Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Quando setembro vier

Alguns membros dos Black Blocs de todo o Brasil estão ansiosos a respeito de uma grande manifestação anunciada para o dia da independência do Brasil. A Mídia Ninja também, e todos aqueles ligados aos protestos que transformaram nossas vidas e nossas ruas em ambientes de fogo onde é (de novo) emocionante viver. Eles nos arrancaram do ócio das notícias pasteurizadas e mudaram o foco das pautas da imprensa e do governo. Com todas as falhas, eles vieram para ficar e incomodar muita gente. E agora andam ansiosos com o dia 7 de setembro.

As redes sociais, semana passada, não esconderam a preocupação da nova mídia ativista e seus aliados com o feriado da independência nacional. A suspeita pairava no ar como densa atmosfera de desconfiança quase palpável. Uma reação conservadora é esperada, e o dia não poderia ser melhor do que este: sempre se pode acusar um adversário de “antipatriota” e ganhar o apoio de muitos sem muitas interrogações.

A revista CartaCapital (20/8) publicou matéria (“O desfile golpista“) interrogando-se a respeito de quem estaria por trás da manifestação anunciada, programada e marcialmente batizada “Operação Sete de Setembro“ e apontou para gente reacionária, ligada aos Bolsonaro (pai e filho, PP-RJ), aliados suspeitos e uma ONG de dois bacharéis de Direito que querem o fim da prova da Ordem dos Advogados para o exercício da profissão (os dois foram reprovados no exame). Formam um grupinho suspeito que pretende cooptar o dia para fazer o protesto da volta ao passado.

As tropas de choque

A revista soou o alarme, mas acredita que o alvo da “Operação” seja apenas Dilma Rousseff e o PT. Não lembrou que o governo também estará lá com seu lobby e que o “protesto” é muito mais do que um ataque ao governo de Dilma Rousseff: é um contra-ataque às manifestações que se recusam a ir embora e começam atrair a simpatia de muitos e o ódio de outros. O blog do “maior protesto da História do Brasil” passa uma mensagem perigosa e mistificadora, ao cooptar legítimos clamores da sociedade brasileira e misturá-los com forte oposição à atual administração. Ao tentar mostrar-se apartidário e aberto a todos, já enganou muita gente com seu trabalho de contrainformação primário.

É ingênuo acreditar que o dia não será aproveitado para “dar o troco” às mobilizações impressionantes que iluminam as noites de nossas maiores cidades desde junho. Que não será usado por todos que odeiam as transformações que levam aos caminhos da liberação do nosso povo. Eles estarão lá com suas bandeiras, suas caras pintadas e suas visões de mundo arcaicas. Tudo certo: vivemos numa democracia e todos têm o direito à livre manifestação. Vem aí a Operação Sete de Setembro. Que tem aliados nas redes sociais com a máscara do Anonymous. Mesmo quando a maioria dos ativistas da web já sabe que este movimento (ou a parte dele) no Brasil foi infiltrado pela direita e virou um contrainformante.

Todos devem estar preparados e cautelosos quando setembro vier. Aqui não cabem especulações, mas uma lição da História para o Black Bloc e todos os movimentos que ele defende e protege: o confronto com forças da extrema-direita é inevitável. E vai acontecer, mais cedo ou mais tarde. Aconteceu (e acontece) na Alemanha e vai acontecer aqui. Hoje o desafio é a “Operação Sete de Setembro”. Nada demais. Mas o futuro vai trazer para a cena os neonazistas e skinheads: as tropas de choque da extrema-direita. Se quisermos transformação, e não reformas que se dissolvem ao longo do tempo e da malícia de políticos, temos que varrer esses tipos de nossas cidades. Antes que eles acabem como as metrópoles europeias, que já lhes cederam espaço demais e agora parecem conviver muito bem com isso. Por acomodação ou medo.

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Sergio da Motta e Albuquerque é mestre em Planejamento urbano, consultor e tradutor