O crescimento acelerado das diversas modalidades de comunicação midiática que se propagam a partir do ciberespaço reconfigurando a comunicação no mundo contemporâneo, com destaque para as denominadas redes sociais, tem provocado uma maior reflexão acerca dos sistemas de produção e circulação deste que é o elemento mais valioso e central da vida na sociedade: a informação. Nesse contexto, também é perceptível o fortalecimento da crítica feita ao principal e mais simbólico sistema informacional em vigor no mundo, que é o jornalismo, sistema este representado pelas empresas tradicionais de difusão da comunicação coletiva.
A onda de manifestações que varreu as ruas do país nas últimas semanas refletiu esse fenômeno dando vasão, em vários episódios, ao nível de insatisfação da população no tocante à mídia tradicional. Como se viu, a indignação e as dúvidas viscerais sobre os sistemas e entidades de representação pública também incluíram a mídia, que teve na Rede Globo de Televisão o alvo principal dos episódios mais veementes de protestos, fato este consequente de um resquício histórico que se arrasta pelas últimas cinco décadas e que vez por outra coloca a empresa dos Marinhos no alvo de uma pesada artilharia ideológica.
Mas para além dos ecos de uma clara e inequívoca rejeição popular contra o papel centralizador e ditatorial da grande mídia, o protesto evidenciou uma outra realidade que ressurgiu como uma forte ameaça aos oligopólios de comunicação do país. Trata-se das iniciativas de intervenção comunicacional advindas de uma parcela de manifestantes adeptos e defensores da comunicação alternativa e independente, os quais se utilizaram estrategicamente do espaço das redes sociais para reforçar algo constatado por muitos estudiosos e pensadores.
Meios independentes
Refiro-me à constatação da denominada era pós-jornalismo. Em outras palavras, um momento histórico em que o dinâmico processo de produção e consumo da informação socialmente relevante sai, depois de séculos, do domínio da mídia jornalística, ou seja, das mãos das empresas e profissionais do jornalismo, e se pulveriza por outras instâncias, espaços, grupos e canais alternativos de comunicação.
Nesse novo e instável cenário tecnocultural, em que se torna cada vez mais patente o fato de que não há fenômeno social isolado no tempo e no espaço e que cada mudança nas novas redes sociais provoca transformações na mídia jornalística tradicional, a PosTV se destaca como uma das iniciativas mais significativas. Recorrendo a um projeto de mídia alternativa em vigor no país desde 2011 baseado na tecnologia do streaming (transmissão amadora de vídeo pela internet), os manifestantes passaram a se utilizar da PosTV como forma de transmitir ao vivo e por meio de vídeos gravados, cenas de dentro do próprio protesto, local de onde muitos dos profissionais da grande mídia, e em especial da Rede Globo, passaram a ser expulsos como forma de repúdio à cobertura parcial feita dos protestos.
Nesse processo, as redes sociais passaram a produzir e distribuir informação à margem dos canais de comunicação criados e consumidos pelo establishment, ou seja, o conjunto de entidades e grupos que constituem a ordem ideológica, econômica e política dominante. Não obstante, vale salientar que este é apenas um dos muitos meios multimidiáticos independentes de que se valem os infomediários – recorrendo aqui a um termo cunhado por Jonh Hagel –, ou, para usar um termo de Castells, os arquitetos da informação desse admirável e enigmático mundo novo cada vez mais regido pela comunicação em redes telemáticas.
Comunicação e educação
Para além dos manifestos e iniciativas cibermidiáticas do momento, o mundo pós-jornalismo, vale ressaltar, vem sendo fomentado por outros tipos de intervenção social que, arraigados na bandeira de luta pela democratização da comunicação, investem no processo de autonomia comunicacional do cidadão. Entre estas iniciativas mais recentes está o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, entidade que tem como uma de suas principais missões investir na formação de novos comunicadores. Sujeitos que, para além de meros receptores, são emissores e interventores de sua própria realidade.
O mesmo que fazem, por exemplo, os diversos cursos e experiências profissionalizantes que ocorrem no campo da educomunicação. Esse novo campo de conhecimento transdisciplinar que entrecruza a comunicação com a educação buscando contribuir com o empoderamento dos sujeitos a partir do processo de (re) significação da realidade destes. Realidade esta que, vale destacar, cada vez mais independe de outros mediadores para se configurar e fazer sentido.
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Rosildo Brito é professor e jornalista, Campina Grande, PB