O ombudsman é o representante dos leitores em um jornal. Serve de ponte até a redação e denuncia deslizes de seus colegas de empresa. Ele é um ouvidor e um observador. O segundo ombudsman do prestigiado New York Times, Byron Calame, parece ter virado o observado. Em artigo de Jack Shafer na Slate [9/5/06], o editor-público (como o Times gosta de intitular o posto) é chamado de terrível e pateta ainda no título.
Shafer critica os temas escolhidos por Calame para suas colunas quinzenais. ‘Calame possui um mandato que permitiria que ele fervesse o oceano jornalístico se desejasse, mas ele normalmente opta apenas por aquecer um bule para seus leitores e servir golinhos de um fraco chá de camomila’, dispara. De fato, o ombudsman costuma escrever textos brandos sobre temas como o novo design do sítio do jornal e questões reflexivas como ‘de onde surgem as idéias para os artigos do Times‘.
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Seguindo o artigo crítico da Slate, Jacob Bernstein [Women´s Wear Daily, 17/5/06] colheu opiniões de funcionários editoriais do jornalão sobre o trabalho de Calame. O ombudsman é acusado de faltar com o discernimento jornalístico, não priorizar o todo e não enxergar o contexto das questões que aborda.
‘Desde que assumiu o cargo, em maio de 2005, Calame tem escrito ocasionalmente sobre a cobertura do Times sobre as armas de destruição em massa e sobre o uso de fontes anônimas no jornal. Mas, com maior freqüência, suas colunas tratam de matérias específicas, questionando se todos os fatos foram abordados como deveriam, se o jornal usou de meios enganosos para provar um ponto. Todas preocupações válidas de um ombudsman, é claro’, escreve Bernstein.
Boas intenções
Procurados para falar sobre o assunto, repórteres do Times fizeram críticas parecidas: Calame fareja com afinco pequenas infrações jornalísticas, mas falha ao deixar passar as grandes questões e problemas do jornal. Enquanto dizem que o ombudsman é bem-intencionado, os jornalistas completam que falta nele senso de importância ao classificar os temas, e que Calame dá muito espaço para controvérsias insignificantes, ignorando questões maiores. Daniel Okrent, que precedeu Calame no posto, costumava enfurecer a redação – e o alto-escalão – do Times com suas colunas, mas conseguia, ao mesmo tempo, abordar as discussões mais amplas.
‘Eu temo que Calame tenha o temperamento de um juiz, e não o de um advogado de acusação, e o editor-público precisa ser os dois’, afirma Ken Auletta, da revista New Yorker. Ele cita o exemplo de quando o Times publicou artigo sobre os supostos grampos ilegais autorizados pelo presidente Bush, no fim do ano passado. O jornal admitiu que tinha a informação nas mãos há pelo menos um ano, e não a publicou antes a pedido de funcionários do governo. Calame dedicou uma coluna ao assunto e tentou obter respostas do editor-executivo Bill Keller e do publisher Arthur Sulzberger Jr. sobre o acordo do jornal com o governo. Como ambos foram evasivos e não deram mais abertura ao ombudsman, ele parou sua apuração por aí. ‘Ele deveria ter ido à redação. Havia mais gente que sabia da matéria, e eu queria que ele tivesse arriscado ser mais ofensivo para cavar esta história’, pontua Auletta.