Os dois jornalistas entre os 27 mortos na dupla tragédia rodoviária em Santa Catarina talvez mudem a atitude dos seus colegas nas redações dos grandes veículos do Rio e São Paulo.
Morrem por dia nas estradas e ruas do Brasil 98 pessoas, foram 35 mil em 2005, aumento de 8% com relação a 2002. É o nosso Iraque, onde já morreram 37 mil.
Catástrofe desta dimensão, mas em doses homeopáticas, não comove nem indigna ninguém, a não ser quando uma vítima ou o motorista responsável é uma celebridade.
Nos programas radiofônicos matinais, os repórteres de trânsito estão mais preocupados em informar aos motoristas se as vias já foram desimpedidas e os corpos removidos depois de um desastre do que em chamar a atenção para as trágicas estatísticas.
Sempre se imaginou que jornalista e médico seriam os únicos profissionais que não poderiam aceitar a banalização do mal. Agora só os médicos resistem à rotina, salvo as honrosas e raras exceções.
Os dois jornalistas catarinenses foram mortos quando cobriam um desastre rodoviário que com toda a certeza resultaria numa breve notícia sem grande destaque.
Talvez agora – como aconteceu com Tim Lopes morto pelo narcotráfico – seus colegas se sensibilizem para uma guerra para a qual pareciam imunes.