A morte de um profissional de imprensa no exercício da profissão, sobretudo em situações de risco, como a que tirou a vida do cinegrafista Gelson Domingos da Silva, 46, da Rede Bandeirantes de Televisão, leva à reflexão acerca da avidez pelo furo jornalístico e do desrespeito aos profissionais de imprensa. Sobretudo na mídia eletrônica, a concorrência pela melhor imagem, a melhor cobertura, o mais ousado momento, o melhor tudo, coloca em evidência a fragilidade dos jornalistas.
Não podemos esquecer que, por detrás das câmeras e microfones, há seres constituídos de carne e osso, tratados, muitas vezes, como instrumentos de satisfação da ganância das empresas jornalísticas. A “segurança” que os empresários conferem aos profissionais que atuam em operações policiais, em meio ao fogo cruzado, é ínfima no seu item primordial: os coletes à prova de balas.
Pergunto: de que tipo de balas as empresas estão protegendo seus empregados? Ou ainda não têm os tubarões da comunicação conhecimento de que fuzil deixou de ser arma restrita das Forças Armadas há muito tempo para se tornar um dos principais instrumentos de defesa do tráfico? Parece até hipocrisia a empresa reconhecer os limites de proteção assegurados pelo colete usado pelo cinegrafista, que não impõe qualquer resistência a balas de fuzil. Seria como que admitir que assumiu o risco de levar o jornalista para a morte.
Coragem não garante resistência
É hora de nossos sindicatos atuarem com maior firmeza no sentido de garantir melhores condições de trabalho para os profissionais de imprensa, especialmente em áreas ou situações reconhecidamente de risco. É de conhecimento público que o Sindicato dos Profissionais do Município do Rio de Janeiro já manteve conversações sobre segurança com os empresários de comunicação, que se mostraram reticentes a tomar iniciativas no sentido de proteger seus empregados.
No entanto, não se pode esmorecer. É preciso que se busque maior apoio da Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal para que normas de segurança venham de cima para baixo, ou seja, com força de lei, pois esperar pela sensibilidade dos patrões é como empurrar para o túmulo o profissional que tem no sangue o tino jornalístico.
Que a morte de Gelson Domingues da Silva não tenha sido vã. Que sirva de força motriz para se alterar esse estado de insegurança a que são submetidos os profissionais que se doam para levar aos cidadãos a informação e a verdade dos fatos. Ele era um profissional de coragem. Porém, coragem não é suficiente para garantir a resistência diante do poder de fogo das armas letais.
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[Silvana Porto é jornalista, Paranavaí, PR]