Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Climatologia para jornalistas

A imprensa brasileira costuma oferecer como “explicação de um fato” uma narrativa contendo uma descrição a posteriori de determinado fenômeno ou processo. Esse é um comportamento recorrente e relativamente comum em qualquer editoria, mas é particularmente notável quando o assunto em pauta é o tempo atmosférico. Quem ainda não se habituou a ler ou ouvir, por exemplo, “explicações” do tipo “o temporal de ontem foi provocado por…” ou “as baixas temperaturas da última madrugada foram causadas por…”? Difícil é encontrar algum relato consistente a respeito de fenômenos atmosféricos, envolvendo (ou não) previsões do tipo “as chuvas previstas para a amanhã e depois de amanhã em nossa região deverão elevar o nível dos rios que passam pela cidade em pelo menos 2 metros” ou “a temperatura do ar nos próximos dias deverá ficar abaixo de zero, atingindo na próxima madrugada um recorde negativo para esse ano”.

Notícias a respeito do tempo ou do clima habitualmente carecem de rigor e precisão, uma deficiência que os editores procuram compensar, sobretudo no caso da TV, com efeitos especiais e muita pantomima. A origem do problema não está circunscrita apenas aos domínios da imprensa; afinal, os dados e as informações produzidos pelos institutos meteorológicos que operam no país ainda são, digamos assim, um tanto limitados. Essas limitações, devidas em grande parte a alguns fatores por si só intrigantes, como a escassez de séries históricas e o reduzido número de estações meteorológicas existentes no país (ver adiante), deveriam ser mais exploradas por parte da imprensa. Infelizmente, porém, parece que muitos editores ainda não se deram conta das pautas promissoras que se escondem por trás de tais questões.

Generalizações preguiçosas

Cabe ainda estabelecer uma distinção fundamental: uma coisa é reportar de modo superficial (e, às vezes, leviano) o que aconteceu com o tempo, digamos, ontem – como tratar de ruas alagadas ou deslizamentos de terras colocando o microfone diante de um meteorologista. Outra coisa, bem diferente, é chamar a atenção do público para o que pode vir a acontecer com o tempo meteorológico nos próximos dias. Neste último caso, além de reportar as limitações inerentes aos próprios dados de campo – o que não vai ser resolvido apenas com novos supercomputadores ou satélites, ao contrário do que a imprensa costuma divulgar (ver matéria “Supercomputador permitirá ao Inpe ter previsão de tempo em ‘alta resolução’”, publicada no portal G1, em 12/3/2010) –, caberia esmiuçar melhor os informes meteorológicos de diferentes regiões. Desse modo, quem sabe, os profissionais da imprensa talvez passassem a tratar os padrões climáticos que caracterizam o país com mais rigor e precisão.

Por enquanto, ainda prosperam entre nós os estereótipos e as generalizações preguiçosas. Entra ano, sai ano e tudo parece permanecer no mesmo lugar. No verão, as manchetes invariavelmente falam em inundações, deslizamentos e dengue, tratando esses fenômenos como efeitos da chegada das chuvas – ver, por exemplo, matéria “Especialistas divergem sobre maior tragédia climática da história do país”, publicada no portal G1 em 17/1/2011. No inverno, as manchetes tratam de estiagem, inversão térmica e meningite e a sazonalidade climática mais uma vez é evocada como a “causa” de problemas cuja origem, a rigor, tem mais a ver com sociologia e política do que com climatologia. O saldo de tudo isso pode ser terrível, sobretudo quando a visão estereotipada que a imprensa divulga serve para camuflar a inação ou má-fé de governantes e políticos oportunistas.

Será que faz sentido alardear uma mesma e única manchete a respeito do clima em rede nacional? Será que o verão é de fato a estação mais quente e chuvosa do ano em todos os estados brasileiros? E o inverno, será de fato a estação mais fria e seca em todo o país? Contrariando o que alguns jornalistas dão a entender, nenhuma dessas perguntas tem como resposta correta um simples e direto “sim”. A razão para isso, como pretendo exemplificar a seguir, é que o clima do país é bastante heterogêneo. Quer dizer, em alguns estados, o verão é a estação mais quente e chuvosa do ano; em outros, não. O mesmo se passa com o inverno: em alguns estados, trata-se da estação mais fria e seca do ano; em outros, não.

Tempo atmosférico e clima

A experiência prática nos mostra que o tempo atmosférico muda com o tempo cronológico. “Tempo atmosférico” (ou simplesmente “tempo”) é uma expressão usada em alusão às condições atmosféricas vigentes em uma dada região durante um período de tempo cronológico relativamente curto – horas, dias ou semanas, por exemplo. Tal expressão não deve ser confundida com o termo “clima”. Este último é usado para se referir a uma síntese das condições atmosféricas vigentes em determinada região durante períodos prolongados de tempo cronológico – anos, décadas ou séculos, por exemplo.

O estudo do tempo atmosférico é tarefa da meteorologia, a ciência que lida com a estrutura física, a dinâmica e a composição química da atmosfera. O estudo do clima é tarefa da climatologia, uma ciência que se ocupa em descrever e explicar os diferentes padrões de tempo atmosférico observados em nosso planeta. Saber quais são as chances de que haja chuva no próximo fim de semana, por exemplo, é um problema de meteorologia; saber se o verão em determinado lugar é úmido ou seco (e conhecer as razões disso) é uma questão de climatologia.

Em termos formais, meteorologia e climatologia são classificadas como geociências, de sorte que tanto o professor de Ciências como o de Geografia lidam ou podem lidar com elas. Infelizmente, porém, o pouco que os estudantes brasileiros conhecem de geociências é visto apenas no ensino fundamental, pois o assunto está virtualmente ausente do currículo do ensino médio. Não é de estranhar, portanto, que o senso comum esteja repleto de erros e mal-entendidos a respeito desses assuntos – nesse sentido, podemos dizer que os jornalistas não estão sozinhos…

A sucessão das estações

Seja como for, nós, brasileiros, estamos acostumados a experimentar mudanças sazonais mais ou menos notáveis em dois dos mais importantes elementos do clima: a temperatura do ar e a pluviosidade – para detalhes técnicos, ver Ayoade (1986). Tais mudanças, no entanto, ao contrário do que alguns imaginam, não são aleatórias nem repentinas. Na verdade, os elementos do clima mudam de modo gradativo e algo previsível, ainda que o modo exato como essas mudanças se processam ao longo do ano possa variar de uma região para outra. As razões para isso nem sempre são simples e diretas, o que dá margem a uma série de mal-entendidos.

Podemos levantar várias questões intrigantes a respeito de mudanças climáticas que ocorrem ao longo do ano. Por exemplo, por que faz calor no verão e frio no inverno? A resposta correta a esta pergunta não é nenhum bicho-de-sete-cabeças (tem a ver com a inclinação do eixo de rotação do planeta em relação ao plano de translação; ver Costa 2002), embora o assunto muitas vezes seja tratado em meio a doses apreciáveis de desinformação. Eis algumas variações em torno do tipo de “explicação” que o leitor poderá encontrar na internet: “o verão é quente porque nessa época do ano a temperatura sobe”; “o verão é quente porque o Sol nessa época do ano está ainda mais quente do que o normal”; “o verão é quente porque nessa época do ano ocorre o chamado vento solar”; e “o verão é quente porque nessa época do ano a Terra está mais perto do Sol”.

Há ainda quem discorde dos próprios termos da pergunta, com afirmações do tipo “o verão nem sempre é a estação mais quente do ano” ou “o verão só é a estação mais quente do ano no hemisfério Sul”. Todas essas “explicações” estão furadas – seja porque fogem da pergunta, seja porque não a respondem corretamente. Os erros e mal-entendidos a respeito do assunto, no entanto, não se restringem ao mundo virtual. A noção de que a temperatura do ar varia ao longo do ano em função de mudanças periódicas na distância Terra-Sol, por exemplo, talvez seja a explicação equivocada a respeito desse assunto mais difundida entre professores de Ciências e Geografia.

Nesse ponto, antes de prosseguir, não custa lembrar: a sucessão das estações se dá com um intervalo de seis meses entre os hemisférios Sul e Norte. No hemisfério Sul, onde se encontra a maior parte do território brasileiro, a sucessão cronológica é a seguinte:

Verão: de fins de dezembro a fins de março (ou, por simplificação, o trimestre janeiro-março, JFM);

Outono: de fins de março a fins de junho (ou o trimestre abril-junho, AMJ);

Inverno, de fins de junho a fins de setembro (ou o trimestre julho-setembro, JAS); e

Primavera, de fins de setembro a fins de dezembro (ou o trimestre outubro-dezembro, OND).

Estações meteorológicas

A caracterização do clima de uma região ou país depende da obtenção de dados meteorológicos (temperatura, pluviosidade, umidade relativa do ar, direção dos ventos etc.) e também da organização desses dados em séries históricas. Por convenção, uma série histórica deve ter ao menos 30 anos de duração, o que significa dizer que a obtenção de um conjunto representativo de dados depende do funcionamento duradouro de uma estação meteorológica – para detalhes técnicos sobre as estações, ver Torres & Machado (2012). Levando em conta o tamanho e algumas outras características físicas (ver adiante) da região de interesse, é necessário montar um grande número de estações, cada uma localizada em um ponto estratégico.

No Brasil, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), do Ministério da Agricultura, é o órgão oficial responsável pela coleta e processamento dos dados obtidos em estações meteorológicas. O Inmet foi criado em 1909, começando a operar estações de modo regular já no ano seguinte. A primeira caracterização climática do país foi publicada em 1969, compreendendo dados obtidos em 209 estações ao longo do período 1931-1960. Mais recentemente, foi publicada uma segunda caracterização, agora com dados para o período 1961-1990.

O Inmet opera vários tipos de estações, incluindo algumas radiossondas e estações em alto-mar. O tipo mais comum, no entanto, são as chamadas estações de superfície. O instituto conta atualmente com 520 dessas estações, das quais 490 estão em operação: 239 convencionais e 251 automáticas – para detalhes, ver “Rede de Estações”, no sítio do instituto. Uma estação é chamada de convencional quando a coleta de dados depende da presença de um observador humano; na estação automática, o registro é feito por uma máquina. A maioria das estações do Inmet foi construída nos últimos 30 anos e, portanto, ainda não teve tempo de produzir uma série histórica correspondente.

É importante ainda ressaltar que a obtenção de séries consistentes é comprometida sempre que a estação muda de lugar, um problema que já afetou várias estações brasileiras – ver matéria “A vida na estação meteorológica”, publicada no Estado de S. Paulo em 12/8/2011; para um exemplo de estação longeva (fora do país), ver matéria “Weather history offers insight into global warming”, publicada no The New York Times, em 15/9/2008.

Além do Inmet, outros órgãos federais, como o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), do Ministério da Ciência e Tecnologia, e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, do Ministério da Defesa, também mantêm e operam estações meteorológicas. O mesmo se passa com diversos órgãos estaduais e municipais. Há, além disso, uma profusão de pequenas estações – muitas universidades, escolas, empresas etc. têm sua própria estação, ainda que nem todas sigam os padrões rigorosos exigidos para se ter uma estação de “primeira linha”. Os dados obtidos em todas essas estações deveriam, a princípio, ser encaminhados ao Inmet.

No fim das contas, porém, o número de estações meteorológicas em operação no país ainda é muito baixo. Para ter uma ideia, basta notar o seguinte: o número de estações necessárias para produzir estimativas minimamente confiáveis do regime pluviométrico no estado do Espírito Santo (81,14 mil km2) foi estimado em 37 unidades (Silva & Lima 2011), o que corresponderia a uma cobertura média de uma estação para cada 2,19 mil km2 de área territorial. Para manter esse nível de cobertura em escala nacional seriam necessárias quase 3,9 mil unidades, o que equivaleria a quase oito vezes o número de estações que o Inmet opera atualmente. Mesmo levando em conta que esse número talvez seja uma superestimativa – afinal, o relevo do Espírito Santo é bem mais acidentado do que a média nacional (e quanto mais montanhosa uma região, mas estações são necessárias) –, fica claro que o número atual está bem aquém do mínimo necessário.

Séries históricas

Com o advento e disseminação dos satélites meteorológicos, ficou cada vez mais fácil obter dados da atmosfera em tempo real. Vários países, inclusive o Brasil, recebem dados de satélites meteorológicos, embora isso de modo algum venha a suprimir a necessidade de se manter em funcionamento uma rede de estações de superfície. Vale lembrar que alguns dos países tecnologicamente mais avançados do mundo, como o Japão, a Inglaterra e os Estados Unidos, possuem séries históricas ininterruptas com mais de um século de duração. As séries históricas para a temperatura do ar em certas cidades da Inglaterra, por exemplo, retrocedem até meados do século 17, enquanto as séries históricas para a pluviosidade retrocedem até meados do século 18.

No que segue, examinaremos algumas conclusões obtidas a respeito de padrões climáticos em território brasileiro, com base no exame de séries históricas. Desde já, porém, cabe uma advertência: infelizmente, salvo melhor juízo, as duas séries históricas (1931-1960 e 1961-1990) disponíveis para consulta no sítio do Inmet referem-se apenas às capitais. Outra coisa: embora os dados apresentados nos dois conjuntos tendam em muitos casos a convergir, foram levados em consideração apenas os dados da série mais recente (1961-1990).

Os comentários feitos nos próximos parágrafos não têm como objetivo caracterizar o clima do país (para isso, ver Nimer 1989), mas apenas ilustrar como o leitor pode detectar certos padrões climáticos em larga escala. Na verdade, vamos nos concentrar em apenas dois elementos do clima, a temperatura do ar e a pluviosidade. Como um eixo condutor da análise, examino especificamente a consistência da seguinte generalização: os meses de verão (= trimestre JFM) são os mais quentes e chuvosos do ano em todo o território brasileiro, enquanto os meses de inverno (= trimestre JAS) são os mais frios e secos.

Padrões de sazonalidade térmica

Em âmbito nacional, a estação mais quente do ano costuma ser o verão. Esse resultado, porém, está longe de ser uma unanimidade. De acordo com os dados da série histórica 1961-1990, o trimestre JFM foi o mais quente em 12 das 27 capitais analisadas. Nas 15 capitais restantes, o trimestre mais quente foi outro, com destaque para SON (seis capitais) e OND (quatro). Analisando os meses separadamente, janeiro e fevereiro apareceram como um dos três meses mais quentes do ano em 15 das 27 capitais.

O inverno tende a ser a estação mais fria do ano, embora esse resultado não tenha sido uma unanimidade. O trimestre JJA foi o mais frio em 13 das 27 capitais, seguido de MJJ (sete capitais). O mês mais frequente nas computações foi julho, registrado como um dos três meses mais frios do ano em 22 das 27 capitais. Este último resultado é dos mais expressivos, permitindo que se diga que o primeiro mês inteiramente invernal é de fato um mês de temperaturas relativamente baixas na grande maioria das capitais brasileiras.

A heterogeneidade dos resultados a respeito da temperatura do ar em âmbito nacional reflete algumas diferenças regionais significativas. Vejamos: na região Norte, o trimestre SON foi o mais quente em três das sete capitais. Analisando os meses separadamente, outubro apareceu como um dos três meses mais quentes do ano em seis capitais. Por sua vez, os trimestres JFM e JJA apareceram como os mais frios em três das sete capitais. (Vale aqui ressaltar que em dois dos três casos envolvendo o trimestre JFM, o “frio” registrado coincidiu parcial ou inteiramente com a estação mais chuvosa; o terceiro caso foi Macapá, capital situada no hemisfério Norte, onde o trimestre JFM já não corresponde ao verão, mas sim ao inverno.) Os meses mais frequentes nas computações foram junho e julho, ambos registrados como um dos três meses mais frios do ano em quatro capitais.

Julho: o mês mais frio

No Nordeste, o trimestre JFM foi o mais quente em seis das nove capitais. Analisando os meses separadamente, janeiro apareceu como um dos três meses mais quentes do ano em sete capitais. Por sua vez, o trimestre JJA foi o mais frio em quatro capitais, enquanto julho foi um dos três meses mais frios do ano em sete das nove capitais.

No Sudeste, o trimestre JFM foi o mais quente em todas as quatro capitais. Os meses de janeiro, fevereiro e março foram registrados como os três meses mais quentes do ano nas quatro. Por sua vez, o trimestre JJA foi o mais frio em três capitais, enquanto junho e julho foram registrados como dois dos três meses mais frios do ano em três capitais.

No Sul, o trimestre JFM foi o mais quente em duas das três capitais. Os meses de janeiro e fevereiro foram os mais frequentes nas computações, aparecendo como dois dos três meses mais quentes do ano em duas capitais. O trimestre JJA foi o mais frio do ano nas três capitais, de modo que os meses de junho, julho e agosto foram registrados como os três meses mais frios do ano em todas elas.

No Centro-Oeste, o trimestre SON foi o mais quente do ano em duas das quatro capitais. Os meses de outubro e novembro foram os mais frequentes nas computações, aparecendo como dois dos três meses mais quentes do ano em três capitais. Por sua vez, o trimestre MJJ foi o mais frio do ano nas quatro capitais, de sorte que os meses de maio, junho e julho apareceram como os três meses mais frios do ano em todas as capitais.

Em resumo, levando em consideração o trimestre mais quente do ano, podemos dizer que o país está dividido em duas grandes áreas: a primeira inclui grande parte do Norte e do Centro-Oeste, onde o trimestre mais quente não coincide com o verão; a segunda abrange as regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Em compensação, a situação é menos heterogênea quando examinamos o trimestre mais frio do ano. Julho, por exemplo, aparece como um dos três meses mais frios do ano em todas as regiões, ainda que não em todos os estados.

Padrões de sazonalidade pluvial

Em âmbito nacional, o trimestre DJF foi o mais chuvoso em seis das 27 capitais. Em seguida apareceram NDJ e AMJ, ambos em quatro capitais. Analisando os meses separadamente, janeiro apareceu como um dos três meses mais chuvosos do ano em 13 capitais.

O trimestre JJA foi registrado como o mais seco em 12 das 27 capitais, seguido de OND (em cinco capitais) e SON (quatro). O mês mais frequente nas computações foi agosto, registrado como um dos três meses mais secos do ano em 15 capitais.

Essa heterogeneidade em escala nacional é, mais uma vez, reflexo de diferenças regionais significativas. Vejamos: na região Norte, o trimestre DJF foi registrado como o mais chuvoso em três das sete capitais. O mês mais frequente nas computações foi fevereiro, registrado como um dos três meses mais chuvosos do ano em cinco capitais. Por sua vez, JJA apareceu como o trimestre mais seco em três capitais, enquanto julho e agosto apareceram como dois dos três meses mais frios do ano em quatro capitais. Vale registrar que Boa Vista (RR) e Macapá (AP), situadas no hemisfério Norte, exibiram resultados algo destoantes.

Agosto: o mês mais seco

No Nordeste, o trimestre AMJ foi o mais chuvoso em quatro das nove capitais. O mês mais frequente nas computações foi maio, registrado como um dos três meses mais chuvosos em sete capitais. Por sua vez, o trimestre OND foi o mais seco em cinco capitais, enquanto outubro apareceu como um dos três meses mais secos do ano em oito capitais.

No Sudeste, o trimestre mais chuvoso variou nas quatro capitais, sendo que os meses mais frequentes nas computações foram dezembro e janeiro, registrados como dois dos três meses mais chuvosos em três capitais. O trimestre JJA foi o mais seco em todas as capitais, de sorte que os meses de junho, julho e agosto foram registrados como os três meses mais secos do ano nas quatro capitais.

No Sul, o trimestre mais chuvoso variou nas três capitais, sendo que os meses mais frequentes nas computações foram janeiro e fevereiro, registrados como dois dos meses mais chuvosos em duas capitais. O trimestre mais seco também variou nas três capitais. Os meses de abril, maio e junho apareceram empatados nas computações como os meses mais secos do ano em duas capitais.

No Centro-Oeste, o trimestre NDJ foi o mais chuvoso em três das quatro capitais. Os meses de dezembro e janeiro apareceram como dois dos três meses mais chuvosos do ano nas quatro capitais. Por sua vez, o trimestre JJA foi o mais seco em todas as capitais, de modo que os meses de junho, julho e agosto apareceram como os três meses mais secos do ano nas quatro capitais.

Comentários finais

Levando em conta o tamanho e a distribuição da população brasileira (190,73 milhões de habitantes, assim distribuídos: Sudeste, 80,35 milhões; Nordeste, 53,08; Sul, 27,38; Norte, 15,87; e Centro-Oeste, 14,05 – para detalhes, ver sítio do IBGE, podemos em linhas gerais dizer o seguinte:

>> A maioria (72%) da população do país (mas não necessariamente a maior parte do território brasileiro) experimenta um verão (JFM) quente e chuvoso. O principal contraste é experimentado pela população do Nordeste, onde o verão também predomina como a estação mais quente, mas não como a mais chuvosa; naquela região é o outono (AMJ) que predomina como a estação mais chuvosa.

>> A maioria (58%) da população do país experimenta um inverno (JAS) frio e seco. Os principais contrastes são experimentados pelas populações do Sul e do Nordeste, principalmente em termos de pluviosidade. No Sul, o outono (AMJ) predomina como a estação mais seca do ano, enquanto no Nordeste a estação mais seca é a primavera (OND).

Em resumo, embora a imprensa (e muito de nós) tenha o costume de descrever o verão brasileiro como uma estação quente e chuvosa e o inverno, como uma estação fria e seca, tais generalizações devem ser qualificadas em termos regionais. Essa advertência é ainda mais significativa no caso do verão. As dimensões continentais do país e a sua heterogeneidade física (amplo espectro latitudinal, contraste litoral/interior, particularidades de relevo etc.) tendem a alterar as características dos padrões climáticos que podem ser antecipados com base no conhecimento de variáveis astronômicas (tamanho e forma do planeta, movimento de rotação em torno do Sol etc.).

Referência citadas

>> AYOADE, J. O. 1986. Introdução à climatologia para os trópicos. SP, Difel.

>> COSTA, F. A. P. L. 2002. Por que faz frio no inverno?, La Insignia, em 7/12/2002 (acesso em agosto de 2012).

>> NIMER, E. 1989. Climatologia do Brasil, 2ª edição. Rio de Janeiro: IBGE.

>> SILVA, S. A. & LIMA, J. S. S. 2011. Número de postos pluviométricos necessários para a estimativa da precipitação mensal no estado do Espírito Santo, Brasil. Revista Brasileira de Meteorologia 26: 555-560. [Disponível aqui.]

>> TORRES, F. T. P. & MACHADO, P. J. O. 2012. Introdução à climatologia. SP, Cengage.

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[Felipe A. P. L. Costa é biólogo e autor de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003) e A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra (2006)]