O clima esquentou na blogosfera e a polêmica já migrou para o jornalismo impresso. A investigação da Polícia Federal sobre as atividades pouco ortodoxas do banqueiro Daniel Dantas, as duas prisões, os dois habeas corpus que tiraram o dono do Opportunity da cadeia, e, principalmente, o vazamento do relatório da PF contendo informações que deveriam permanecer em sigilo sobre o inquérito policial em andamento, tudo isto teve o efeito de dinamite para os jornalistas que vinham acompanhando o caso.
E há de tudo na blogosfera, desde a defesa intransigente da decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, de soltar o banqueiro duas vezes consecutivas em menos de 48 horas até críticas pesadas não apenas a Mendes e Dantas, mas também a jornalistas que supostamente fariam parte da ‘organização criminosa’ montada pelo banqueiro, conforme consta de um dos documentos oficiais vazados pela PF.
Na verdade, a guerra saiu da blogosfera neste sábado (12/07), quando chegou às bancas a edição 2068 da revista Veja, cuja data de capa é de 16/07. A coluna do jornalista Diogo Mainardi acusa diretamente o jornalista Luis Nassif de ter sido demitido da Folha de S. Paulo por ter achacado o governo paulista durante a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). O próprio Mainardi não esconde a sua motivação para o ataque: Nassif, em seu blog, acusou o colunista de Veja de ser um ‘lobista de Daniel Dantas’.
Até às 18h deste sábado, Luis Nassif ainda não tinha respondido diretamente ao que foi publicado na revista, mas a manchete de sua página pessoal era uma espécie de contra-ataque: ‘PF acusa Mainardi e Veja‘, dizia o título do post de abertura do blog. Nassif postou ainda um comentário em que explica as razões pelas quais não responderá o colunista de Veja, também reproduzido ao final deste texto.
O embate entre Diogo Mainardi e Luis Nassif, reproduzido abaixo, é talvez o mais explícito, mas a verdade é que Daniel Dantas esteve por trás de comentários ácidos e estocadas entre diversos profissionais da imprensa, notadamente na blogosfera e também nos veículos impressos, ao longo desta semana. Reinaldo Azevedo, Janaína Leite, Paulo Henrique Amorim, Mino Carta e outros escreveram sobre o assunto.
A julgar pelo que já foi publicado por aí, pelo menos no que diz respeito às relações de Dantas com a imprensa nacional, as histórias mais quentes ainda não vieram ao conhecimento do público. O próprio relatório da PF, conforme revela Nassif, dedica um capítulo inteiro, o 13°, intitulado ‘Do papel da mídia no processo investigatório’, para narrar os tentáculos do banqueiro na imprensa. Ou seja, a guerra está só começando.
A seguir, os textos de Mainardi e Nassif.
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Diogo Mainardi
‘Nassif, o banana’, copyright Veja, edição 2068, 16/07/08
‘‘Luis Nassif foi demitido da Folha pela suspeita de ter usado seus artigos no jornal para achacar o governo de Geraldo Alckmin. Falei sobre o episódio com o diretor da Folha. Ele confirmou. Com a carreira arruinada, Luis Nassif refugiou-se na internet, como Mengele em Bertioga’
Eu sou lobista de Daniel Dantas. É o que diz o blogueiro Luis Nassif. Como foi que eu ajudei Daniel Dantas? Acusando-o de ter financiado Lula. E também acusando Naji Nahas de ter financiado Lula. O fato de eu ter publicado uma série de documentos judiciais sobre Naji Nahas e a Telecom Italia me incrimina, segundo Luis Nassif. Entende-se: em meu lugar, ele teria picotado e obedientemente engolido esses documentos, que denunciam as ilegalidades cometidas pela empresa e pelo governo. Quem patrocina o site de Luis Nassif? A Telecom Italia. Quem impediu que ele falisse e perdesse até as cuecas? O BNDES.
Eu já ridicularizei Luis Nassif três anos atrás, demonstrando que ele reproduziu integralmente em sua coluna a nota de um lobista ligado a Luiz Gushiken. Ele foi demitido da Folha de S.Paulo pouco tempo depois, por causa de um fato ainda mais nauseabundo: a suspeita de ter usado seus artigos no jornal para achacar o governo de Geraldo Alckmin. Em 2004, Luis Nassif convidou o secretário Saulo de Castro para um fórum de debates organizado por sua empresa, Dinheiro Vivo. O detalhe sórdido era o seguinte: para o secretário poder participar do evento, o governo paulista teria de desembolsar 50.000 reais. Saulo de Castro negou o pedido.
Em 2005, Luis Nassif voltou à carga, cobrando uma tarifa ligeiramente mais modesta, de 35.000 reais. A assessora de Saulo de Castro mandou um e-mail para o chefe com este comentário: ‘Não é à toa que a empresa se chama Dinheiro Vivo’. Saulo de Castro negou o pedido mais uma vez. Luis Nassif decidiu retaliar. Em sua coluna, passou a atacar sistematicamente o governo Alckmin, em particular o secretário Saulo de Castro. Quando o diretor da Folha de S.Paulo, Otavio Frias Filho, foi informado das suspeitas em torno de Luis Nassif, demitiu-o imediatamente. Nesta semana, falei sobre o episódio com Otavio Frias Filho. Ele confirmou.
Com a carreira no jornalismo arruinada, Luis Nassif refugiou-se na internet, onde seu passado era desconhecido, como o de Mengele em Bertioga. O bando de Luiz Gushiken arranjou-lhe uma sinecura no iG. Enquanto fazia um blog para meia dúzia de leitores, ele era obrigado a escapar de seus credores no BNDES, que queriam penhorar seus carros e apartamentos para tentar recuperar uma parte do rombo de 4 milhões de reais da Dinheiro Vivo. No fim de 2007, depois de um misterioso encontro com a diretoria do BNDES, ele conseguiu fechar um acordo judicial altamente lesivo para o banco, que lhe garantiu os seguintes mimos: o abatimento de 1 milhão de reais de sua dívida, o prazo de dez anos para saldá-la, a retirada de todas as garantias para o pagamento do empréstimo e a dispensa de uma multa de 300.000 reais. Algumas semanas depois, ele retribuiu a generosidade estatal usando o único método que conhece: uma campanha de mentiras descaradas contra mim e contra VEJA, tidos como inimigos do governo.
Luis Nassif é um banana. Ninguém dá bola para ele. Por isso mesmo, minha idéia era persegui-lo apenas judicialmente. De fato, estou processando o iG. Tenho uma tonelada de mensagens, documentos e testemunhas que desmoralizam toda a imundície publicada em seu blog. Mas suas calúnias ganharam outro peso depois que Daniel Dantas e Naji Nahas foram presos. Claramente, o pessoal que o emprega está preocupado com o rumo que esse inquérito pode tomar. Há um empenho para impedir que os dois sejam associados a Lula, como eu sempre fiz. Quando Daniel Dantas e Naji Nahas foram presos, eu comemorei. Luis Nassif deve ter pensado em todos os documentos que terá de picotar e engolir. E em todos os patrocinadores que poderá ganhar.
Luis Nassif
‘PF acusa Mainardi e Veja’, copyright Blog do Luis Nassif, 12/07/08
‘O relatório do delegado Protógenes Queiroz, encaminhado ao Juiz Fausto Martin de Sanctis – que serviu de base para o pedido de prisão de Daniel Dantas e outros réus – acusa diretamente as revistas IstoÉ Dinheiro e Veja e os jornalistas Leonardo Attuch, Lauro Jardim e Diogo Mainardi de colaborarem com uma organização criminosa. Mainardi é explicitamente apontado como ‘jornalista colaborador da organização criminosa’.
O nome do documento é ‘Relatório Encaminhado ao Juiz Federal Fausto Martin de Sanctis’. É o Inquérito Policial 12-0233/2008. Nele consta Procedimento Criminal Diverso no. 2007.61.81.010.20817.
Foi preparado pela Delegacia de Repressão aos Crimes Financeiros do Departamento da Polícia Federal
O capítulo 13 tem por título ‘Do papel da mídia no processo investigatório’.
Diz o seguinte:
Evidentemente com maior assiduidade na programação quase que diária dos meios de comunicação disponíveis, o grupo comandado por Dantas se serve com maior freqüência do que o grupo comandado por Naji Nahas. Ambos são convergentes quanto ao interesse comum e divergentes quanto às matérias publicadas, como forma de ludibriar para atingir seus objetivos. Com vantagens no final da falsa discussão pública.
Curiosamente, (…) o volume de dados analisados a respeito do material publicado ao longo da existência dessa organização criminosa usando a mídia, ora em proveito próprio ora em outros propósitos chantagistas
Neste momento trazemos à luz algumas matérias de fomento ao acordo recentemente efetivada pela BrT, Oi, Citigroup, Opportunity, aqui Daniel Valente Dantas, referente a alguns ‘conceituados’ órgãos da imprensa escrita, tais como revista IstoÉ Dinheiro e Veja, ambos veículos a serviço do relevante grupo.
Apontamos a revista Veja, data de 16/01/2008, matéria ‘Rumo à supertele’, três folhas dedicadas exclusivamente aos interesses escusos da organização pelo jornalista Lauro Jardim.
Nesse mesmo dia 16.01.2008, matéria de capa da revista IstoÉ, ‘Os Vencedores da Telefonia’, como Carlos Jereissati e Sérgio Andrade, sócios da Oi, foram escolhidos pelo governo para comprar a BrT e, com o auxílio generoso do BNDES, formar um gigante das telecomunicações’, do jornalista Leonardo Attuch.
E aqui nesse momento, eu vou me servir do recente artigo publicado no dia 12.04.2008, edição 2054, da própria revista Veja, elaborado por um dos jornalistas colaboradores dessa organização criminosa, Diogo Mainardi, sob o título ‘Entendeu, Tabatha’.
‘Eles retomaram algumas das práticas mais antigas e mais imundas do jornalismo, como a chantagem, a mentira, a propaganda do poder e a matéria paga’.
Ao lembrar essa assertiva ele talvez tenha revelado e audaciosamente expressado a vertente resumida de como funcionava a mídia para o grupo Opportunity, comandado por Daniel Valente Dantas, o que reforça e confirma todo o material coletado através de interceptações de dados telefônicos e telemáticos.
Em uma avaliação bem literal das condutas e comportamentos de alguns jornalistas que hoje estão no bojo do trabalhos coletados, é de se considerar como participantes da organização criminosa liderada por Daniel Valente Dantas especialmente aqueles que têm indícios de remuneração direta ou indireta de recursos originados do referido investigado ou de seus colaboradores.
No relatório de análises constou no dia 13/01/2007 que o investigado Daniel Dantas mantém diálogos com Verônica Dantas e Danielle Silbergleid afirmando textualmente da necessidade de utilizar a conexão direta entre ele e a imprensa como instrumento para plantar informações a fim de confundir a opinião de autoridades públicas nacionais e internacionais na disputa do grupo Opportunity, Citigroup, Telecom Italia pelo controle da BrT
Embora esse tema não seja foco inicial da presente investigação,é necessário conhecermos os meios ardilosos na divulgação das informações plantadas.
A voracidade em lançar informações falsas e até com cunho difamatório, e menciona o nome Moreira Alves (…) na empreitada suja de baixo nível.
E aqui vai a indagação: a mídia é um veículo independente comprometido com a verdade imparcial. Certo? Errado. O que estamos assistindo, o desmascaramento por meio do Judiciário Federal com a atenção auspiciosa do Ministério Público Federal é repugante !!! sob o ponto de vista ético e moral do papel da imprensa.
E aqui reproduzimos ipsis literis a mensagem interceptada de conteúdo sem o mínimo escrúpulo que possa nortear regras de boa conduta e convivência social.
Assunto: Pendências
De; Cristina Caetano 18/02/2008
Para Alberto Pavi
Pavi,
Obrigado. Outro dia retomaremos a conversa com Moreira Alves. Nosso prazo para entrar com a campanha difamatória é no começo de março. E se não formos fazer com ele temos que achar outra pessoa. Nós preferimos que você redigisse. Achamos que nesse caso tem muitos fatos, seria melhor ser redigido por um civilista do que por um criminalista. Vamos focar nisso?
Beijos
Conclusões
Depois, fala de contatos de Nahas com jornalistas, mas sem envolvimento com o a organização criminosa. Menciona jornalistas que tiveram reuniões com Nahas, no plano jornalístico apenas. Quando menciona Attuch, o relatório diz que seria também responsável pela publicação de artigos jornalísticos ‘encomendados’ pela organização criminosa com o objetivo de facilitar o tráfiuco de influência perante autoridade são públicas.
Para esse seleto grupo jornalístico Naji Najas ora se posiciona falsamente como opositor e inimigo de Daniel Dantas.
É comum jornalistas acima citados (acrescentamos o colunista Diogo Mainardi, na revista Veja) assinarem matérias favoráveis ao interesse do grupo Opportunity, principalmente à pessoa de Daniel Valente Dantas.
A contextualização e os tópicos de análise do papel da mídia na presente investigação, por questão didática, preferimos fazer referência aqui na forma de anexo digitalizado.
O relatório tem menção a vários links com gravações de conversas telefônicas.’
Luis Nassif
‘O Caso Mainardi’, copyright Blog do Luis Nassif, 12/07/08
‘Finalmente Veja saiu das sombras. O artigo de Diogo Mainardi a meu respeito, na Veja desta semana, ampliará a ação que estou preparando há tempos contra ela. É a demonstração cabal da perda de rumo total da revista. E da continuidade da avaliação custo x benefício para os assassinatos de reputação.
Não responderei a nada pelo Blog. Não vou entrar nesse jogo de ficar dando repercussão a mentiras. Nem deixarei que o Blog fique dias à mercê desse tema, fugindo do caso principal: o esquema de corrupção implantado por Dantas com a mídia.
Veja extrapolou; a Abril extrapolou. E Mainardi terá toda a oportunidade de provar seus ataques na Justiça.
Peço que não enviem comentário sobre o tema por duas razões. A primeira, para não fugir do foco do papel da Veja no caso Dantas. A segunda, porque o assunto agora entrará na esfera judicial. E não quero, no calor da batalha, fazer nada que possa prejudicar a ação que será movida contra a Abril e contra Mainardi.
Do Portal Imprensa
Otávio Frias Filho esclarece saída de Nassif da Folha
Por Pedro Venceslau/Redação Revista IMPRENSA
Mais um capítulo do tiroteio entre Luís Nassif e a revista Veja. Em artigo publicado recentemente na Internet, o jornalista Leonardo Attuch, da IstoÉ Dinheiro, tirou do baú uma velha pergunta sem reposta depois que viu seu nome citado em uma das colunas do blogueiro: por que Nassif deixou a Folha de S.Paulo? Não é a primeira vez que Nassif é acusado por seus detratores de ter usado sua coluna no jornal para fazer lobby. Apesar da ausência de provas, esse seria o motivo da demissão dele do jornal da família Frias.
Para IMPRENSA, o diretor de redação da Folha, Otávio Frias Filho, se manifestou pela primeira vez sobre o assunto e saiu em defesa do ex – funcionário. ‘Apesar de divergir de Nassif sob vários aspectos, não conheço fatos que o possam condenar do ponto de vista profissional’, diz Otávio. Avesso a entrevistas, o diretor do jornal fez questão de falar para acabar de uma vez por todas com os boatos que serviam de munição aos adversários de Nassif, acusado de ter operado como lobista do banco Opportunity.
‘A interrupção da coluna do jornalista Luís Nassif na Folha, ocorrida em julho de 2006, deveu-se às renovações que periodicamente o jornal procura promover. Nassif manteve a coluna diária sobre assuntos econômicos por mais de 15 anos. Tanto ele como a Folha convieram que era tempo de mudanças. A fim de se dedicar a seus empreendimentos pessoais, na mesma ocasião Nassif deixou o Conselho Editorial do jornal’, explica Otávio Frias Filho.
Comentário
Lembro que Leonardo Attuch é um dos nomes de jornalistas envolvidos com Daniel Dantas. O ‘acusado de ter operado como lobista do banco Opportunity’ se refere, obviamente, ao acusador.
Pessoal,
agradeço as mensagens mas não vou liberar nenhuma por uma razão simples: não vou alimentar esse jogo e mudar o foco das discussões. A intenção do ataque é esse mesmo.
É uma jogada de desespero que será decidida na Justiça.’
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Blog do autor: Entrelinhas – Mídia e Política