Friday, 20 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O que a imprensa deve fazer

Bate-boca, arranca-rabo, sururu, entrevero, rolo, xingação, desavença – qualquer que seja o nome que se adote para caracterizar a troca de asperezas entre os ministros Cezar Peluso e Joaquim Barbosa, do Supremo Tribuna Federal (STF), o que importa é o teor do que está vindo à baila e o canal utilizado pelos meritíssimos.

Ex-presidente da suprema corte, o ministro Peluso serviu-se do prestigiado portal Consultor Jurídico, já o atrevido Joaquim Barbosa, que não tem papas na língua, utilizou arma de grosso calibre – entrevista de uma página no jornalão O Globo (20/4).

Aleluia, a imprensa acordou! Parece disposta a reassumir o seu papel de agente do contraditório. Sem jornal não há debate, sem debate não há esclarecimento. A resignação que contamina as instâncias encarregadas de provocar arrufos, excitação e avanços é a grande responsável pela impunidade e a pasmaceira que grassam no país.

Natural que o novo presidente do STF, Carlos Ayres Brito, ministros aposentados e entidades ligadas à magistratura e ao Direito empenhem-se no “deixa disso!” e joguem panos quentes para arrefecer os beligerantes. Faz parte, alguém precisa ficar atento a eventuais excessos.

Joaquim Barbosa, relator do mensalão, precisa ser espicaçado, precisará duelar com muita gente nos próximos meses. Cezar Peluso precisava ouvir o que ouviu do seu par e ler o que leu nos editoriais dos grandes jornais: excedeu-se algumas vezes, sobretudo menosprezou a inteligência do cidadão brasileiro ao tomar atitudes descabidas não apenas no âmbito da corte (quando votou duas vezes para atrasar a aprovação da ficha limpa), mas também quando investiu contra a corregedora do CNJ, Eliana Calmon na sua brava cruzada contra a devassidão togada.

Nos eixos

Um pouco de estresse e algumas cargas de eletricidade sacodem a sociedade. Alguns atentados aos bons modos são preferíveis aos punhos de renda a serviço da impostura. Se em horário nobre assistimos a comerciais, telenovelas, seriados e reality shows com linguagem chula, por que temer que servidores públicos do mais alto escalão e tomados pela fúria sagrada se indignem ante a bandalheiras que ocorrem ao lado?

Se as elites estão perdendo a classe para fingir que pertencem à classe C, por que não aproveitar o intermezzo de avacalhação para iniciar algumas contendas saneadoras? Faxinas exigem casca dura, um pouco de maus bofes. Se o refinamento for autêntico, todos voltam a ser lordes depois de serenados os ânimos.

A mídia acostumou-se às entrevistas por e-mail (na verdade pseudoentrevistas, desligadas da dinâmica dialogal), já não sabe detectar numa determinada resposta o rastilho para a pergunta seguinte, capaz de acionar um incêndio saneador.

A inevitável judicialização do nosso processo político exigirá mais contundência e muito mais bravura do Onze encarregado de colocar o país nos eixos. É a chance de a imprensa deixar de ser descartável.

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