da exibição das séries em horários de estréia e alternativos. Fora dos limites da revista, ele diz que ‘…gostaria de poder receber informações atualizadas nos centros de atendimento’. Aí, caro, é pedir demais. O editor-chefe que assume é Ricardo Alexandre, jornalista de considerável bagagem em passagens por veículos bacanas como as revistas Bizz e Superinteressante. Vejamos. Outro leitor, o professor Sérgio Tolosa, credita as deficiências de qualidade dos serviços de televisão a cabo à atitude adotada no tratamento dado ao setor. Tolosa sustenta que, ‘…do ponto de vista do governo, trata-se de um mero capricho da burguesia, que deve tratar diretamente com os fornecedores’. De certa forma, é quase isso. O Carnaval promete dor-de-cabeça para quem esperava feriadão com tv, mas sem samba, suor e irritação.’


Shaonny Takaiama


‘Estar em 1º lugar é bom demais’


‘Na disputa entre Globo e Record por audiência, o Fala Brasil, da Record, tem ficado em primeiro lugar várias vezes. Escondido no horário das 7h55 e apresentado por Luciana Liviero e Marcos Hummel, o telejornal tem se mantido na média dos 7 pontos, ante 6 da Globo. Nesta entrevista, Luciana Liviero, que tem 16 anos de carreira, fala sobre este seu importante momento profissional.


Qual é o motivo do sucesso do Fala Brasil ?


É um trabalho que vem sendo feito há algum tempo. Quando entrei, em janeiro de 2006, o Fala Brasil tinha média de 3,5 pontos. Hoje, a gente está com média de 7, raspando nos 8. Acho que existe o fato de as pessoas saberem que há essa outra opção na programação. E a gente está sempre atento à audiência, ao que as pessoas querem ver. Há muita estratégia.


Que tipo de estratégia?


Estratégia de break (intervalo), uma estratégia normal de concorrência em TV. Se a Globo foi pra break a gente vai também. Ou, na hora da virada, em que acaba o Bom Dia Brasil é um horário vital pra gente. É aí que a gente entra com a matéria forte, porque a gente sabe que a hora em que acaba o Bom Dia Brasil o público vira pra Record. É uma guerra! (Risos).


Como é apresentar um telejornal que está batendo a Globo ?


Estar em primeiro lugar é bom demais. Estou achando ótimo por saber que estou na frente da primeira emissora do País! E se continuarmos nesse caminho vamos bater a Globo em outros horários, porque está se criando uma cultura de assistir a Record.


Por que você trocou a Band pela Record?


Porque eu queria um programa meu. Eu fiquei oito anos na Band e fiz de tudo. Substituí a Olga Bongiovanni, a Márcia Goldschimidt, apresentei todos os telejornais da casa, fiz coberturas de eleições. Eu comecei a querer um espaço meu e ali não havia. Um dia, me enchi e fui embora, sem ter para onde ir. Hoje eu sei que eles se arrependem. Sei porque sou amiga deles, gosto muito da Band. É um lugar que eu gostaria até de um dia voltar a trabalhar.


A Band já te pediu pra voltar?


Não. Não fui sondada, mas eu sei que meu nome foi colocado para certas coisas e eles não foram adiante.


Este espaço maior que você buscava é o Fala Brasil?


Eu gosto muito de entrevista e gostaria de um Fala Brasil com entrevistas, um programa um pouco maior.


Até quando vai seu contrato com a Record?


Até este ano. Maio, junho.


E já falaram de renovar?


Não, ali não tem isso. É tudo em cima da hora mesmo.


Alguma emissora te sondou?


Não, ninguém sabe que meu contrato está acabando. Põe aí! Agora vai! (Risos)’


***


Fala, Luciana


‘Âncora falante:


‘Eu realmente falo muito e o Marcos (Hummel) sempre foi de uma escola da Globo em que não havia comentários. Eu acabo falando mais do que ele no ar, mas não quero me sobressair, eu o incentivo muito a falar também.’


Baladeira:


‘ Apresentar um telejornal de manhã é um sacrifício. Eu sempre fui da noite, sou festeira. Com o Fala Brasil, a vida mudou, né? Eu saio sexta e sábado, que é um saco, as piores noites, com gente mais feia. Estou sem namorado por isso. E eu perdi muito do convívio com os amigos. Eles marcam um jantar para às 21h, mas às 21h eu já estou na cama.’’


Sérgio Augusto


As ilusões perdidas em Baltimore


‘Pesquisas informais indicam que as pessoas, não só as daqui, andam acompanhando com muito mais interesse, entusiasmo e fidelidade as séries de televisão exibidas nos canais a cabo do que os longas-metragens de Hollywood lançados nos cinemas. Ledo engano atribuir o fenômeno ao binômio preguiça-medo de sair de casa. A principal razão dessa preferência é a superioridade, em todos os níveis, de boa parte das telesséries, que, não bastasse, agora desfrutam da mesma longevidade de um filme e de abundante espaço nas locadoras de vídeo.


Telesséries como Família Soprano, House, Law and Order, SVU, CSI, ganharam status de cinema, viraram cultos, invadiram a blogosfera e os papos de salão. Houve um tempo em que os únicos telemaníacos em circulação na internet eram os trekkies, os fanáticos tietes de Jornada nas Estrelas. Contam-se hoje às centenas os sites que abrigam discussões sobre as esquisitices do detetive Adrian Monk, o mordaz ceticismo do dr. Gregory House, a sardônica erudição de Gil Grissom e a dipsomania do detetive Jimmy McNulty.


Jimmy quem?!


Que ninguém se sinta um ignorante por desconhecer um dos 70 e tantos personagens da série The Wire, aqui exibida com o título de A Escuta. Interpretado por Dominic West, McNulty corre o risco de virar um farrapo humano antes de conseguir impor medo ao tráfico de drogas de Baltimore. Policial alcoólatra não é novidade na teledramaturgia, mas o que McNulty diz, pensa, ameaça fazer e faz quando está sóbrio (ou apenas com duas doses de uísque no tanque), bem, assista a The Wire, rigorosamente imperdível. Sobretudo se for do seu interesse conhecer a mais brilhante, esmerada, densa e complexa série de televisão do momento.


Ainda dá tempo de pegar a terceira temporada, não pela HBO, que a produziu, mas entre nós a lançou meio na surdina, e sim pelo canal Maxprime. O quarto capítulo, exibido quarta-feira (23h), será reprisado amanhã, às 5h30 e 8h30 da manhã. Recomendo uma familiarização prévia com o intrincado universo da série através do YouTube, pois a HBO tampouco se deu o trabalho de lançar as duas primeiras temporadas de The Wire em DVD. Seu desprezo pelos jurados do Emmy, do Golden Globe e galardões afins não justifica o descaso. The Wire não foi criada para seduzir os vidiotas, mas para mudar nossa maneira de ver e acompanhar uma telessérie.


Um dos charmes do programa é sua narrativa inevitável e inventivamente atordoante. Espalhados por cinco núcleos – polícia, zona dos traficantes, prefeitura, jornal (Baltimore Sun), porto e rede de ensino -, vários de seus personagens se inter-relacionam sem fronteiras estabelecidas. Como tantas outras cidades socialmente cindidas, além de dominadas pela bandidagem, a inépcia policial, a burocracia municipal e a corrupção institucionalizada, a Baltimore de The Wire, como a Baltimore real (ou ‘Body-more’, um corpo a mais, no trocadilhesco apelido que lhe deram), é um espelho do Rio de Janeiro, de São Paulo e metrópoles similares. O alcance da série é universal.


Os americanos já estão, há três semanas, curtindo a quinta e última temporada. A cada novo capítulo, a redação da revista eletrônica Salon se reúne para comentar a série online; um luxo. Quando a primeira temporada entrou no ar, em junho de 2002, críticos de várias áreas, literários inclusive, abriram as comportas do entusiasmo. O mínimo que disseram é que só às mais inspiradas criações de Robert Altman, Martin Scorsese e os irmãos Coen The Wire merecia ser comparada. Diálogos formidáveis, direção impecável, estilo visual elaborado, atores primorosos – não faltaram confetes para o projeto criado e parcialmente escrito pelo ex-jornalista David Simon. Um dos roteiristas da série é Dennis Lehane, autor de Sobre Meninos e Lobos.


À quarta temporada, em 2006, o New York Times dedicou um editorial, comparando The Wire ao que Charles Dickens fizera com Londres em Bleak House. ‘É, sem sombra de dúvida, o melhor show de TV já produzido na América’, proclamou Jacob Weisberg, editor da Slate.com. ‘Nenhum outro programa logrou retratar com tamanha amplitude, precisão, acuidade e visão moral a vida social, política e econômica de uma cidade americana, de resto, retratada com obsessiva verissimilitude e afetuosa raiva.’ Por incrível que pareça, a prefeitura de Baltimore liberou geral as gravações. Todas as locações são autênticas, menos a redação do Baltimore Sun, reproduzida nos mínimos detalhes num estúdio de cinema.


Domingo passado, em cima da quinta temporada, David Carr escreveu no New York Times um artigo sobre David Simon e a ênfase por ele dada aos rumos tomados pela imprensa americana nos últimos dez anos. No mesmo dia, nas páginas do Washington Post, Simon publicou uma desencantada reflexão sobre a profissão a que com precoce entusiasmo se entregou, depois de assistir à contagiante comédia teatral A Primeira Página, crente que, armado de uma máquina de escrever, poderia ajudar a consertar o mundo – ou, na pior das hipóteses, tornar um pouco mais habitável sua cidade natal.


Simon, de quem Mark Bowden traçou um longo perfil para a revista The Atlantic Monthly que está nas bancas, foi repórter do Baltimore Sun durante 13 anos, de onde saiu em 1995 para trabalhar na televisão. Saiu furioso com as primeiras demissões em massa efetuadas pelo Sun. ‘Não quero estar presente ao enterro de uma profissão que já nos proporcionou uma vida de rei’, desabafou, amparado numa metáfora celebrizada por uma das glórias da redação do Sun, H.L. Mencken. Simon se diz deprimido com a mercantilização desenfreada dos jornais, comprados por conglomerados sem compromissos de nenhuma espécie com a comunidade e a qualidade jornalística, só com os lucros e os dividendos dos acionistas, e editados por profissionais que mais se preocupam com suas ambições pessoais do que com suas obrigações éticas e o respeito à inteligência do leitor.


A última temporada de The Wire promete ser um ajuste de contas com as ilusões perdidas de David Simon. Ah, sim, Balzac também já foi citado a propósito da série.’


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