Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Da fragmentação à falta de entendimento

A quantidade de informações disponibilizadas nos mais diferentes meios na Era da Informação forçou a humanidade a realizar um movimento de divisão do conhecimento. Este processo não é novo. Mas no início dos tempos o conhecimento era algo unificado, não havia segmentação de conteúdo como conhecemos hoje. Os cientistas mais renomados da nossa História possuíam mais de uma profissão e geralmente uniam arte e ciência. Exemplos são Leonardo Da Vinci e Galileu Galilei. Atualmente, cada profissional responde por uma área. Este processo é fácil de ser verificado na Medicina – nas suas diversas especialidades – e no Jornalismo, quando os veículos separam os assuntos por veículos, editorias, público e classe social.

O que este fenômeno tem causado é uma dificuldade de entendimento. A Educação, inclusive, tem voltado aos inícios dos tempos ao propor disciplinas multi ou interdisciplinares. E por quê? Porque quando se segmenta muito, perde-se a visão do todo. Os conteúdos estão interligados. A tomada de decisão só é bem feita quando se avaliam os prós e contras considerando as diversas facetas: política, econômica, cultural, ambiental, social e científica, para citar algumas.

A política foi tomada pela fragmentação. Os assuntos federais são divididos em ministérios, que são divididos em secretarias. Os estados são administrados de maneiras diversas, de acordo com o partido dominante. E neste ínterim a visão do todo vai se perdendo. Tomam-se as decisões considerando poucas nuances, geralmente baseadas na lei do mais forte: quem pode mais, decide.

Economia do dia a dia

O mesmo acontece com os veículos midiáticos. Existe uma teoria científica que diz que o movimento do universo é de expansão e retração. Podemos transferir esta teoria para o que aconteceu com a Comunicação. Antigamente, um veículo diário impresso dava conta. Hoje, mesmo assistindo todos os telejornais, lendo os cadernos especializados e os blogs independentes, ainda não nos sentimos atualizados. Houve no mercado uma expansão consciente de títulos. Tudo leva a crer que estamos no período de retração, já que muitos veículos estão fechando as portas, mas que logo a expansão comece novamente.

É óbvio que parte desta sensação refere-se à omissão de informações importantes por parte da mídia comprada por personalidades da nossa política. Contudo, ao analisarmos uma cobertura jornalística, são tantas matérias publicadas sobre determinado assunto que o jornalista que escreve a sequência precisa fazer um flashback com o leitor: “nos últimos episódios de mensalão…”

Seria pedir muito ao leitor que o mesmo lembre todos os nomes dos corruptos do país. Ou da quantidade de processos que o Supremo analisa e arquiva. Que saiba se prevenir de todas as doenças, que aprenda a fazer empréstimos apenas na baixa dos juros ou ainda investimentos a curto ou médio prazo baseando-se nas informações de economia que obteve no ensino médio. É muito porque o leitor não consegue concatenar todas as ideias ao mesmo tempo devido a esta fragmentação. Aprende-se na escola sobre todos os presidentes, desde o regime militar, mas não se aprende a entender de economia para o dia a dia. O jornalista não tem tempo, conhecimento e nem espaço para explicar detalhes que o leitor teria que saber por outros meios.

Falta de informação, ideias descartadas

Isso leva a uma segunda constatação, que é a impossibilidade do leitor em analisar a mídia e desconsiderar os textos que são jabá. Se o veículo tem credibilidade com o leitor, a grande maioria dessa massa acredita nestas informações de olhos vendados. Logo, não precisa ser muito inteligente para manipular um pensamento massificado, nem se desviar de perguntas sobre a escolha de fontes e frases que foram editadas pelo veículo. Justamente porque essa dúvida jamais existirá na cabeça de uma maioria, já que é a mídia quem decide o que o leitor deve saber.

Parece inclusive que estamos programados a entender sobre determinado assunto até determinado ponto. Justamente porque os conteúdos não se entrecruzam. Para exigir e propor a tarifa zero no transporte público é preciso entender de política pública, investimentos a curto e longo prazo, dívida externa, déficits, folha de pagamento e tantos vieses que não caberia em um parágrafo. E essa falta de informação que faz com que grandes ideias sejam descartadas porque não teve ninguém com poder de argumentação suficiente para brigar por elas. Para opinar, precisamos antes de tudo aprender a pensar. E isso começa quando o popular conseguir finalmente criticar a mídia baseando-se em conhecimentos sólidos, das mais diversas áreas do conhecimento.

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Carina Pascotto Garroti é jornalista e mestranda em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp