O impasse decorrente da presença do deputado-pastor Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos e de Minorias não é um caso político qualquer. Tanto expõe uma situação atual até aqui mal observada, como indica uma situação futura bastante problemática no Congresso, em particular na Câmara.
O caso em torno do pastor Marco Feliciano agrava-se mais, com sua decisão de afrontar os opositores e entregar a relatoria de projetos, na Comissão, a evangélicos notoriamente contrários a tais propostas, referentes a assuntos como aborto e sexo profissional.
Mas o comando da Câmara e a maioria dos líderes partidários estão acovardados, diante da dupla ameaça de reação do grupo de deputados-pastores à saída forçada de Marco Feliciano. Agora, tumultuariam a Câmara com ações deles próprios e com grandes mobilizações externas; depois, seriam campanhas acusatórias, nas eleições, aos autores de “perseguição religiosa” no Congresso.
Fato incontestável
Marco Feliciano está convidado para uma reunião, na terça-feira, com líderes das bancadas partidárias que tentariam demovê-lo da permanência como presidente daquela Comissão. Os sinais, até o final de semana, foram de provável ausência do convidado. E, a comparecer, seria para reafirmar a recusa à renúncia. É a posição transmitida por seus principais aliados entre os evangelistas da Câmara.
A reunião cordial foi adotada pelos líderes, ao fim de mais de duas horas de discussão, como alternativa à alegada falta de recurso do Regimento para a substituição compulsória de Marco Feliciano. A alegação é discutível, a começar de que a necessária atividade da Comissão está inviabilizada e, também para casos assim, a Câmara dispõe de Comissão de Ética e de Corregedoria. A alegação da falta de instrumentos resulta mais do temor de enfrentar o problema.
O impasse em torno do pastor-deputado Marco Feliciano, com suas manifestações racistas e anti-homossexuais, é o primeiro embate relevante em que os evangélicos se põem como um novo bloco orgânico, ideologicamente bem definido e poderoso. Este novo evangelista e o bloco ruralista não precisam estar de acordo em tudo para comprovar o adiantamento da direita, como bancada no Congresso, sobre os que se dizem “a esquerda”.
A perspectiva dessa situação delineia-se neste fato incontestável: nenhum segmento político está em mais condições de crescer, nas eleições do ano próximo para o Congresso, do que os evangélicos. A contribuição que podem levar só é promissora para eles e seu projeto de poder político.
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Janio de Freitas é colunista da Folha de S.Paulo