O povo nas ruas. A PEC-37 caiu. Os grupos de extrema-direita que poderiam manobrar as massas por meio das manifestações não têm força para isso – amém. Errou quem pré-julgou. Errou quem fez os policiais militares de refém na Alerj. Erra quem julga (e ameaça) profissionais da imprensa como representantes das empresas em que trabalham. Mas os jornalistas também erraram. Nós erramos. Apaziguado o clima no país, podemos, enfim, tentar nos redimir de um dos nossos equívocos: não é verdade que houve suspensão do aumento do preço da passagem de ônibus. Não houve redução.
Tarifa, segundo o Aurélio, é o “custo fixado para o transporte de um passageiro”. Veja bem: não é o preço que o passageiro paga para ser transportado. É o custo. O custo, nos contratos misteriosos entre prefeitura e concessionária, não mudou. É o mesmo desde que houve o aumento. O excedente passou a ser subsidiado e ainda não há nada além de promessas sobre quem vai arcar com isso. A passagem ficou mais barata na hora de passar a roleta, mas continua tão cara quanto antes. O ônus é do governo. Logo, do contribuinte. Estima-se que o prejuízo seja de R$ 200 milhões por ano. Não são só vinte centavos.
Nós, da imprensa, chamamos de redução. Os ingênuos vão acreditar que se trata de uma simplificação retórica na boca das autoridades que nos é conveniente na hora de manchetar. Os conspiratórios, que foi fruto da nossa própria ingenuidade e sucesso do media training e de releases maquiavélicos das assessorias.
Distanciados da juventude
Fato é que, quando a imprensa compra a briga de que houve uma redução da passagem, ignora um dos principais anseios das manifestações Brasil afora: os lucros exorbitantes das concessionárias em oposição à má qualidade dos transportes públicos.
Desinformamos e distanciamos a juventude (agora nas ruas) que, cada vez mais, refuta a imprensa. Por que será?
******
Gabriel Barreira é jornalista, Rio de Janeiro, RJ