Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

O Brasil de ontem e o de hoje

Como o mundo dá voltas. Ver a secretária de Estado Hillary Clinton bajulando o Brasil é algo quase surreal. Ouvir Hillary chamar o Brasil de “país rico” desperta um certo sorriso de sarcasmo. Mas assistir à sra. Miriam Leitão dar a notícia tem quase um sabor de vingança.

Lembro do “risco Brasil” disparado com a possibilidade real do candidato Lula chegar a presidência. Do desespero da comentarista de economia da Globo ao comentar essa notícia, quase dizendo: votem no Serra, senão estaremos perdidos. Minha boa memória traz à mente a capa da Veja, colocando uma gigantesca cabeça de águia olhando com desdém um pintinho amarelinho e verde armado para brigar.

Penso em Alexandre Garcia desdenhando da posição do presidente Lula que afirmou ser somente uma “marolinha”, e não um tsunami, a crise econômica internacional. Na Miriam Leitão afirmando os erros da política econômica do Brasil. A campanha da Globo/EUA pela Alca, afirmando ser um erro do governo brasileiro a preferência pelo Mercosul.

Os BRICs se consolidando e dando de ombros à poderosa nação americana. A Europa em crise e os efeitos disso sendo minimizados antes das nossas fronteiras. A antes poderosa Argentina, o país europeu das Américas, hoje tendo de estatizar uma empresa de petróleo alegando soberania nacional, assim como fez a Bolívia com o gás, lembram? As críticas ferrenhas ao Bolsa Família por parte de tanta gente inteligente. O Bolsa Esmola, diziam alguns. Bolsa vagabundagem, afirmaram outros. E poucos se deram conta de como essa “esmola” movimentou o comércio brasileiro e tirou milhões de pessoas da miséria absoluta, virando referência mundial no combate à pobreza.

Próximos capítulos

É, minha gente, o Brasil, infelizmente, vem dando certo. Cheio de problemas ainda. Corrupção para todo lado. Absurdos políticos a cada esquina. Desvios de verbas gigantescos, cachoeiras de tráfico de influências, pessoas passando fome e sede, epidemias de drogas, saúde pública caótica, insegurança pública… Porém, apesar de tudo isso, ainda podemos constatar muitas coisas boas na nossa política econômica. Não entendo como a sra. Miriam Leitão ainda mantém o emprego. Ela conseguiu errar todas as suas previsões catastróficas sobre a nossa economia. Foi inimiga ferrenha de tudo que vem dando certo no país. Só mesmo a Rede Globo, e a sua “linha editorial”, para apoiar alguém assim.

O “risco Brasil” hoje é uma piada. Os juros caíram. O dragão da inflação, que a Veja estampou nas suas capas, não voltou. O país foi o último a entrar e o primeiro a sair da crise econômica e, se não foi apenas uma marolinha, também não foi o tsunami pregado. O Mercosul deu certo, a Alca não; e hoje a “América”propõe um acordo de comércio bilateral entre as nações. Os BRICs estão passando abaixo, e longe, da linha da crise internacional Europa-EUA.

Quantas mudanças.

Para piorar, a Veja publica Demóstenes Torres como “mosqueteiro da ética” numa semana e ele aparece envolvido com Carlinhos Cachoeira pouco tempo depois. Além de Demóstenes, o repórter “vejista” que deflagrou o esquema do mensalão também foi flagrado em escutas telefônicas com o contraventor. Ou seja, Carlinhos Cachoeira, que filmou clandestinamente o escândalo dos Correios, start do mensalão, está ligado ainda hoje ao repórter responsável pela matéria. O escândalo petista beneficiou Demóstenes Torres, do então PFL (hoje DEM), e derrubou José Dirceu, do PT. Hoje, o autor do prefácio do Código de Ética da OAB, Demóstenes Torres, está ligado ao contraventor responsável pela denúncia. Como diria Magary Lord, que estranho, hein?

Vamos esperar mais uma volta do mundo… As cenas dos próximos capítulos não aparecem mais nas novelas, mas na vida real. Sinceramente, estão ficando cada vez mais imprevisíveis…

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[Erick da Silva Cerqueira é publicitário e colunista da TipoRevista.com.br]