O acontecimento que ocorreu nesta segunda-feira (10/02), quando um rojão atingiu a cabeça de um cinegrafista da TV Bandeirantes, Santiago Andrade, foi comovente. Várias manifestações que têm acontecido neste Brasil desde junho do ano passado têm provocado celeumas e atentados. Foi o que aconteceu no dia 10. Um jovem chamado Caio Silva atacou (pelos seus relatos, talvez não intencionalmente) um representante da tradicional imprensa enquanto trabalhava.
Jornais de todo o mundo alegam a impunidade e o algoz cometido pelo jovem que matou um pai de família e atingiu a imprensa e a democracia. Mas, relatos jornalísticos hoje não são muito confiáveis quando o fato atinge a própria imprensa. É de se esperar e deve ser justo, que todo cidadão que cometa algum crime – além do mais, tirando a vida de outrem – pague pela sua ação, mas quando diz respeito a discutir juízos de valor no campo minado que é o da imprensa, na verdade aquele que paga pode ser também a vítima. Ou seja, o que é normal pode ser o avesso.
As manifestações integradas por jovens de classe média que reivindicam por melhorias na saúde, na educação e na política do país é mais do que um direito de liberdade em expressar o que os incomoda, e aliviar a insatisfação com os políticos brasileiros do país. Mas, o problema mais agravante é que elas deixaram de serem insatisfações para ser um campo de guerra onde a injúria passou de uma escala de apenas reivindicar para expressar a calamidade que o país vive hoje; passou a ser um campo de manifestações do Irã, onde rojões, armas, bombas e pedras tornaram-se a melhor arma para se fazer ouvidos por seus governantes. Porém, ações como essas, destroem os patrimônios e matam pessoas, pessoas como o cinegrafista, Santiago Andrade.
Quem é realmente o culpado?
As televisões, principalmente a grande Globo, não deixou em momento algum o jovem “matador” se pronunciar, falar da sua revolta, do seu posicionamento, agora ele virou um demonizado da própria imprensa, aquela [imprensa] onde cobria com maior empolgação as manifestações de junho, onde participava (também) falsamente da liberdade de melhorias. O único pronunciamento dele, do Caio Silva, foi em off, onde os repórteres descreveram o que ele disse, mas não o que ele pretendeu realmente falar.
Agora fica a grande questão, quem realmente é o culpado. Não estou falando da morte do cinegrafista nem da prisão do jovem Caio Silva, mas quem é o culpado de tudo isso? Se pensarmos os fatos na versão avessa, veríamos que se o Brasil tivesse em condições de pensar não na copa, mas na vida de milhares de brasileiros que morrem de fome, por não ter saúde, analfabetos por não terem educação digna, jovens como este, caricaturado pela imprensa, não estariam na rua para levantar a voz e pedir socorro e muito menos o pai de família, estaria na rua tentando retransmitir á população uma cena que expressa insatisfação, mas que expressa também, terror. Terror que mata, terror que incomoda.
São dois contextos que poderiam ser melhorados se a política brasileira atendesse as condições precárias do Brasil e se os jornalistas fossem amparados pelo governo de forma que não ferisse a sua liberdade de voz e de vez. A maneira que realmente pudéssemos nós jornalistas, viver em uma democracia plena que elevasse o nosso país a uma situação de governança humana e digna.
Retorno aquilo que a imprensa não se perguntou nas linhas de seus jornais. Quem realmente é o culpado? Será que é o jovem? Quem realmente paga por isso? O papel do jornalista não é fazer juízo de valor, é questionar e se perguntar assim como a família do Caio Silva, realmente ele é o culpado? Ou existe uma questão mais funda por trás de tudo isso? E isso apenas comprovou o que se estrutura atrás das cortinas dessas manifestações. Somos um país onde o culpado não se acha e a culpa não se encontra.
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Tamara Cristina Bastos Santos é estudante de Jornalismo, São Luís, MA