O rolezinho está prestes a se tornar uma grande causa célebre dos combatentes das efêmeras guerras culturais que têm transbordado das ruas para as “redes sociais” e vice-versa.
Ou talvez a polêmica e o movimento já tenham chegado ao seu ápice. Teriam sido paixões transitórias como os confrontos em torno do deputado Feliciano e a “cura gay”, do grande resgate de beagles, da irrupção do movimento ciclista, de cotas raciais etc.
O rolezinho tornou-se motivo de outro conflito estereotipado entre “esquerda” e “direita”. Seu “sentido é disputado”, como se dizia dos protestos de junho, por comentaristas e ideólogos.
De molecagem, no bom e no mau sentido, o “rolê” está sendo “ressignificado” como “Occupy Shopping” (como o protesto iniciado em Nova York contra a finança) ou como um paralelo de protestos que se ensaiam contra a Copa (“Não vai ter shopping”, “Não vai ter Copa”).
Claro que a iniciativa significante não parte dos garotos do rolê, mas de gente de esquerda. Para essa vaga esquerda, a repressão do rolê, ilegal, é evidência de racismo e do apartheid informal do Brasil, outro momento em que a elite branca ruim revela seu horror a pobres e crioulos.
Para a “direita”, o movimento seria um transtorno ao comércio e à paz pública. Para transeuntes menos reflexivos, um proto-arrastão, coisa de “maloqueiros”, típico insulto racista paulistano, adotado por todas as classes.
Confronto político
O rolê que deu origem à série, em Itaquera, teria juntado (incríveis) 6.000 garotos num sábado, 7 de dezembro; teve momentos de tumulto e uns poucos furtos. Outros foram marcados e realizados em shoppings da periferia.
Parecem juntar meninos que estudam numa Escola Estadual Professor Lonjura da Silva, adeptos de “street fashion” funk, “pardos” como a maioria de nós, em especial os mais pobres.
As convocatórias dos rolês sugerem que a intenção dos adolescentes não difere muito daquela de quem fazia o “footing”, o passeio rotatório nas praças de quase qualquer cidade entre os anos 1930 e 1960: namorar e fazer uma onda.
“Vamos colar no shop amanhã gente tem nada memo pra fazer, meninas levar as amiguinhas e os mlk a mema fita vamo cata mulher, fuma uns beck ve quem nunca viu pessoalmente é isso”, dizia a página do Facebook que convidava para um rolê.
“Ai vamo colar, no shop sem esses arrastão ai sem maldade, colar pra fikar suave tirar foto pegar mulher fumar maconha, bebe, e é isso, vamo que vamo.”
“Catá mulher” e “fumá uns beck” não têm o ar provinciano e reprimido do “footing”. Esses meninos são desencantados e cínicos em relação a suas expectativas reduzidas. Mas a ideia é a mesma, reciclada com os meios de um “flash mob” de 2003 ou de “primavera” política.
À parte discussões legais, o fato é que o rolê ameaçou cruzar fronteiras definidas na “limpeza étnica” que reservou o centro paulistano para os mais ricos, “zoando” costumes exclusivistas, o que dá combustível para o típico confronto político destes dias, comportamental, que passa longe de economia e de “questões de Estado”. Sabe-se lá se decola a “aliança” entre inconscientes de classe e ideólogos de esquerda. Mas desde 2013 há disposição para “causar”.