O ativista argentino de direitos humanos Adolfo Pérez Esquivel, 81, que recebeu em 1980 o Prêmio Nobel da Paz, disse ontem que o agora nomeado papa Francisco não teve vínculos, quando bispo, com a ditadura militar que esteve no poder no país entre 1976 e 1983.
“Questionam Bergoglio porque dizem que ele não fez o necessário para tirar dois sacerdotes da prisão, sendo ele o superior da congregação de jesuítas. Mas eu sei pessoalmente que muitos bispos pediam à junta militar a liberação dos presos e sacerdotes e não eram atendidos”, disse Esquivel à BBC.
Livros sobre a ditadura argentina acusam o novo papa de ter sido cúmplice dos militares ao denunciar como subversivos sacerdotes que tinham atuação social. Ele sempre negou.
Esquivel disse ainda, em um comunicado publicado no seu site, que talvez tenha faltado ao novo papa “coragem para acompanhar a luta pelos direitos humanos nos momentos mais difíceis”, mas que isso não significa que ele tenha compactuado com a ditadura.
“Espero que ele tenha agora a coragem para defender os direitos dos povos perante os poderosos, sem repetir os graves pecados e erros que cometeu a sua igreja”, completou o Prêmio Nobel.
Governo argentino
Além das acusações de complacência com a ditadura, chama a atenção na Argentina a relação tensa entre o papa e os Kirchner.
Néstor, presidente entre 2003 e 2007, chegou a chamar Bergoglio de “o verdadeiro representante da oposição”, pois acreditava que a igreja era excessivamente crítica com o seu governo.
Já com Cristina, que está na Presidência argentina desde 2007, as desavenças se deram especialmente em torno do casamento gay.
Para o religioso, ele seria fruto da “inveja do demônio, pela qual o pecado entrou no mundo”. Cristina Kirchner rebateu dizendo que a moralidade religiosa não deveria pautar a questão.
Já em fevereiro deste ano, o então arcebispo de Buenos Aires declarou ainda que os argentinos tinham se acostumado a viver com a corrupção e com a violência.
Após o anúncio de que o cardeal argentino seria o novo papa, Cristina declarou, em tom frio, que saudava, “em meu nome e em nome do governo argentino”, Francisco como o novo líder da Igreja Católica.
“Quero expressar minhas felicitações ao novo pontífice. À Sua Santidade, a minha consideração e o meu respeito.”
A presidente argentina vai a Roma assistir à entronização de Francisco como papa.