Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O efeito de redes sociais nas urnas

Um estudo abrangendo milhões de usuários do Facebook durante a eleição de 2010 nos EUA concluiu que as redes sociais podem ter um efeito limitado e mensurável no comparecimento do eleitor às urnas. O estudo, publicado online pela revista Nature, sugere que uma mensagem especial dizendo “vá votar”, enviada a um usuário, juntamente com fotos de amigos seus dizendo que já votaram, levou a 340 mil votos adicionais em todo o país – se foram para republicanos ou democratas, os pesquisadores não puderam determinar.

Segundo os investigadores, do Facebook e da Universidade da Califórnia, esse estudo é o primeiro a demonstrar que as redes sociais têm um impacto, mesmo que limitado, sobre as eleições. Eles acrescentaram que suas conclusões têm implicações que vão além do voto. Por exemplo, a pesquisa agora está concentrada no uso das redes sociais para ajudar as pessoas a perder peso. O que é significativo, embora não surpreenda, é que o estudo sobre o voto mostrou que a influência é maior quando a mensagem envolve amigos íntimos, sugerindo que os “vínculos fortes” no mundo virtual podem influenciar mais no comportamento de uma pessoa do que “elos mais fracos”. Os pesquisadores chegaram também à conclusão de que as mensagens têm um impacto indireto, ou seja, amigos de amigos também são influenciados.

“O que mostramos nesse estudo é que o mundo online e o mundo real se influenciam reciprocamente”, diz James Fowler, professor de genética e ciências políticas na universidade.

4% não disseram a verdade

Em 2 de novembro de 2010, dia em que foram realizadas eleições para o Congresso americano, praticamente todos os usuários do Facebook que votaram – 61 milhões ao todo – receberam a mensagem “vá votar” na sua página. Também ganharam um lembrete “hoje é dia de eleição”, um link para os locais de votação, uma opção para clicar no botão “votei”, com o registro do número total de usuários que informaram já ter votado, e seis fotos de amigos do usuário que também disseram ter ido votar.

Dois grupos selecionados aleatoriamente, cada um de 600 usuários do Facebook, não receberam as fotos. Um recebeu somente a mensagem “vá votar”; o outro não recebeu nenhuma mensagem. Examinando as listas de votação, os pesquisadores puderam comparar o real comparecimento às urnas no caso dos dois grupos. E determinaram que a mensagem com fotos de amigos que votaram foi diretamente responsável por 60 mil votos a mais em todo o país e indiretamente responsável por 280 mil eleitores que foram convencidos a votar por amigos de amigos, que os pesquisadores chamaram de “efeito de contágio social”.

Curiosamente, responsáveis pelo levantamento descobriram também que cerca de 4% dos que afirmaram ter votado não disseram a verdade. Como somente 1% dos usuários do Facebook declarou abertamente sua orientação política, os pesquisadores não conseguiram determinar se as tendências políticas tiveram alguma influência sobre a rede social e o comportamento dos usuários na votação.

Eleição decidida por menos de 0,01% dos votos

O estudo foi financiado pela James S. McDonnell Foundation e pela University of Notre Dame’s Science of Generosity Initiative. Iniciativas anteriores mostraram que uma variedade de métodos para mobilizar eleitores potenciais não tiveram efeito. Bater à porta ainda é a técnica mais eficaz; mensagem por e-mail é uma das menos eficientes.

Embora o número de votos decorrentes de mensagens no Facebook tenha sido pequeno comparado com o total de eleitores americanos que foram às urnas (90,7 milhões, ou 37,8% da população habilitada a votar), os pesquisadores acham que esse método pode ter impacto em disputas eleitorais em que um único posto esteja em jogo. Afinal, sublinharam, a eleição presidencial de 2000 foi decidida por menos de 0,01% dos votos na Flórida.

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[John Markoff é jornalista do New York Times]