Não sou uma grande frequentadora de shoppings, não desejo consumir marcas famosas e muito menos tenho interesse em participar de “rolezinhos” para me divertir e conhecer gente nova. Todavia, o meu desinteresse em participar do polêmico evento não impede que eu esteja atenta aos comentários e notícias dos últimos dias, principalmente nas redes sociais. Há quem diga que o “rolezinho” é coisa de vagabundo e que a defesa dele é feita por esquerdistas que querem levar o país para o fundo do poço. Do outro lado temos aqueles que acusam os shoppings de segregação racial. Também são feitos questionamentos, por exemplo: “Se os ‘rolezinhos’ fossem promovidos por brancos filhos da classe abastada haveria a mesma repercussão? Os shoppings tentariam barrar a entrada deles?”
A jornalista Vanessa Barbara defendeu o “rolezinho” na página de opinião do jornal americano The New York Times. Na página “Tendências/Debates”, da Folha de S.Paulo, a empreendedora e jornalista Tatiana Ivanovici diz que “a invisibilidade é o motor propulsor do ‘rolezinho’, que é um pedido de socorro: estamos aqui e queremos oportunidades”. E que “a proibição do ‘rolezinho’ só marginaliza nossa juventude”.
Fernando Canzian, repórter especial da Folha e editor do “TV Folha”, colocou em pauta a pobreza do Brasil e destacou valores da renda da população. De acordo com o artigo, 46% da população tem renda familiar de até R$ 1.356. Para Fernando, os “rolezinhos” nos shoppings e os protestos de junho de 2013 têm a ver com os números destacados.
A cultura do shopping center
Mino Carta escreveu, em seu editorial da CartaCapital: “De um lado, assistimos ao sonho de consumismo da juventude suburbana, que pretende ser admitida à tertúlia, a imitar heróis novelescos e a sociedade de Caras, em busca da afirmação pelo acesso às grifes. Do outro, o pavor de sempre, o calafrio a percorrer a dorsal dos privilegiados, na expectativa da rebelião das massas.”
A Veja São Paulo, numa reportagem de Juliana Deodoro e Silas Colombo, abriu espaço para a fala de moradores da periferia que participam dos “rolezinhos” e para o temor dos lojistas. Mariana Zylberkan, da Veja, também deu destaque aos participantes do evento. Ela informa que a repercussão dos encontros assustou adolescentes e que um grupo resolveu marcar “rolezinho” no Parque Ibirapuera para se divertir sem causar alarde.
Enfim, o que não falta é texto sobre este assunto. Não creio que shoppings sejam lugares apropriados para passeios de grupos com muitos integrantes. Provavelmente, locais abertos seriam a melhor opção. E até mais agradável. Entretanto, como dizer isso a uma população que foi educada para passear no shopping? As classes mais baixas continuam ganhando pouco, mas elas não deixam de frequentar centros de compras por causa disso. Basta utilizar o transporte público de São Paulo para ver a quantidade de pessoas que saem de seus bairros pobres e são despejadas aos montes no ponto de ônibus do shopping. A criança que não vai ganhar festa de aniversário comemora onde? No shopping! A mãe a leva para caminhar, comer e tomar sorvete no McDonalds. É para este lugar que muita gente que não viaja vai durante o feriado e férias. É lá que casais e amigos se encontram.
A cultura do shopping center é inculcada na formação de muita gente por aqui. Logo, não é estranho que os jovens escolham justamente este lugar para fazer “rolezinho”, por mais que seja incômodo para muitos. Se é certo ou errado, não sou eu quem vai decidir isso. Mas que não é por acaso, não é.
Links dos textos citados
Whose Mall Is It? – Vanessa Barbara
“Rolezinhos” em shoppings devem ser coibidos? Não – Tatiana Ivanovici
O rolê do Brasil – Fernando Canzian
Shopping center não é praça – Mino Carta
A escalada dos “rolezinhos” – Juliana Deodoro e Silas Colombo
“Não posso nem mais ir ao shopping que frequento”, diz organizador de “rolezinho” – Mariana Zylberkan