Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

TV digital para quem?

A poucos meses do início das transmissões digitais de televisão, setor encontra novo desafio: convencer condomínios a investir em sistemas novos de antena coletiva.

A vontade do governo e dos radiodifusores é estrear a TV digital aberta em São Paulo no dia 2 de dezembro. A data não foi escolhida à toa, trata-se do primeiro domingo (audiência alta) do mês do Natal (consumo alto). Contudo, uma nuvem negra está no horizonte: será que as pessoas receberão mesmo o conteúdo em alta definição da TV digital?

A TV por assinatura ainda não está preparada para carregar o conteúdo em alta definição. Embora o sinal digital seja mais preparado para enfrentar multi¬percurso, as antenas internas não serão a melhor alternativa de recepção para o sinal digital em grande parte da cidade, que tem sombras causadas não apenas pelo relevo, mas também pela alta concentração de edificios. Resta, para grande parte dos telespectadores, uma única opção: a antena coletiva dos prédios.

Após chutar as diversas pedras que estava no caminho da transição para o digital ¬como as escolha do padrão, a negociação de royalties, o custo dos set-top boxes, o financiamento dos equipamentos de transmissão – a indústria televisiva, que estava pronta para a comemoração, encontrou um obstáculo que não será muito simples de ser vencido. O tema entrou em pauta em junho nas reuniões do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital, contando com uma longa discussão com fabricantes e instaladores de antenas. A constatação foi que as antenas coletivas de São Paulo, na sua maioria, não estão prontas para receber o sinal da TV digital. ‘É dificil encontrar um bom sistema (de antena coletiva) funcionando em São Paulo’, diz Carlos Fructuoso, diretor de marketing da Linear e membro do Fórum. ‘Para receber o sinal digital, vai precisar (do sistema)’, completa, destacando que a antena interna digital é mais complexa e maior que a analógica. ‘Quem tem a TV instalada em um móvel, pode ter dificuldades encontrar um lugar para instalar a antena’, explica.

O Fórum prepara agora um estudo para levantar um número aproximado de equipamentos instalados na cidade e qual é a parcela em bom estado e capaz de receber o sinal digital. Além disso, é preciso levantar qual é a capacidade da indústria fabricante para a instalação de novos sistemas de recepção.

Problema histórico

A má qualidade das antenas coletivas se deve a dois fatores básicos: prédios antigos não têm o sistema adequado e o investimento em antenas coletivas caiu vertiginosamente com a difusão da TV por assinatura. ‘Só os prédios mais novos foram cabeados para UHF’, explica o engenheiro João Alfredo Wadt Miranda, sócio da fabricante de equipamentos Wadt, lembrando que as freqüências dos canais digitais serão todas UHE. Embora a antena coletiva seja obrigatória por lei, muitos edifícios sequer contam com o item instalado. ‘Alguns prédios só contam com opções de TV por assinatura’, diz Wadt Miranda.

Na maioria dos casos, não é possível adaptar ou reparar o sistema existente, já que no UHF a perda de potência é muito maior. Portanto, além da antena, é necessário substituir amplificadores, cabos, tomadas, divisores de sinal etc. ‘Os prédios antigos não contam com um backbone central. Nestes, os cabos passam por um conduíte dentro do apartamento’, diz o engenheiro. A diferença é que, com um backbone central, um único cabo é passado, na área comum do prédio, com divisores conectados aos cabos que vão para os apartamentos. Mesmo nos edificios com backbone, muitas vezes, por conta da perda de sinal, é necessário fazer dois cabeamentos, um para os apartamentos da metade superior do prédio, outro para a metade inferior. Nos prédios nos quais não há backbone central, a instalação é mais complicada, já que o instalador precisa ter acesso a todos os apartamentos.

A motivação número um para comprar um set-top box da TV digital é melhorar a qualidade do sinal, da imagem. Segundo estudo da universidade Mackenzie apresentado no início das discussões sobre TV digital, em uma cidade como São Paulo mais de 50% dos lares recebe os sinais com qualidade abaixo do aceitável (segundo critérios da União Internacional de Telecomunicações). Mesmo assim, não deve ser fácil a briga para convencer os condomínios a investir em sistemas novos de antena coletiva, sobretudo nos prédios das classes que já contam com uma boa qualidade de imagem fornecida pela TV por assinatura.

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Set-top box por R$ 100 é inviável, reafirmam fabricantes

A Eletros, associação de fabricantes de produtos eletroeletrônicos, divulgou nesta segunda, 23, um release que, claramente, responde às declarações do ministro das Comunicações Hélio Costa em relação ao custo dos set-top boxes de TV digital. O ministro afirmou que seria um ‘absurdo’ que as caixas de recepção da TV digital chegassem ao mercado a um custo de R$ 700, afirmando que haveriam também modelos custando pelo menos R$ 200. A Eletros afirma que ‘seria ótimo poder oferecer conversores e televisores baratos desde o início. Seria fantástico, mas, infelizmente, isso não será possível, pelo menos não no início, e nem nos patamares de R$ 100 como sempre foi anunciado’. A associação afirma que as inovações do Sistema Brasileiro de TV Digital demandam componentes específicos, que ainda não são produzidos em larga escala no mercado mundial. Para a Eletros, à medida que esses componentes começarem a ser produzidos em escala, os preços deverão cair, mas a expectativa é que isto não ocorra ainda este ano.

Desoneração

A associação dos fabricantes de eletroeletrônicos lembra ainda que existem ‘muitas incertezas sobre os royalties envolvidos no sistema que, com certeza, impactam fortemente os custos’. Além disso, a Eletros afirma que ‘o pleito que a indústria apresentou ao governo para desoneração de tributos – a exemplo do que foi feito na MP do Bem para computadores – continua sem resposta, desde setembro do ano passado’. [Da Redação – TelaViva News, 23/07/2007, 15h53]

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Do TelaViva News