‘Olha eu estou tão feliz, consegui o que eu queria através dos amigos do rádio…’ (Luiza Felipe, em um programa de rádio do dia 23 de maio de 2009. Esta senhora é uma grande ouvinte de rádio e sofreu um acidente. Através do rádio conseguiu consultas, cadeira de rodas, andador e muita ajuda dos ouvintes de rádio. O rádio é ou não é um instrumento de cidadania?)
Alguns dias atrás, foram veiculados em dois grandes jornais de circulação no Ceará (O Povo e O Estado) dois artigos da brilhante e combativa jornalista cearense Adísia Sá, nos quais a mesma discutia a problemática da baixaria no rádio cearense. Oportuna, a discussão levantada pela jornalista, pois há muito tempo vimos levantando a tese da destruição do rádio cearense pela suposta luta pela audiência através de palavras de baixo calão, músicas de duplo sentido e contratação de pessoas que, sem nenhuma qualificação intelectual, estão aí no rádio a proferir impropérios e falar o que querem sem prestar nenhuma satisfação ao outro lado da comunicação (o ouvinte).
Achamos que o ouvinte é sempre a parte fraca da cadeia comunicativa, pois, como já disseram, é só mudar de programa caso não esteja gostando. Não podemos reduzir a necessidade de revisão do conteúdo do rádio apenas nesta visão simplória que os supostos proprietários de rádio têm sempre, ao serem inquiridos em relação a alguns programas do rádio cearense.
Qualidade e conteúdo
Não podemos ficar apenas no denuncismo; temos que agir, pois o tempo urge e a modernidade com certeza pretende reduzir o rádio a um mero instrumento de gerar riqueza sem se preocupar com seu papel social ou sua história. Conclamar a todos para uma luta pelo rádio é salutar, mas parece que poucos se dedicarão a tal ação, pois vivemos uma ditadura velada pautada exclusivamente pelos interesses econômicos. Às vezes, a sensação que temos é de que falamos asneiras e que é melhor deixar tudo como está. Porém o idealismo de ver uma sociedade educada, pautada na ética e com uma cultura cidadã, é maior e continuamos a bradar pela melhoria do rádio e pela valorização dos que o fazem.
O processo de geração de programas em nossa terra – e achamos que em todo país – é complicado, vivemos um período em que o arrendamento toma de conta de nossas rádios e que talvez para fazer audiência muitos que vão para o rádio utilizam-se de diversos artifícios não recomendáveis, como bajulação política, palavrões em pleno ar, brincadeiras de mau gosto com minorias e utilização de notícias de crime com posições jocosas ou sátiras sem sentido. No rádio, o vale-tudo pela audiência às vezes confunde as pessoas que não têm alternativas para escolher um programa de qualidade que seja pautado por um processo de educação do ouvinte, de geração de conhecimento e de prestação de serviços ou informações valiosas. Claro que temos programas deste tipo, porém são muito poucos e ainda predomina, sim, a baixaria, o escárnio e o desrespeito de todo tipo.
A hora é de luta e é preciso muita união em torno da melhoria do rádio e de sua modificação para melhor, pois somente com um rádio-cidadão poderemos melhorar a sociedade como um todo. Os consumidores da mídia radiofônica precisam se inteirar criticamente do conteúdo do rádio e devem, com certeza, ser mais seletivos em termos de programas, escolhendo melhor a comunicação que recebem. Não podemos ouvir programas só pela música ou pela mensagem ou pelo fato de deixarem dizer o que quisermos. Temos que escolher um programa pela sua qualidade de informação, pelo conteúdo positivo e pelas idéias que edificam nosso comportamento e que sejam úteis para a vida.
Valorização e crescimento
Os patrocinadores devem ouvir pelo menos uma vez os programas que patrocinam, pois não se deve patrocinar só pela audiência, mas, sobretudo, pelo conteúdo e pela finalidade do programa. Claro que o dissemos aqui são conjecturas às vezes utópicas, mas o que seria do mundo se não fossem os utópicos…
É importante cultivar em nosso povo a concretização de uma formação de consumidores da mídia radiofônica sempre com espírito crítico e de análise constante dos conteúdos passados pelos programas e do envolvimento dos radialistas com causas realmente populares. Se o rádio está conosco no dia-a-dia, o mínimo que se pode fazer é que este períodos seja prazeroso e traga para nós algo de bom que possa melhorar nossas vidas e de nossos semelhantes.
Rádio é cidadania, rádio é ação, rádio é amizade, rádio é formação de idéias boas, rádio é, sobretudo, um instrumento de melhoria do mundo a partir de nossa casa. O rádio precisa ser valorizado, precisa ser transformado em um instrumento de valorização de nosso povo e crescimento de uma sociedade que prima por justiça, ética e cidadania.
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Vice-presidente da Associação de Ouvintes de Rádio do Ceará, Fortaleza, CE