Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Modus in rebus’

O pesar suscitado pela morte do cinegrafista Santiago Andrade é compreensível. Os jornalistas estão indignados, porque não é de hoje que têm sido hostilizados por policiais e manifestantes. Assim, é num quadro de forte emoção que despontam propostas para coibir a escalada de violência que assombra o país.

É preciso, no entanto, considerar o contexto e equilibrar os ângulos de análise. O contexto nos mostra um tempo de violência crescente, nas ruas, nos estádios de futebol, nas explosões de ira popular nos bairros, nas cidades, no mundo rural, na crueldade desatada contra mulheres, gays e crianças. Destaca-se aí, em particular, a ação da polícia. Ela bate, fere, tortura e mata de uma forma demencial, o que se evidencia nos índices que aferem suas práticas.

Fazer dos manifestantes bodes expiatórios, acusando-os de formar “organizações criminosas” e de praticar “terrorismo”, não é a melhor forma de homenagear Santiago Andrade nem de aperfeiçoar a democracia.

E é disso que se trata: homenagear o homem que morreu e melhorar a democracia em que vivemos. Se este for o objetivo, é preciso seguir o conselho dos antigos, formulado por Horácio: modus in rebus – medida própria para fazer as coisas.

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Daniel Aarão Reis é professor de História Contemporânea da UFF