Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um novo sistema de avaliação em massa

Em 22 de novembro de 2012, foi realizada pela primeira vez a prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica do Paraná (Saep). Conforme noticiado pelo veículo de informação da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed-PR), “o novo sistema foi desenvolvido para medir a aprendizagem dos estudantes e para subsidiar os professores na prática docente, facilitando a formulação e o monitoramento de políticas educacionais”. Conforme matéria mais esclarecedora da Gazeta do Povo, além de medir a aprendizagem dos alunos, o sistema será composto por questionários sobre práticas pedagógicas e de gestão, que devem ser respondidos por professores e diretores, respectivamente.

Evidente que tais sistemas de avaliação não são novidade alhures, de acordo com matéria de CartaCapital:

“Em São Paulo, alunos dos Ensinos Fundamental e Médio participam do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), desde 1996. Em Minas Gerais, os alunos são avaliados pelo Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública (Simave). Já no Rio Grande do Sul, os estudantes são avaliados pelo Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Rio Grande do Sul (Saers).”

Na prática, o governo tucano do paranaense Beto Richa está seguindo um caminho já batido em termos de educação: avaliação massiva dos alunos, ranqueamento das escolas, para bonificar por mérito os professores das escolas cujos alunos se saiam bem nas futuras avaliações, por mais que se neguem que os objetivos sejam esses. A mesma trilha já foi feita pelos EUA nos anos 1990 e trouxe graves problemas para o sistema educacional público norte-americano, mas é de praxe em nosso país copiar o que acontece no exterior sem um diagnóstico correto de nossos problemas reais e se as ideias vindas de fora são as mais adequadas para nosso contexto.

Novo exame seria dispensável

No Brasil existe um grande movimento atuando em várias frentes para e concorrendo para uma educação pública que atenda exclusivamente as demandas do mercado. Uma dessas frentes é o movimento Todos pela Educação, criado e presidido pelo empresário Jorge Gerdau, que já declarou ter pensado em fazer algo pela educação quando percebeu que não havia mão de obra qualificada no país para suprir a demanda por trabalhadores em sua própria empresa.

Outro braço dessa frente se encontra na grande mídia com bastante ênfase no Grupo Abril, amplamente subsidiado pelos governos tucanos de São Paulo. Basta dar uma passada de olhos na coluna da revista Veja de Gustavo Ioschpe que se autointitula especialista em educação e também em uma publicação voltado para o meio escolar, Nova Escola. Outra face desse movimento está infiltrada na academia e nas secretarias de Educação para levar adiante políticas educacionais, fadadas ao fracasso, como a que se inicia no Paraná com a fase da avaliação massiva, que já vem recebendo algumas boas análises críticas.

Em matéria da Gazeta do Povo podemos ler que “para o doutor em Políticas Educacionais Ângelo Ricardo de Souza, membro do Núcleo de Pesquisa em Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a prova poderia ir além do que se propõe. ‘Pensei que a Seed iria incluir outras disciplinas e conteúdos, ou que faria o exame por amostragem, usando outros instrumentos além da prova […]’ o Saep fará o mesmo que o Ministério da Educação já faz com a Prova Brasil e o Saeb. Para ele, se os resultados dessas duas provas nacionais fossem mais estudados, o novo exame estadual seria dispensável, evitando os custos de impressão e distribuição dos mais de 600 mil cadernos de questões.

Mais fracasso

Ou ainda, em CartaCapital, sobre o que já ocorre com outros sistemas de avaliação a respeito do aproveitamento de seus resultados:

“Em meio a tantas avaliações, em qual medida os resultados obtidos vêm sendo aproveitados pelos gestores e professores de modo a contribuir para a revisão e formulação de políticas públicas da educação? […] A resposta varia de acordo com cada sistema de ensino ou local. Como a gestão da Educação Básica é descentralizada, os mesmos resultados são aproveitados de maneira distinta por estados e municípios. 'Alguns utilizam os resultados de forma economicista e meritocrática enfaticamente, outros estão meio perdidos, e outros avançaram no sentido de utilizá-lo como termômetro na redefinição da política de seu sistema de ensino' […]”.

Ao que parece já fizemos nossa opção e essa só vem se consolidando de região em região: avaliação massiva, ranqueamento e bonificação dos professores por mérito. Eis a tríade que, se pretende, vai tirar o sistema educacional publico brasileiro do fracasso e alçá-lo ao sucesso. Escolas caindo aos pedaços, aulas em meio período e condições de trabalho e remuneração dos professores, de acordo com nossa opção, não interfere na aprendizagem dos alunos. A curto, médio e longo prazo o resultado só pode ser um, mais fracasso na educação.

***

[José Alexandre Silva é professor de História, Ponta Grossa, PR]